A dinâmica da amizade ou, talvez, não...
Patrícia Mingacho
<p>Se as idas ao cinema têm escasseado, as poucas vezes que por lá paro dão-me pouca vontade de voltar e fica a sensação da perda de sensibilidade face à sétima arte... Mas, na vida, tal como no cinema, as crenças absolutas não são duradouras e sensações de descontentamento e desencanto duram o tempo que duram mas não são eternas...<br /><br />Eis que, numa tarde de quarta-feira, aproveitando os preços baixos do cinema El Corte Inglês, decido, apesar de pouco saber do filme, espreitar "Pequenas mentiras entre amigos" e, desde o primeiro momento fiquei, apesar do cansaço de fim de tarde, presa à tela...<br /><br />Se o cinema celebra a vida este é, sem dúvida, um daqueles exemplos do cinema realista francês, onde o realizador escalpeliza a psique humana, de tal forma que o desvendar de mistérios é pensar em cada um de nós e, no turbilhão de ideias e de confusões, está também lá um pouco de nós e, por isso, rimos com as personagens mas, quando tudo parece desmoronar-se, ficamos com um nó na garganta que facilmente dá lugar à lágrima...<br /><br />Há em toda aquela construção de personagens um pouco de todos nós e encontrar aqueles amigos que se reúnem é vermo-nos enquanto personagens de grupos que, por vezes, são empurrados para situações semelhantes...e, se na amizade reside o egoísmo é a perda que nos faz perceber os erros e, continuar na mesma caminhada, com o mesmo passo, é um abismo que será, um dia, inultrapassável...<br /><br />E, se as paisagens são belas, a profundidade da lente que capta cada personagem faz-nos ficar siderados com tamanha beleza: Marie (Marion Cotillard), o seu olhar, um misto de encanto exterior e desencanto interior, é estonteante... <br /><br />Viajar por aquelas paisagens ao som de uma banda sonora maravilhosa, faz-nos acreditar que o cinema é ainda uma arte e grandes obras, que nos colam ao ecrã, irão sempre existir...<br /><br />Deveras surpreendente! E fiquei deveras contente por perceber que o cinema europeu é ainda capaz de nos presentear com obras densas e que é possível sair de uma sala de cinema sem uma sensação de vazio...</p>
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