Um bom filme histórico português. a realização e os actores portugueses estão de parabéns
Ivo Miguel Barroso
<p>Um bom filme histórico, baseado no livro de Frederico Delgado Rosa, neto de Humberto Delgado, numa investigação histórica séria. <br /><br />Uma boa surpresa, sem prejuízo de o filme perder fulgor para a parte final, quando os arguidos testemunham em tribunal. <br /><br />"Operação Outono" era o nome de código da operação que a PIDE levou a cabo, para atrair e assassinar Humberto Delgado.<br /><br />Na essência, trata-se de um crime político, contra um opositor político, que, após não lhe ter sido reconhecida a vitória nas eleições presidenciais, pretendia fazer uma revolução em Portugal. <br /><br />Na História, há vários registos de crimes de Estado desse tipo: designadamente, o assassínio de Trotsky, pela URSS de Estaline; de Che Guevara pelos EUA; e, mais recentemente, sem prejuízo de ter cometido actos terroristas hediondos, de Bin Laden. <br /><br />O filme aparece narrado em "flashback", com o julgamento de 1978-1981, no Tribunal Militar de Santa Clara.<br /><br />Creio que retrata bem Humberto Delgado, pouco previdente, bastante incauto.<br /><br />Retrata bem a lisonja dos agentes da PIDE, a psicopatia e o cinismo dos agentes da PIDE, em particular de Rosa Casaco. <br /><br />O agente "bufo" Prof. Mário de Carvalho chegou a ter boas relações com DELGADO. Na verdade, era um agente da PIDE.<br />Depois, inventaram um suposto advogado oposicionista e atraíram Humberto Delgadode Paris para Marrocos e, depois, para Espanha, supostamente para se encontrar com militares portugueses que estariam dispostos a realizar uma revolução. Na verdade, era uma armadilha. <br /><br />Nesse encontro, os agentes da PIDE assassinam Humberto Delgado, que trazia consigo uma pistola; e a sua secretária, que o acompanhava.<br /><br />É também descrito com pormenor o transporte e a ocultação dos cadáveres por parte da "Brigada" da PIDE, que "improvisou".<br /><br />A Oposição em Argel logo denunciou o assassínio de Humberto Delgado.<br />As autoridades espanholas descobriram os cadáveres e, apesar de estarem em ditadura, realizaram uma boa investigação e divulgaram para a imprensa.<br /><br />O cadáver foi reconhecido, devido a um anele de ouro, com as iniciais "HD" (Humberto Delgado) e as asas da aeronáutica. <br /><br />A PIDE mandou destruir os registos da "operação Outono".<br /><br />No julgamento de 1978-1981, prevaleceu em tribunal uma versão que atribuía a autoria do crime a apenas um dos agentes, que não teria agido com a "cobertura" dos restantes (v. g., a versão de Rosa Casaco, que depôs no processo, em Madrid, mentindo, dizendo que não tinha dado as ordens). A intenção teria sido a de um rapto ou de atrair Delgado para Portugal e, aí, o prender. <br />Apesar de o Tribunal ter recebido os documentos do processo de Badajoz, não os terá tido devidamente em conta. <br />Essa versão é falsa, segundo a reconstituição histórica. Tratou-se de um plano maquiavélico, levado a cabo com psicopatia e frieza de ânimo. <br />Fica, pois, a suspeita de que o tribunal não foi imparcial.<br />A sentença final alinhou na versão do rapto, do disparo de apenas um tiro e condenou apenas um dos autores do crime, como "bode expiatório" e condenou a maioria dos arguidos a crimes de falsificação de documentos. <br /><br />Ficam várias frases do filme:<br />"As decisões superiores não se discutem"; "(...) em defesa do interesse da nação"<br /><br />Os agentes da PIDE, ao entrarem na fronteira, dizem: "boa gente".<br /><br />A versão do crime de 13 de Fevereiro de 1965 não é narrada logo, mas apenas no final do filme. <br /><br />Como se disse, a parte dos depoimentos falsos sobre os acontecimentos é a parte mais monótona (alegando ter havido um combate corpo a corpo).<br /><br />É de notar o muito bom desempenho dos protagonistas; em particular, do personagem que faz de ROSA CASACO.<br /><br />Realização muito boa de Bruno De Almeida, que também escreveu laboriosamente o argumento, com base no livro aludido.<br /><br /><br />Nota: 17 valores. <br /><br />Ivo Miguel Barroso</p>
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