Craig, Daniel Craig
Rita (http://cinerama.blogs.sapo.pt/)
"Casino Royale", o primeiro livro da série 007 escrita por Ian Fleming, é sobre a primeira missão do agente James Bond após a sua promoção a 007. Le Chiffre é um banqueiro de terroristas, que aplica o dinheiro dos seus clientes, sem o conhecimento deles, para ganho próprio. Depois de um azar na bolsa e com a vida em risco, Le Chiffre decide organizar um jogo de poker de apostas astronómicas no Casino Royale no Montenegro. O objectivo da missão atribuída por M (Judi Dench, "Mrs Henderson Presents") a Bond (Daniel Craig) é ganhar a Le Chiffre (Mads Mikkelsen) no seu próprio jogo e levá-lo à falência. Uma oficial do tesouro britânico, Vesper Lynd (Eva Green, "The Dreamers", "Arsène Lupin") acompanha Bond nesta missão para controlar o dinheiro disponibilizado pela coroa.<BR/><BR/>Daniel Craig é uma delícia! O seu Bond foge aos clichés, inclusivamente o do "shaken not stirred" do seu vodka martini. E desta vez não existe nenhuma Ursulla Andress em bikini, desta vez temos direito ao próprio Bond a sair do mar, molhado e tremendamente sexy. "Casino Royale" funciona para Bond como "Batman Begins" funcionou para o herói alado de Gotham City, recuando à sua origem e aproveitando para o reinventar. Este será talvez o mais físico de todos os Bond, o mais frio e o mais violento. Mas também tremendamente romântico. À medida que o filme avança, ele vai-se tornando mais sofisticado, e é quase visível a sua transformação num charmoso Sean Connery.<BR/><BR/>O estilizado genérico inicial, à base dos quatro naipes de cartas em tons de preto e vermelho (e abdicando das silhuetas femininas - há quem considera esta inovação uma heresia), da responsabilidade de Daniel Kleinman, é acompanhado pelo tema original "You Know My Name", interpretado por Chris Cornell (membro dos extintos Soundgarden e dos Audioslave).<BR/><BR/>A fotografia de Phil Meheux, colaborador regular de Martin Campbell ("Beyond Borders" - 2003, "The Legend of Zorro" - 2005) realça toda a beleza das maravilhosas paisagens por onde "Casino Royale" passa, de Praga às Bahamas, de Karlovy Vary a Veneza. O mesmo se passa com "ex-libris" do herói de Fleming: os carros fabulosos (quando crescer quero um Aston Martin!!!) e as "bond girls" Caterina Murino e Eva Green.<BR/><BR/>O argumento de Neal Purvis e Robert Wade ("Die Another Day", "The World Is Not Enough" e "Johnny English") e Paul Haggis ("Crash", "Million Dollar Baby") constrói-se entre o tradicional e o moderno. O humor irónico mantém-se, em especial entre o par Bond e Lynd, num típico jogo de atracção-aversão que todos sabemos como termina. Mas a inovação surge logo na cena inicial, como aviso de que este é um Bond da nova geração, numa perseguição ao estilo Parkour ou Freerun – uma actividade em que o praticante ("traceur") usa o seu corpo para passar obstáculos de uma forma rápida, directa e fluida.<BR/><BR/>O único senão de "Casino Royale" é a sua duração. A partir das duas horas, somos, por diversas vezes, levados a pensar que chegou o momento do desfecho. Mas depois ainda vem Veneza, e só por isso vale a pena. O final acaba por ser exactamente aquele que aponta para o futuro (já conhecido) deste herói.<BR/><BR/>No campo das interpretações, confesso que adorei o vilão dinamarquês Mads Mikkelsen ("Carne Fresca, Procura-se", "King Arthur"), num equilibrado duelo de talento com o versátil e encantador Daniel Craig. E para quem tem estado distraído da carreira deste grande actor – "Road To Perdition", "The Mother", "Sylvia", "Layer Cake", "The Jacket", "Munique", "Infamous") – fixe bem: O nome é Craig, Daniel Craig. Nota: 8/10.
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