Do universo celestial ao Universo familiar
Pedro Brás Marques
Quem pensar que n’ “A Teoria de Tudo” vai encontrar respostas dramatizadas sobre a origem do Universo ou questões sobre espaço-tempo, irá ao engano. Para isso, é melhor ir ver o “Interstellar”… Porque, aqui, não estamos no domínio do infinitamente grande, mas do microcosmos que é uma família onde o elemento agregador é o Amor. <br />Este é um filme sobre um casal peculiar. Não só porque um dos elementos sofre duma terrível doença, como esse mesmo elemento é, basicamente, uma das poucas estrelas mediáticas que a Ciência produziu. Stephen Hawking, é dele que se trata, é um dos cientistas mais facilmente identificáveis em qualquer parte do Mundo, muito por via dos efeitos da doença de que padece, mas também pela forma como conseguiu descomplexar os mundos da Física e da Astronomia para o cidadão comum. Não esteve só, é certo, pois Carl Sagan e Hubert Reeves, só para citar dois sucedâneos, tiveram igual mérito. Mas o que Hawking conseguiu foi algo de verdadeiramente sobre-humano: continuar os seus estudos, escrever e criar uma família estando praticamente paralisado. Um cérebro genial preso num corpo paralisado. Mas não o conseguiu sozinho. Aliás, nem o conseguiria. Ele saboreou uma fatia da felicidade porque teve o amor da mulher que com ele viveu três décadas e que lhe deu outros tantos filhos. O papel de Jane no casamento foi fundamental e a sua abnegação e sacrifícios pessoais em prole do destino maior de Hawking é absolutamente notável. E é da intersecção destes dois universos que nasce…tudo. É óbvio que tal como o cientista sobreviver à doença que o atingiu era quase uma improbabilidade física, também a longevidade daquele casamento se revelava impossível de ser eterna. Porque, como sabemos, até as estrelas morrem. <br />Não é uma história fácil de contar, mas James Marsh conseguiu dar boa conta do recado. Ou quase… A partir de certa altura, escorregou para o melodrama e cenas há que são completamente escusadas, a não ser que o objectivo fosse capitalizar na emoção do espectador. Aquele momento, próximo do final, em que ele se “levanta” para apanhar a caneta, não lembra ao Diabo… O que vai aguentando o filme são, efectivamente, as interpretações, em especial a de Eddie Redmayne, que tem andado a saltitar entre cinema e televisão (“Os Pilares da Terra”) e que tem, aqui, um desempenho fenomenal, a fazer lembrar um outro, o que deu a Daniel Day-Lewis o seu primeiro Óscar em “My Left Foot”. Mas seria injusto esquecer a notável interpretação de Felecity Jones, num papel contido e falsamente secundário. <br />“A Teoria de Tudo” perde um pouco por duas razões. A primeira, já se disse, pelo pecadilho do melodrama. A segunda, por ter mostrado receio em abordar as questões mais científicas. Aliás, julgo que teria sido brilhante um contraponto expresso, e não tácito como acontece, entre o que é a imensidão do universo celestial e a complexidade do universo familiar, jogando com as estrelas, os planetas e os satélites que existem em ambos. Não arriscando, não deixando a zona de conforto, naturalmente que o resultado final se ficou por uma escusada mediania.
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