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Colo

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Drama 136 min 2017 M/16 15/03/2018 POR

Título Original

Colo

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Sinopse

Quando o pai fica desempregado, a mãe vê-se subitamente sobrecarregada com todas as despesas familiares. Por causa disso, arranja um segundo emprego, o que a desgasta ainda mais e lhe retira tempo para a família. Descurada por um pai desalentado e uma mãe totalmente esgotada, a filha adolescente revolta-se.
Em competição no Festival de Cinema de Berlim, um filme escrito, realizado e produzido por Teresa Villaverde ("Os Mutantes", "Água e Sal", "Transe", "Cisne", "Termómetro de Galileu") sobre a desintegração das famílias afectadas pela crise económica. No elenco encontramos João Pedro Vaz, Beatriz Batarda, Alice Albergaria Borges, Tomás Gomes, Rita Blanco, Simone de Oliveira e Clara Jost (filha da realizadora), entre outros.
No âmbito da estreia de "Colo", em Março de 2018, foi lançada a obra "Ensaio", de António Júlio Duarte, com fotografias da rodagem. PÚBLICO

Críticas Ípsilon

O que está a acontecer às nossas vidas

Jorge Mourinha

Duro, difuso, comovente, perturbante: Colo não é um filme da crise, na crise, sobre a crise, é um filme sobre nós, ontem como hoje.

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Às escuras

Vasco Câmara

A crise pertence-nos. É o navegar às escuras por uma experiência interior que é tão desarmante neste (felizmente) imperfeito Colo. Sobrevive ao filme da crise.

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Críticas dos leitores

Vale a pena ver, mas...

bg

O filme é bonito, respirado, com tempo. <br />Conta a história de uma família. Não a explica, nem oferece uma tese. A crise, a pobreza e a falta de dinheiro, não explicam aquele desafecto entre família e amigos. <br />Relações desestruturadas, um vazio imenso tão do 'espírito do nosso tempo' em que todos estão 'à toa' e ninguém sabe para onde vai. <br />Momentos marcantes, como aquele 'travelling' final da casa junto ao rio. Uma das críticas mais 'objectivas' que se pode fazer ao filme tem que ver com a direcção de actores. Ou com a representação ('acting', não 'over-acting') que aparece constantemente pelo filme todo - como ainda acontece em vários filmes europeus... Sejam actores ou não-actores, estamos sempre a ver representar. Não temos nem a 'espontaneidade' de quem não é actor, nem a 'construção da personagem' de quem é actor. <br />Os papéis não são fáceis. O pai vai bem, a mãe também. Só que as 'miúdas', a filha do casal e mais ainda a amiga da filha, as suas deixas são muitas vezes artificiais, coladas, muito raramente 'suas', apanham sustos que não são sustos, etc.. Ou, num outro exemplo: como pressentimos imediatamente, ainda antes sequer de falar, o actor naquele pescador que está amanhar o peixe no quintal da casinha junto ao rio. Na cena, nas falas, estamos sempre perante um actor que está a fazer de pescador... <br />Que bom seria os realizadores serem mais exigentes na direcção de actores. Dá ideia que algumas novelas estão já muito mais avançadas... <br />Neste registo de representação mais 'naturalista', vale a pena seguir o trabalho de João Canijo. E realizadores e directores de actores 'naturalistas' deste país: vejam e estudem o filme 'Sangue do meu sangue' de João Canijo. Está lá o ensinamento sobre as linhas de uma representação 'naturalista'. <br />Então talvez desapareçam os arames dos actores e fiquem apenas as personagens, as pessoas-personas.
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3 estrelas

José Miguel Costa

A crise económica que se abateu sobre este cantinho à beira-mar plantado teve um aspecto positivo (não, não sou um ignóbil capitalista neo-liberal), na medida em que forneceu "nutrientes" ao cinema luso para "florescer", apesar da míngua de financiamentos. Poder-se-á citar como exemplo de tal premissa uma das estreias cinematográficas da semana, "Colo" - escrito, produzido e realizado por Teresa Villaverde -, bem como recordar alguns títulos recentes, alvo de reconhecimento internacional, nomeadamente, "Mil e Uma Noites" (Miguel Gomes), "São Jorge" (Marco Martins) ou "Fábrica de Nada" (Pedro Pinho). <br /> <br />Colo, uma obra minimalista que segue os cânones do designado realismo anti-naturalista, não brada cobras e lagartos contra a crise em "tempo de troika(s)", não procura os culpados e/ou pretende traçar "rumos", "limita-se" a expor-nos, de um modo subtil e elegante (até algo poético), perante as sequelas provocadas pela mesma (não aquelas visíveis a olho nu, mas as daí decorrentes - as "dores afectivas", que degeneram numa gradual, e ensurdecedoramente silenciosa, erosão das dinâmicas familiares). <br />Fá-lo sem socorrer-se de um arco narrativo "forte" (motivo pelo qual a sua duração acaba por revelar-se excessiva). Não sendo a "palavra" o seu foco principal, opta por veicular as suas mensagens/"perspectivas" através de imagens de excepção (maioritariamente longos planos fixos). <br />De facto, Villaverde faz desfilar perante a nossa íris um contínuo conjunto de melancólicos/depressivos e metafóricos "quadros animados" (onde imperam "geometrias" e jogos de - ausência - luz/sombra) de beleza arrebatadora. <br /> <br />Em suma, o formalismo estético é, sem dúvida, o grande "abono de família" desta obra cuja acção se alicerça em torno de uma "esvaziada" família lisboeta de classe média baixa (igual a tantas outras) que vive no desaconchego do seu (ainda) lar (enquanto não é alvo de despejo por incumprimento das suas obrigações para com o banco). Todavia, seria injusto também não dar ênfase à excelência das interpretações da Beatriz Batarda, João Pedro Vaz e da jovem Alice Albergaria Borges (que encarnam na perfeição o papel de errantes zombies, em progressivo processo de inanição afectiva, que vagueiam por "espaços vazios' em busca de "nadas").
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Ainda em transe

Harry Morgan

As marcas identificáveis do cinema de Teresa Villaverde funcionam quase sempre mais contra ela do que a seu favor. Em “Colo”, tal como em obras anteriores, como “Os Mutantes” ou “Transe”, sucede isso precisamente, sobretudo quando informalmente se procura uma hiper-realidade e acabamos lançados nas inverosimilhanças do onírico. Poderia, com outro toque de câmara, estar-se a viver o pesadelo de um pai, uma mãe e uma filha, vítimas colaterais das troikas que assaltaram o país nos últimos anos. Mas “Colo” nunca o transmite, preferindo estilhaçar a unidade periclitante de uma família de classe média baixa que vê os seus parcos luxos (se assim os podemos denominar) esfumarem-se, numa narrativa errante e por vezes mal amanhada. Na verdade, desde os anos 90 que Villaverde não filma senão mutantes em transe. E isso, apesar de lhe reconhecermos algum virtuosismo, sabe sempre a muito pouco.
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