Este filme é um poema. E sabemos que a poesia afasta muita gente, a maioria incapaz de a interpretar, pois prefere um longo romance com princípio, meio e fim, onde tudo vem bem explicadinho. O mesmo se passa com o cinema e a indústria do espectáculo. É por isso que o público (orientado pela crítica de cinema lusitana) prefere ver uma dramalhada holywoodiana do que uma produção independente. Há, na minha opinião, uma verdade na Arte, ainda que residual: ou se sente ou não se sente. E o resto das considerações críticas e paracríticas leva-me sempre àquela famosa frase de Truffaut de que todos (somos) podemos ser críticos de cinema..!

Embora possa parecer muito arrumadinho, em que apesar da personagem principal morrer tudo e todos ficam bem com a vida refeita, alguns até para melhor (como é o caso da mãe), este filme faz-nos pensar e só por isso já vale a pena ver.<BR/>Em todo o filme não há um momento de auto-comiseração, de pensamento na primeira pessoa. O pensar activamente na lista de coisas que devemos fazer antes de morrer dá um outro sentido à vida. Faz-me pensar se mesmo sem termos a notícia de uma doença terminal todos nós não deveriamos encarar a vida dessa maneira...<BR/>Depressivo? Apologético? Talvez, mas uma lição de vida com a metáfora da morte!<BR/>Tecnicamente, e sem os grandes meios e actores do circuito de Hollywood consegue agarrar-nos nos pequenos pormenores, desde o médico tímido que não consegue enfrentar os doentes, à musica suave de um tocar de copos e à fantástica história de uma jangada contada às crianças<BR/>