Enquanto ouvia as reacções entusiásticas ao seu filme, "Adeus, Minha Concubina", no Festival de Cannes, onde recebeu a Palma de Ouro, o realizador Chen Kaige contava como aos 14 anos, em plena Revolução Cultural, tinha traído o pai. Para não ser excluído da maioria, quando era Guarda Vermelho. O desejo de reconhecimento e a culpa - questões que marcam os filmes da chamada Quinta Geração do cinema chinês - estão também nesta obra, impressionante e selvagem, que percorre 50 anos da História chinesa. É uma obra exuberante e sumptuosa, em que o “partis pris” formal é um painel: a História como sucessão de quadros que vão desfilando, como película numa máquina de projectar, mas destacando sempre os protagonistas: dois cantores da Ópera de Pequim, Cheng Dieyi e Duan Xiaolou, uma prostitua, Juxian, e o amor entre eles ao longo de 50 anos.
Vasco Câmara (PÚBLICO)