O filme "Nitram", com argumento e realização do australiano Justin Kurzel, é um intenso e sombrio drama biográfico que nos coloca perante Martin (Nitram é o anagrama do seu nome), o atirador que, em 29 de abril de 1996, num acto tresloucado, assassinou 35 pessoas e feriu outras 23, em Port Arthur (Tasmânia). <br /> <br />Martin (visceralmente encarnado por Caleb Landry Jones, que lhe valeu a distinção como melhor actor no festival de cinema de Cannes) é um jovem adulto solitário e auto-destrutivo, que vive na dependência dos ambivalentes progenitores idosos (um pai permissivo e uma mãe fria), devido a patologia de indole psiquiátrica (que se manifesta através de comportamentos infantilizados e desajustados, que oscilam entre a apatia/agressividade e angústia/"felicidade nonsense"). <br />Apesar dos periódicos "altos e baixos" encontra-se relativamente estabilizado ao nivel da sintomalogia, fruto do controle medicamentoso e da constante contenção de riscos levada a cabo pelos pais. Até ao dia em que, numa das suas despropositadas deambulações pelo bairro, conhece uma excêntrica milionária (mais velha e algo demente) e decide ir coabitar com ela na sua decrépita mansão. <br /> <br />Após a mudança de domicilo inicia-se uma tensa/descontrolada caminhada, sem retorno, em direcção à tragédia anunciada. <br />Todavia, o realizador jamais tenta inserir-nos na mente de Martin (preferindo posicionar-se e, por consequência, posicionar-nos, como meros observadores) e/ou efectuar qualquer enquadramento sociológico que justifique o eclodir de tal conduta comportamental. "Limita-se" a filmar, sem tentar "explicar" (opção que apresenta vantagens e desvantagens).