Filme muito monótono sobre a condição humana
Ivo Miguel Barroso
A história em si, independentemente como é contada, é muito mais interessante do que o filme. <br />a) O Realizador e o guionista merecem um raspanete, por terem encontrado uma pérola, mas não a saberem tratar devidamente. <br />A tradução do título do filme para Português é um erro de “casting” completo: não se vê paixão nenhuma desde o início; nem o pecado da cobiça. O título seria “Misericórdia” à letra, ou “Expiação” (“Mercy”), e não enganaria ninguém. <br />No início do filme, achei que COLIN FIRTH era uma má escolha para o actor principal. Só no final do filme percebi qual era a ideia. <br />Em termos cénicos, a acção é parada, do início ao fim; com um tom disfórico, melancólico e música a condizer. O filme é aborrecido de ver; é uma pasmaceira, do início ao fim, nos preparativos e durante a viagem. <br />Há constantes “flashbacks” e até uma cena fantasma, com a mulher (que estava no Reino Unido) no barco. <br />A cena mais conseguida é quando o velejador Donald decide fazer batota, apontando para o mapa. <br />Quanto ao final, já se percebeu que o suicídio não é o ponto forte do realizador: já em “Anna Kareninna”, a cena estava mal conseguida. Desta vez, ainda está pior: <br />i) em termos dramatúrgicos, o suicídio (ou a morte de uma pessoa) geralmente é o clímax de algo (há excepções, como o suicídio de Pedro da Maia, n’Os Maias, de EÇA DE QUEIROZ) que vai em crescendo. <br />Ora, o filme é uma pasmaceira. <br />ii) Uma vez que se trata de uma adaptação e tudo leva a crer que se trata de suicídio, premeditado, devido a sentimentos de culpa, depressão e outros (o amor pela família: se voltasse/desistisse, perderia a casa hipotecada e, devido à fama que pretendia atingir, e atingiu efemeramente nos “media”, seria “crucificado” pela Opinião Pública. <br />Ora, o suicídio nem sequer é filmado. E, numa adaptação, é “sugerido” como causa da morte; o que não se compreende. <br />Há ainda o pormenor, não acautelado e inverosímil, de a barba se manter sempre por fazer. Mas, que diabo, praticamente 9 ou 10 meses no Mar Atlântico, a tendência seria para deixar a barba e o bigode crescerem. <br />b) Independentemente destas críticas, a história poderia dar um excelente filme. <br />Donald tinha o desejo de, embora fosse velejador amador, alcançar a fama. <br />Por isso, arriscou demasiado, ao levar um barco, que não estava ainda em condições, fazer a volta ao mundo em circum-navegação; isto ao ponto de hipotecar a casa, caso desistisse (com vida). <br />Depois, enfrenta um dilema; revela-se a influência cristã do “pecado da dissimulação”. <br />Por amor à Esposa e aos 4 filhos, e também por sentimentos de culpa, e de frustração, por não ter conseguido o objectivo (“o passo era muito maior do que a perna”), comete suicídio. Queria a fama; acabou por pagar com a vida não ter atingido o objectivo a que se impôs, sob pena de ter reflexos financeiros negativos na sua família. <br /> <br />1,25 estrelas
Continuar a ler