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00:30 A Hora Negra
Título Original
Realizado por
Elenco
Sinopse
A 11 de Setembro de 2001, o mundo assistia em directo a um dos mais arrepiantes ataques terroristas de sempre. O acontecimento deu origem a uma época de instabilidade e medo sem precedentes e, por esse motivo, foram somados esforços para capturar Osama Bin Laden, o líder da Al Qaeda, organização responsável pelos ataques. Maya (Jessica Chastain), agente da CIA, é uma das responsáveis pela operação de mais de uma década, que levou militares americanos a entrar no Paquistão onde, em Maio de 2011, Bin Laden foi capturado e morto. O filme segue o seu trajecto.<br />Realizado por Kathryn Bigelow (Óscar de melhor realizadora por "Estado de Guerra"), um "thriller" de acção com argumento de Mark Boal que durante anos teve acesso privilegiado a informações relativas à luta antiterrorista dos EUA.<br />Apesar de muito elogiado pela crítica, o filme tem sido rodeado por polémica, especialmente após a carta aberta de Naomi Wolf a Kathryn Bigelow. Nela, a escritora definia o filme como "um anúncio publicitário de duas horas, muito bem filmado", destinado a manter fora da prisão os agentes dos serviços secretos que cometeram crimes em Guantánamo. Insinuava também que o financiamento da obra seria difícil sem a aprovação do sector militar e que, tal como Leni Riefenstahl legitimou e glorificou o regime nazi alemão, Bigelow subscreve as "mentiras do regime": a de que "esta brutalidade [a tortura] é de alguma forma necessária".<br />A título de curiosidade, "Zero Dark Thirty" - o título original do filme -, refere um termo usado pelos militares americanos para referir uma hora não especificada da madrugada. PÚBLICO
Críticas Ípsilon
Críticas dos leitores
Zero Dark Thirty
Fernando Oliveira
“Zero dark thirty” de Kathryn Bigelow é essencialmente um filme sobre a obsessiva procura colectiva – de uma nação – e individual – de um personagem – por um apaziguamento de um estado de alma corroído pelo 11 de Setembro. O início do filme – as ultimas comunicações das vitimas dos atentados em fundo negro – diz-nos logo que o que os personagens procuram – e com elas todo um país – é um qualquer fim para um luto provocado por um acontecimento que ninguém julgava possível e que causou estragos tremendos na Ideia dos EUA como nação. E que tentou consegui-lo em guerras impossíveis de vencer…O que a realizadora conta no filme é a investigação levada a cabo pelos serviços secretos norte-americanos, durante os oito anos que acompanhamos a personagem principal, para encontrarem o refúgio de Osama Bin Laden. E da obstinação dessa investigadora – Maya, uma interpretação magnifica de Jessica Chastain – em seguir uma pista que acabaria por levar à morte do líder da Al-Qaeda. Bigelow tomou duas opções que tornam o filme num espantoso e inteligentíssimo objecto cinematográfico: num tom quase seco e duro conta-o quase como se fosse uma reportagem jornalística, não fosse o autor do argumento o jornalista Mark Boal, numa espécie de ficcionar um documentário, mas ao mesmo tempo contrapõe a esta descrição quase meticulosa dos acontecimentos dois olhares profundamente femininos, necessariamente o dela, que através de pequenos momentos da história e da definição dos personagens questiona o enquadramento moral e ético do que nos vai contando (extraordinário momento em que filma a esperança no rosto da colega de Maya, Jessica, à espera de uma pista definitiva, para depois tudo terminar numa explosão – e o quão terrível é o som da morte nos filmes de Bigelow); mas também o de Maya, uma personagem que na sua obsessão, mas também nas suas dúvidas é a projecção do sentir de uma nação, mas ao mesmo tempo, e por isto não serão nunca muitos os elogios à actriz, alguém que só é ela própria (não consigo explicar doutra maneira; mas basta reparar na sublime cena final no avião, quando lhe perguntam para onde quer ir, o desespero nas suas feições, a incapacidade para responder: ela, mas também nós todos, o mundo), uma mulher num mundo masculino, com todas as particularidades que um olhar de uma mulher sobre as coisas tem. Mas é preciso não esquecer, e será o mais importante, o espantoso filme que “Zero dark thirty” é… não pelo que conta, mas como conta. Kathryn Bigelow é (juntamente com Michael Mann, agora que McTiernan se reformou (?), e o ex-marido se dedica mais às evoluções tecnológicas do que ao Cinema) a grande autora do cinema de acção norte-americano. Filmes que vão às raízes do cinema clássico e que agarram no seu “esqueleto” e completam-no com aquilo que são “os ares do tempo”, a contemporaneidade, mas que não esquecem um valor fundamental desse cinema: mesmo no meio do mais movimentado ou intenso acontecimento são as pessoas, os personagens, o que mais interessa. No fundo aquilo que muito do cinema actual esqueceu. Basta ver a notável meia hora final para ver que Bigelow é uma extraordinária cineasta, uma crente de que a qualidade daquilo que quer mostrar depende não apenas daquilo que conta, mas como conta, no fundo que as emoções são tão importantes como a acção. Ou, como dizia o Fuller, complementam-se… <br />Um filme não apenas genial pelo que é, mas também muito importante por aquilo que conta. <br />ESCRITO NA ALTURA DA ESTREIA (em "oceuoinfernoeodesejo.blogspot.pt")
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