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Um Iaque na Sala de Aula

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Drama 110 min 2019 M/12 23/06/2022 China, Butão

Sinopse

Ugyen, um jovem professor do Butão, pretende deixar a escola onde trabalha e ir para a Austrália realizar o sonho da sua vida: tornar-se cantor. Ao saberem disso, os seus superiores tomam a decisão de o colocar numa escola comunitária de Lunana, a aldeia mais isolada dos Himalaias. Depois de oito dias de um percurso acidentado até ao local, sem as comodidades a que se habituara e sem as mínimas condições para ensinar os seus alunos, Ugyen sente-se totalmente desmoralizado. Mas quando está à beira de desistir, vê-se acarinhado pelas crianças e pelos aldeões, que o recebem de braços abertos e cheios de entusiasmo. Sem internet, electricidade ou água canalizada, mas contagiado pela energia dos seus novos amigos, este professor vai encontrar a sua verdadeira vocação e uma inesperada forma de felicidade. 
Filmado pelo estreante Pawo Choyning Dorji na escola mais remota do mundo, que se situa na fronteira entre o Butão e o Tibete, “Um Iaque na Sala de Aula” foi nomeado para o Óscar de Melhor Filme Internacional. PÚBLICO

Críticas Ípsilon

O Butão, em gentileza folk

Luís Miguel Oliveira

Um filme que quer colocar o espectador a sentir-se ali em família.”Ali”: no Butão.

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Críticas dos leitores

Tocar o Futuro - rep

Mário Ferreira

Um Iaque na Sala de Aula é o primeiro filme do até agora fotógrafo Pawo Choyning Dorji, uma obra com origem no Butão, que nos transporta numa viagem interior de Ugyen, um jovem professor da capital do Reino, que se encontra num conflito interior que não consegue resolver. Ugyen, ao longo dos poucos anos de profissão em Timbu, foi sofrendo um desencanto crescente pela escola, estando determinado em emigrar para a Austrália para se tornar num cantor pop.
Fruto de uma quase punição governamental, por esta quase desistência do ensino, Ugyen é enviado para uma remota aldeia nos Himalaias com o propósito de ensinar as poucas crianças da aldeia. Aqui começa a viagem de Ugyen. Na verdade este filme conduz-nos numa dupla viagem do seu principal personagem. No fundo é como se o tempo decorresse simultaneamente nos dois sentidos. Por um lado temos a viagem até ao passado, que se mostra intacto nesta aldeia perdida entre as montanhas, por outro lado temos a viagem interior de Ugyen, até ao futuro que ele ainda desconhece.
A viagem até à aldeia torna-se num ritual de despojamento progressivo de si mesmo, num anacronismo que Ugyen não entende, nem aceita. À medida que este longo e penoso caminho é feito, há uma tomada de consciência paulatina, de que o seu passado citadino ficou para trás. Ugyen vai contactando com alguns aldeões que o tratam como uma deferência e respeito a que não estava habituado. Nada lhe faz sentido, e tudo é estranho e inóspito. Ao longo deste caminho vai crescendo a sua vontade de desistir de tudo e de, finalmente, emigrar.
Chegado à aldeia, o choque com o total isolamento e a completa falta de condições fazem-no querer desistir, apesar da reverente e respeitosa receção que lhe é preparada. Ugyen, vê-se instalado num quarto que nem eletricidade tem, e cujas janelas estão cobertas por papel sagrado para proteger do gelado vento dos himalaias.
Antes de desistir, Ugyen é acordado por uma das crianças, para que lhes vá dar a aula, uma vez que já tinha passado da hora. Nada lhe faz qualquer sentido, muito menos tentar ensinar meia dúzia de crianças, numa “escola” que, além das paredes, apenas tinha mesas e bancos. Toda esta viagem fez-se em direção ao passado, a um passado que há muito que deixou de existir nas cidades. Aqui voltamos a uma quase Gaia, Deusa da mitologia grega, a terra primordial que tudo pode, e onde a pureza ainda existe.
Podem acusar Pawo Choyning Dorji de construir uma narrativa ingénua ou mesmo piegas. A intelectualidade lida sempre mal com a essência das coisas, e ainda pior com a beleza e a pureza, mas que se danem os intelectuais, e deixemo-nos perceber o essencial da vida e a beleza do que ainda é puro.
Nessa primeira aula, Ugyen sente-se tocado pela primeira vez por um aluno, quando este lhe explica porque quer ser professor quando for grande, ao dizer-lhe que ser professor é tocar o futuro. É neste preciso momento que se inicia a outra viagem interior, a viagem em direção ao futuro. Lentamente o professor permite-se ser tocado pela pureza dos aldeões, que fazem do respeito e da entreajuda a sua forma de ser, mais do que de estar. As crianças deste mundo perdido no meio do frio das montanhas estão muito longe das crianças que Ugyen conhecia na cidade.
Nesta inóspito mundo, as crianças mantêm ainda o brilho no olhar, tendo no futuro uma esperança infinita. É este estado puro e primitivo que se perdeu há muito no mundo agitado das cidades. É este brilho que desperta em Ugyen a vontade de tudo fazer para ensinar este punhado de crianças e, acima de tudo, nunca as desiludir. Inventa-se a escola que não existe, constrói-se a vontade de tocar o futuro.
Tudo nesta aldeia é belo, apesar de cru, poético, apesar do despojamento material. É no meio deste quase vácuo existencial que Ugyen descobre uma aldeã que faz ecoar com a sua voz uma melodia que repete até ao infinito, quase um mantra que homenageia a natureza inóspita que esta contempla. Esta melodia converte-se no símbolo da pureza interior que Ugyen passa a tentar repetir, como se esta melodia fosse a porta que lhe permite aceder ao essencial, ao primitivo, ao puro.
É essa mesma aldeã que um dia lhe oferece o seu maior bem, o mais velho dos seus iaques, para que este permanecesse, também, junto a Ugyen e às crianças, na sala de aula. É esta a metáfora que dá nome a este filme belíssimo, com uma fotografia irrepreensível, e que nos guia à essência do ser humano. É a presença deste animal quase sagrado, aquele que todos respeitam pela sua grandiosidade, não apenas física, mas acima de tudo porque ele é mais um elo de entreajuda na aldeia, mesmo quando tem de ser sacrificado para alimento.
Nesta sala de aula passam a estar presentes três símbolos sagrados, o iaque que representa a força e o trabalho, as crianças que representam o estado puro dos humanos, e o professor, aquele que é capaz de tocar o futuro.
Com o aproximar do inverno, e a inevitável chegada da neve que deixará a aldeia ainda mais isolada, Ugyen regressa à cidade, deixando para trás um punhado de gente que o admira e respeita, e aquela meia dúzia de crianças, que não só lhe mostraram que ensinar é algo que está muito perto da essência humana, mas que o reconhecimento e o respeito, são as mais puras formas de agradecer quem se dá por inteiro.
Ugyen acaba por realizar o seu sonho e emigrar para a Austrália, mas é no meio da multidão que percebe que esse é o maior lugar da solidão. Não importa se voltará ou não à aldeia na primavera seguinte, o que importa é que a sua viagem até ao futuro lhe mostrou um passado perdido que lhe deu o sentido que não existia.
Deixemo-nos, pois, levar por Pawo Choyning Dorji nesta viagem interior de Ugyen, num filme que nos arranca de um lugar que achamos que é o único e que nos permite perceber que o Homem pode ser outra coisa.

