4 estrelas
JOSÉ MIGUEL COSTA
"American Honey" pode definir-se como um road movie neorealista que acompanha um grupo de jovens marginalizados (uma tribo rebelde sem causas) que, numa viagem sem destino, percorre a América profunda do "white trash" do Trump para vender porta-a-porta assinaturas de revistas. <br />A carrinha repleta de filhos desestruturados do "pesadelo americano", provinientes de vários pontos do país e com as mais diversificadas "existências de sofrimento " (que, por opção artística, não são aprofundadas pela realizadora - eles apenas ali estão para cumprir o seu papel de meros figurantes zombies), são como uma espécie de metáfora à América do "safe-se que puder, sem olhar a quem" (embora, se visionado apenas pela "rama", possa ser encarado como uma obra que se limita a celebrar o indomável espirito livre juvenil - no entanto, não acredito que seja essa a intenção de Andrea Arnold, dado que vai semeando, de modo subtil e, por vezes, poético, inúmeras mensagens indirectas). <br /> <br />Apesar da temática abordada, Andrea Arnold não encarna o papel de activista politica ou analista sociológica e/ou antropológica, posicionando-se (aparentemente) à margem de qualquer perspectiva sócio-politica. Todavia, ao não encaixar em qualquer tipo de "roupagem"/convenção narrativa, American Honey arrisca-se a ser interpretado como um filme vazio, que vampiriza de forma aparatosa (sim, é uma obra emocionalmente "pesada") a (sobre)vivência esquizofrénica de um bando de individuos amorais cujo único lema de vida se resume a "sexo, drogas ... e rap" (visão que não partilho, por percepcioná-lo como detentor de várias "camadas"). <br /><br />Para além disso, alguns poderão vê-lo como uma pelicula (aparentemente) simples/sem grande mensagem ou propósito, com uma narrativa repetitiva (e sim, de facto ao longo de 2h 42 m não se verificam desenvolvimentos de maior, pelo que a partir de determinado momento ficamos com a sensação de "mais do mesmo" - o que efectivamente contribui para diliur a sua imensa força inicial). Contudo, na realidade American Honey nunca cansa, pelo contrário, na medida em que a sua atmosfera é electrizante, revelando-se uma experiência sensorial extraordinária,graças à mescla (quase) atordoante de som (uma autêntica banda sonora eclética - e cheia de significados - que não pára de berrar-nos aos ouvidos) e imagens a um ritmo de "100 à hora". <br />E claro, não menos importante, conta com a grande mais valia da estreante ("inocente" e sensual) Sasha Lane e do desconcertante Shia Labeouf -que se revela uma dupla enigmática irresistivel.
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