Ainda bem que penso por mim próprio!
Luís Vas
Costumo consultar este site e ver as críticas antes de ver os filmes. Faço-o na procura de referências que me ajudem a decidir sobre os quais a ver. Encontrava-me na expectativa acerca deste filme, cujo tema actual é a clonagem e suas implicações éticas. Os críticos residentes não se pronunciavam e aqueles que o faziam só o denegriam, à excepção da Ana Karenina. Decidi ir ver e comprovar o quão mau seria o filme. Tenho por defeito de profissão ser crítico e acutilante e directo. Enquanto professor das artes visuais, a linguagem subjacente às BD, fotografia, cinema, etc., é-me querida e conhecida. O filme começou e tentei me abstrair das opiniões formadas por terceiros de modo a não ser influenciado. Quando saí não conseguia perceber o que de mau realmente tinha o filme.<BR/><BR/>Sob o ponto de vista da linguagem visual, não era extraordinário. Tentei compará-lo com "A Ilha". Parecido q.b.. Tecnicamente existem filmes melhores e o contrário também é verdadeiro. Mas deixemos os elementos configuradores e significativos da linguagem plástica de lado. Os filmes, mais do que efeitos e montagens, planos e angulações, fotografia e som, vestuário e banda sonora, veracidade científica e fantasia, são sobretudo o veículo de uma mensagem, cuja história encerra uma lição de vida. Não nos fiquemos pela superfície. Aqui é que o filme é bom. Vai às profundezas e explana de uma forma interessante a condição da existência humana.<BR/><BR/>A actriz´, independentemente da sua performance, é inteligente, e tem-no provado nos seus últimos filmes. Com certeza não escolheria este guião de ânimo leve. Aprendi com este filme que a clonagem, numa primeira análise, não só é gratuita e mesquinha como também egoísta quando comparada com a clonagem da Ilha. O novo conceito introduzido é o da imortalidade e da vontade consequente de sermos deuses. Na ilha, os clones são peças sobressalentes. Aqui, são indivíduos de direito, ainda que condicionados pelo tempo de investigação de um homem ao longo de 400 anos (e suas consequências directas indirectas, boas e más) que tenta devolver a dignidade à espécie (corrompida pela esterilidade de um holocausto) enquanto animais que somos, apesar desta fabulosa racionalidade.<BR/><BR/>Mais do que a liberdade ansiada sob o jugo, este filme ensina que ser livre não implica somente ter uma vida boa e agradável, até porque ser livre é sempre um direito pelo qual se luta, lutou e lutará na própria História da Humanidade, e isso implica sofrer. Fala da qualidade de vida e não do seu tempo cronológico. E isto é que é importante, diria imensamente importante. O livre arbítrio no seu sentido mais lato é aqui disseminado, e a Natureza é ainda mais sábia nesse aspecto. Infelizmente, enquanto acharmos que estamos acima dela e não incluídos da mesma não vamos longe. Mas no fim, aqui existem heróis que preferem não viver uma fantasia eterna da qual nem teriam consciência, mas sim, abraçar a vida como ela é na verdade e em toda a sua plenitude. Muito bom!<BR/><BR/>Embora conte o filme, quando não deveria fazê-lo, faço-o de modo a que possa ajudar outras pessoas a vê-lo sem que se sintam dissuadidas de o fazer num primeiro impulso. Peço também aos gerentes da página que incluam críticas que não previlegiem somente a frieza técnica do filmes. Convidem psicólogos, filósofos, escritoires, artistas, cientistas, investigadores, etc., de maneira a tornar a crítica mais profunda dentro do campo epistemológico.
Continuar a ler