Tudo se passa em Bogotá, na Colômbia. Jessica (Tilda Swinton) percorre o país algo perdida, como qualquer turista o pode estar, a ouvir insistentemente um barulho na sua cabeça. “Como se fosse uma bola de cimento a cair num poço de metal rodeado de água do mar”. Acorda com esse barulho na primeira sequência do filme, que é magistral: em poucos minutos, cruza o ecrã e vai ocupando todos os cantos, silenciosa e na penumbra. Depois, a sua presença alienígena, que facilmente se transforma em abstracção, vai existindo como delegação, talvez, do espectador e, certamente, do realizador. Ela vai comunicando com esse país que lhe é estranho tendo sempre aquele som na cabeça. Através dela, o realizador Apichatpong continua a sua indagação e experiência sobre a comunicação, a memória e as imagens. Vasco Câmara, PÚBLICO