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Tocar o Futuro

Mário Ferreira

Um Iaque na Sala de Aula é o primeiro filme do até agora fotógrafo Pawo Choyning Dorji, uma obra com origem no Butão, que nos transporta numa viagem interior de Ugyen, um jovem professor da capital do Reino, que se encontra num conflito interior que não consegue resolver. Ugyen, ao longo dos poucos anos de profissão em Timbu, foi sofrendo um desencanto crescente pela escola, estando determinado em emigrar para a Austrália para se tornar num cantor pop.
Fruto de uma quase punição governamental, por esta quase desistência do ensino, Ugyen é enviado para uma remota aldeia nos Himalaias com o propósito de ensinar as poucas crianças da aldeia. Aqui começa a viagem de Ugyen. Na verdade este filme conduz-nos numa dupla viagem do seu principal personagem. No fundo é como se o tempo decorresse simultaneamente nos dois sentidos. Por um lado temos a viagem até ao passado, que se mostra intacto nesta aldeia perdida entre as montanhas, por outro lado temos a viagem interior de Ugyen, até ao futuro que ele ainda desconhece.

A viagem até à aldeia torna-se num ritual de despojamento progressivo de si mesmo, num anacronismo que Ugyen não entende, nem aceita. À medida que este longo e penoso caminho é feito, há uma tomada de consciência paulatina, de que o seu passado citadino ficou para trás. Ugyen vai contactando com alguns aldeões que o tratam como uma deferência e respeito a que não estava habituado. Nada lhe faz sentido, e tudo é estranho e inóspito. Ao longo deste caminho vai crescendo a sua vontade de desistir de tudo e de, finalmente, emigrar.

Chegado à aldeia, o choque com o total isolamento e a completa falta de condições fazem-no querer desistir, apesar da reverente e respeitosa receção que lhe é preparada. Ugyen, vê-se instalado num quarto que nem eletricidade tem, e cujas janelas estão cobertas por papel sagrado para proteger do gelado vento dos Himalaias.

 

Antes de desistir, Ugyen é acordado por uma das crianças, para que lhes vá dar a aula, uma vez que já tinha passado da hora. Nada lhe faz qualquer sentido, muito menos tentar ensinar meia dúzia de crianças, numa “escola” que, além das paredes, apenas tinha mesas e bancos. Toda esta viagem fez-se em direcção ao passado, a um passado que há muito que deixou de existir nas cidades. Aqui voltamos a uma quase Gaia, Deusa da mitologia grega, a terra primordial que tudo pode, e onde a pureza ainda existe.

