Segredos do cinema chinês
Miguel Bordalo
É engraçado como a história é feita de ricochetes infinitos, que no fim degradam a verdade a tal ponto que ninguém sabe distinguir o princípio do fim. Certamente por ignorância, a crítica esforçada, reconheço, de Kathleen Gomes comete um erro que deve posicionar os críticos de cinema ao patamar de um qualquer fã de cinema como eu, de um qualquer comentador político ou desportivo sem qualquer responsabilidade efectiva sobre aquilo que diz. Quando Kathleen na sua crítica ao “House of the Flying Daggers” diz: “quando o novo filme de Zhang Yimou aplica o "bullet time" às armas de que dispõe, descrevendo a trajectória de flechas e punhais suspensos no ar como se estes tivessem uma câmara colada à cauda, parece legítimo que depois da aculturação sistemática (para dizer o mínimo) do cinema asiático pelo cinema americano (via "Matrix", via Tarantino, via...), aquele quisesse responder na mesma moeda.” Ela está a ser revisionista da história do cinema, o acompanhamento dos armas em câmara lenta, ou sobre vários prismas não é uma influência do cinema americano, de Matrix ou Tarantino, mas sim o contrário! Aliás não seria muito difícil reparar nisso. Este novo cinema de acção dos EUA é sem sombra de dúvidas mais um aspecto herdado das culturas orientais, e nunca o contrário! Como aliás todo o cinema americano é um “melting pot”. Nem os westerns estão livres de algumas cópias do cinema italiano!<BR/><BR/>Passando ao filme, entendo porque é que algumas pessoas não gostaram dele, quando saio de um filme normalmente não gosto de pensar noutros, mas neste caso a comparação é inevitável e o “Herói” é muito melhor que o “House of the Flying Daggers”, sob quase todos os aspectos, principalmente na história, no jogo das cores para definir linhas dimensionais, estados de espírito, etc... A verdade é que adorei o filme à mesma, o jogo das cores não é o mais importante neste filme, como não é no “Herói”, é o síndroma do cineasta especializado que faz com que se critique este aspecto. É uma estória simples de amor, como a cultura chinesa tanto aprecia, cheia de desencontros e estados de honra, em que o amor supremo é o que se sacrifica mais, o que naturalmente acaba sempre da mesma maneira. Este filme é uma história de amor entre espiões mas pode ser facilmente rotulado como um filme de acção, e aí os chineses reinam! Sabem fazer tudo bem, têm os actores para isso, e a cultura que fascina quem quer ser fascinado!<BR/><BR/>Miguel Bordalo<BR/><BR/>Texto previamente publicado em http://pastelinho.blogspot.com
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