A América em quatro paredes
Patrícia Mingacho
Por vezes sento-me numa sala de cinema, saio e pouco aconteceu…mais um filme que vou acrescentando à minha lista interminável de filmes que passaram pela minha vida tal como tantas pessoas…pouco acrescentam emocionalmente mas somam tempo à vida que passa… Confesso que ontem o cansaço era grande mas, sabendo que era o último dia que o filme estava em exibição decidi entrar, já que o tão badalado desempenho de Anne Hathaway mereciam que despendesse umas horinhas de sono e uma certa dose de tranquilidade…Confesso que o filme me surpreendeu muito pela positiva e pela atmosfera menos pesada do que aquela que estava à espera ou não fosse o filme rodado em torno de uma ex-toxicodependente e dos traumas familiares a ela associados… O filme “O casamento de Rachel” é muito mais do que isso, embora seja também pincelado por doses de desespero que parece que entram em nós e, por breves momentos, também nós choramos com eles…“O casamento de Rachel” é a grandiosidade da vida, é a celebração da vida com todas as coisas belas e hediondas com que somos confrontadas…Este filme é a América multi-racial que muitos europeus não conhecem ou fingem desconhecer mas é dessa América que brota a tolerância e faz com que tenhamos um negro numa casa que se chama branca….É a América onde asiáticos, negros, brancos se presenteiam com ternura e felicidade porque, tal como diz Rachel “A grandiosidade da vida não é medida por aqueles que nos amam mas sim por aqueles que conseguimos amar”… É a festa que ali se celebra mas, apesar de tudo há sempre a solidão, há sempre aquele inferno que habita o nosso pensamento e que muitas vezes é difícil esquecer… Esta é a história de uma família cujas personagens são os estereótipos de muitos de nós e nela se condensam muitas verdades tantas vezes escamoteadas…O filme é completo, a forma como o realizador escalpeliza as personagens é revelador da sua capacidade enquanto dissecador de almas…A música que entremeia a festa, os movimentos das personagens, a câmara que os segue e que, para além de meros espectadores, nos faz sentir como se também nós fôssemos convidados para aquela festa que pertence ao mundo…esta é uma festa que todos nós quereríamos ter mas se deixássemos a irmã que causa problemas esquecida, a festa seria um pouco desenxabida…Esta é uma história de cumplicidades mas também fala da incapacidade que, por vezes, temos para lidarmos com o que de diferente existe nos outros…A vida, a América está toda ali dentro… e nós, como meros espectadores, vamos acreditando que o mundo poderia ser feito aquela medida, basta que houvesse mais abertura de espírito, basta que houvesse mais capacidade para abraçar a diferença como algo que só nos acrescenta, basta que acreditássemos que o desespero não mora sozinho e a perseverança para sermos melhores é a melhor arma para a sua derrota…
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