Holy Spider
Título Original
Realizado por
Sinopse
Jornalista em Teerão (Irão), Arezoo Rahimi chega à cidade sagrada de Mashhad para investigar a morte de várias prostitutas. Segundo o que as autoridades conseguiram apurar, as mulheres são capturadas por um homem de motorizada que as leva consigo e estrangula, abandonando os seus corpos em descampados. O filme acompanha a última noite de uma das suas vítimas e os esforços da jornalista em encontrar pistas que identifiquem o assassino. Mas, à medida que avança no caso, ela vai-se deparando com alguma resistência dos agentes da polícia, que consideram o assassino uma espécie de justiceiro que os ajuda a limpar as ruas da criminalidade e do pecado.
Com o problema da misoginia como tema de fundo, este “thriller” tem realização de Ali Abbasi (“Na Fronteira”) e é baseado na história verídica de Saeed Hanaei, um pedreiro e ex-veterano de guerra que considerava ter como missão divina acabar com a prostituição e que, entre 2000 e 2001, foi responsável pela morte de 16 mulheres. “Holy Spider” foi seleccionado para competir no Festival de Cinema de Cannes, onde Zar Amir Ebrahimi conquistou o prémio de melhor actriz, tornando-se a primeira iraniana a receber esse galardão. PÚBLICO
Críticas Ípsilon
A invenção da intimidade no Irão: uma revolução
Holy Spider repõe uma realidade sempre elidida nos filmes iranianos, inventado uma normalidade: a normalidade dos corpos, da ternura, do sexo, da violência.
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Holy spider
Fernando Oliveira
Ali Abbasi gosta de filmar histórias de inquietação, personagens obsessivos mas também perdidos nessa obsessão. E gosta de misturar géneros, melhor escrevendo gosta de contaminar cada género com um cinema social que quer dizer-nos muita coisa: era assim em “Na fronteira” em que num conto ancorado no folclore escandinavo nos dava também a ver o medo que assola a Europa por quem vem de fora; é também assim neste “Holy spider” em que um thriller sobre uma investigação jornalística sobre um homem que no início deste século assassinou 16 prostitutas na cidade santa de Mashhad no Irão (aconteceu mesmo), e que Abbasi contamina com outro tipo de thriller, o social, ou como uma sociedade esmagada pelo medo facilmente aceita e banaliza o mal (também vimos isso recentemente em “A Lei de Teerão” de Saeed Roustayi). Khatami era o presidente do Irão, tenta aligeirar as leis.
Saeed é pedreiro, combateu na guerra com o Iraque, acha que Deus exige muito mais dele do que construir casas e assim começa a matar mulheres que se prostituem à noite nas ruas da cidade, leva-as para sua casa e estrangula-as, depois abandona o corpo nas redondezas e avisa um jornalista sobre o local.
Arezoo Rahimi é jornalista e mulher numa sociedade que convive mal, muito mal, com essa condição, vem à cidade investigar os assassínios mas traz um “peso” com ela. É notável a forma como Abbasi enleia as duas histórias, e nesse enleamento define um “olhar” também sobre a vida num país islâmico, mas muito mais como essa condição “obriga” aos comportamentos dos personagens.
São aquelas mulheres que a pobreza leva à prostituição e esta à dependência das drogas; é a forma como filma a demanda de Saeed, a caça e a morte, e ao mesmo tempo se prende na sua vida familiar, e na perturbação que resulta da “exigência” que lhe “chega” de Deus; é o medo que acompanha sempre Arezoo, ela é uma mulher.
E depois de Saeed ser preso, e transformado em herói pela populaça, Abbasi não tem medo de mostrar o inquinamento dos poderes que mandam no Irão (foi proibido de lá filmar, filmou na Jordânia), Saeed morre da mesma maneira como as mulheres que assassinou.
E é perturbante como Abbasi devolve ao cinema iraniano o corpo, e o sexo, dos seus personagens. Acostumados como estamos ao aludido, ao sussurrado e dissimulado (mesmo no cinema iraniano feito fora do país) vermos os corpos dos personagens seminus ou a praticar o sexo causa estranheza. E esta liberdade tange até a violência emocional. Angustia-nos. Um filme importante. (em "oceuoinfernoeodesejo.blogspot.com")
4 estrelas
José Miguel Costa
O grotesco "Border" (um dos meus filmes favoritos de sempre) e as séries "Chernobyl" e "The Last Of Us" (o grande sucesso do momento da HBO), são motivos mais que suficientes para já idolatrar o realizador iraniano-dinamarquês Ali Abbasi. Portanto, não será de estranhar que tivesse a expectativa nos píncaros em relação à sua mais recente longa-metragem, "Holly Spider". Possivelmente, por essa mesma razão, apesar da indiscutível qualidade da mesma (pese algumas debilidades que possui ao nível do argumento, nomeadamente a ocorrência de inúmeras coincidências implausíveis no decorrer da acção), no final do seu visionamento não fiquei completamente "saciado". Baseado no caso verídico de um serial killer (veterano de guerra reformado que, entre 2001 e 2002, matou aleatoriamente, através de estrangulamento, 16 prostitutas na cidade sagrada de Mashhad, com a justificação de estar limpar, em nome de Alá, as ruas da pecaminosa devassidão), "Holly Spider" é uma espécie de thriller policial neo-noir (que consegue manter uma tensão constante, mesmo que saibamos desde o inicio qual a identidade do vilão), saturado de imagens cruas (filmadas com altos níveis de contraste e potenciadas por uma banda sonora opressiva) de assassinatos violentos (o que lhe tem valido - injustas - duras criticas). Pelo contrário, a segunda protagonista do filme (uma jornalista de Teerão - encarnada pela excelente Zar Amir Ebrahimi, vencedora do prémio de melhor actriz no Festival de Cannes - que, perante a impassividade, provavelmente deliberada, das autoridades judiciais e religiosas, decide iniciar por sua "conta e risco" a caça ao malfeitor) é uma personagem fictícia. Introduzida com o objetivo de denunciar/expôr a mentalidade religiosa retrógrada e a misoginia de uma ultra-conservadora sociedade patriarcal (que chegou ao ponto de glorificar os actos deste homem).
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