Longe das epopeias mais ou menos bíblicas que vinham de Hollywood e quejandos, aqui estava um filme que nos conseguia transportar para aquele tempo e para o testemunho fundamental dos evangelhos que apontava a melhor direcção a seguir. Um contraste impressionante, duma coragem e amor inexcedíveis. E, à medida que mais tentativas iam sendo feitas sobre o mesmo tema, várias foram seguindo a mesma preferência pelo rigor da Palavra; e todas (O Evangelho segundo São João de Phillip Saville, A Paixão de Cristo de Mel Gibson, A Paixão de Michael Offer, O Nascimento de Cristo de Catherine Hardwicke) terão sabido colher, não tenho dúvidas disso, as lições desta obra pioneira de Pasolini. <br /> <br />Obra de mestre, dum grande mestre. <br /> <br />É certo que parece um pouco antiquado em certos aspectos, e que parte do princípio que já sabemos a história de antemão (o que até é verdade por estas bandas); mas há coisas únicas e inolvidáveis nesta obra-prima. Cito duas: a escolha dos rostos, que são o que preenche a tela constantemente, e as expressões que neles se vêem, como que um caleidoscópico afresco de emoções; e a sensação que se tem de que a mensagem de Jesus é incompreensível para a maior parte daqueles que a ouvem, a começar pelos futuros apóstolos. Nunca vi tais coisas, em nenhum outro filme do Novo Testamento, tão clara e poderosamente.