Podem acusar Pawo Choyning Dorji de construir uma narrativa ingénua ou mesmo piegas. A intelectualidade lida sempre mal com a essência das coisas, e ainda pior com a beleza e a pureza, mas que se danem os intelectuais, e deixemo-nos perceber o essencial da vida e a beleza do que ainda é puro.

Nessa primeira aula, Ugyen sente-se tocado pela primeira vez por um aluno, quando este lhe explica porque quer ser professor quando for grande, ao dizer-lhe que ser professor é tocar o futuro. É neste preciso momento que se inicia a outra viagem interior, a viagem em direção ao futuro. Lentamente o professor permite-se ser tocado pela pureza dos aldeões, que fazem do respeito e da entreajuda a sua forma de ser, mais do que de estar. As crianças deste mundo perdido no meio do frio das montanhas estão muito longe das crianças que Ugyen conhecia na cidade.

Nesta inóspito mundo, as crianças mantêm ainda o brilho no olhar, tendo no futuro uma esperança infinita. É este estado puro e primitivo que se perdeu há muito no mundo agitado das cidades. É este brilho que desperta em Ugyen a vontade de tudo fazer para ensinar este punhado de crianças e, acima de tudo, nunca as desiludir. Inventa-se a escola que não existe, constrói-se a vontade de tocar o futuro.

Tudo nesta aldeia é belo, apesar de cru, poético, apesar do despojamento material. É no meio deste quase vácuo existencial que Ugyen descobre uma aldeã que faz ecoar com a sua voz uma melodia que repete até ao infinito, quase um mantra que homenageia a natureza inóspita que esta contempla. Esta melodia converte-se no símbolo da pureza interior que Ugyen passa a tentar repetir, como se esta melodia fosse a porta que lhe permite aceder ao essencial, ao primitivo, ao puro.

É essa mesma aldeã que um dia lhe oferece o seu maior bem, o mais velho dos seus iaques, para que este permanecesse, também, junto a Ugyen e às crianças, na sala de aula. É esta a metáfora que dá nome a este filme belíssimo, com uma fotografia irrepreensível, e que nos guia à essência do ser humano. É a presença deste animal quase sagrado, aquele que todos respeitam pela sua grandiosidade, não apenas física, mas acima de tudo porque ele é mais um elo de entreajuda na aldeia, mesmo quando tem de ser sacrificado para alimento.

Nesta sala de aula passam a estar presentes três símbolos sagrados, o iaque que representa a força e o trabalho, as crianças que representam o estado puro dos humanos, e o professor, aquele que é capaz de tocar o futuro.

Com o aproximar do inverno, e a inevitável chegada da neve que deixará a aldeia ainda mais isolada, Ugyen regressa à cidade, deixando para trás um punhado de gente que o admira e respeita, e aquela meia dúzia de crianças, que não só lhe mostraram que ensinar é algo que está muito perto da essência humana, mas que o reconhecimento e o respeito, são as mais puras formas de agradecer quem se dá por inteiro.

Ugyen acaba por realizar o seu sonho e emigrar para a Austrália, mas é no meio da multidão que percebe que esse é o maior lugar da solidão. Não importa se voltará ou não à aldeia na primavera seguinte, o que importa é que a sua viagem até ao futuro lhe mostrou um passado perdido que lhe deu o sentido que não existia.

Deixemo-nos, pois, levar por Pawo Choyning Dorji nesta viagem interior de Ugyen, num filme que nos arranca de um lugar que achamos que é o único e que nos permite perceber que o Homem poder ser outra coisa.

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Um filme imperdível

Rita Santiago

Uma história tocante que todos deveriam ver.

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5 estrelas

Isabel Pena

Belo, simples, poético e profundo. Este filme fala na beleza da simplicidade, da entreajuda entre camponeses numa aldeia remota do Butão. Na reverência aos animais que os ajudam, os iaques, no canto para celebrar e agradecer à Natureza. Na sabedoria intrínseca de gente do campo que quebram a arrogância e o gelo de um jovem citadino.
Adorei. Revivi o Tibete.

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4 estrelas

José Miguel Costa

Eis que estreia nas salas de cinema lusas um filme proviniente de um país altamente improvável, o Butão.
O exótico "Um Iaque na Sala de Aula", primeira longa metragem dirigida e escrita por Pawo Choying Dorji (fotografo de profissão), acompanha a jornada transformadora de um citadino jovem professor desmotivado (que apenas tem por objectivo emigrar para a Austrália, onde ambiciona singrar como cantor pop), destacado, como forma de penalização, para dar aulas em Lunana (a aldeia mais remota do mundo, enquistada num dos cumes dos Himalaias, destituida de quaisquer "comodidades").

Em abono da verdade esta obra possui uma história simples, algo "lamechas" (apesar de não sermos confrontados com qualquer drama ou romancezinho) e até previsível, mas é impossivel não ficarmos completamente estarrecidos perante a pureza em estado bruto dos intervenientes (residentes locais) e da sabedoria inata/poesia emanada dos seus (ancestrais) diálogos. E, claro, a beleza da paisagem natural (uma quase personagem omnipresente) esmaga-nos!

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