Em Junho de 1968, a feminista radical Valerie Solanas disparou sobre Andy Warhol, ferindo-o gravemente. Durante o interrogatório policial, emergiu o seu passado: vítima de abuso sexual, Solanas detestava os homens e financiava os seus estudos prostituindo-se. Chegada a Nova Iorque, escreveu vigorosos panfletos feministas, entre os quais o célebre manifesto Society for Cutting Up Men (SCUM). Andava pelas ruas e pela Factory de Warhol, onde pululava uma fauna de inadaptados e parasitas, brilhantes e patéticos. Embora Mary Harron (a realizadora do magnífico "American Psycho") faça reviver em "Ela Baleou Andy Warhol", com lucidez e indisfarçável ternura, esse pequeno mundo da pop, dos travestis e dos junkies da Factory e toda a sua decadência chic, o olhar mais interessado vai, obviamente, para Valerie Solanas. Quem era ela? Lésbica radical, feminista fundamentalista ou artista falhada? A interpretação fabulosa de Lili Taylor faz questão de não nos dar uma resposta. Para a "petite histoire", saiba-se que Lou Reed não permitiu que a realizadora utilizasse canções dos Velvet Underground no filme; John Cale, pelo contrário, não colocou reticências e até compôs a banda sonora original.