Rocky, Rocky, Rocky!!
King Nothing
Acabei de ver o Rocky Balboa e posso dizer que é sem sombra de dúvida um dos melhores filmes deste ano. Para quem não sabe o vosso King nasceu no ano de 1976. Portugal estava a dois anos na chamada "Democracia", na China era o ano do Dragão e na América um jovem actor de nome Sylvester Stallone criava um personagem que iria marcar uma geração de cinéfilos. Rocky Balboa não teve um parto fácil, nasceu logo a lutar. Fruto de uma necessidade quase evisceral, por parte do seu criador, de triunfar numa carreira artística em Hollywood, Rocky (realizado por John Avildsen) tornou-se a surpresa do ano vindo a ganhar o Oscar de melhor filme do ano (vencendo a Taxi Driver de Martin Scorcese) e melhor argumento original (para Sylvester Stallone). Aos 30 anos de idade, numa altura já dificil para aparecer, Sly tinha chegado ao estrelato e vencido. O seu argumento baseado em parte numa luta de boxe entre Muhammad Ali e Chuck Webner (onde um boxer sem chances aguenta 15 rounds com o campeão e chega a levar este ao chão) juntamente com uma forte vulnerabilidade e desejo de vencer por parte da sua personagem, criou um icon do dia para a noite.<BR/><BR/>As sequelas seguintes, realizadas e escritas pelo próprio Stallone (parte 2, 3 e 4) solidificaram a sua carreira como actor e realizador assim como o historial do personagem. Lembro-me que o primeiro Rocky que vi no cinema foi o 4º e o impacto era de tal forma enorme, que o público pôs-se a gritar: ROCKY, ROCKY, ROCKY quando este estava a lutar contra o russso Ivan Drago (Dolph Lundgren). A energia era simplesmente fenomenal. Em 1991 John Avildsen voltou para realizar Rocky V, a história onde o personagem depois de anos de sucesso e glória é impedido de lutar devido a severos traumas cranianos e perde todo o seu dinheiro acabando por retornar aos seus humildes começos e origens, onde acaba por se conformar com o que tem e prosseguir a sua vida com o seu filho, a esposa Adrian e o rezingão cunhado, Paulie. Este filme nunca foi tão bem visto como os anteriores e deixou um sabor amargo tanto no público, que achou-o como uma fraca despedida ao personagem, como no actor e seu criador. Stallone acabou por seguir outros projectos, alguns bons outros nem tanto e a pouco e pouco foi desaparecendo da ribalta. Os filmes de acção estavam a mudar e os heróis da década de 80 começavam a mostrar um certo envelhecimento sendo substítuidos por outros mais jovens e dinâmicos.<BR/><BR/>Mas isso não impediu Stallone. 30 anos depois do Rocky original, Sly volta com o seu personagem favorito, para que ele e o seu público tenham mais uma chance de se despedir deste icon como realmente deve ser, numa boa história e num ringue. Novamente com uma história baseada em parte, no comeback do boxer veterano George Foreman que com 40 e muitos anos voltou para provar que ainda conseguia lutar com alguém com menos de metade da sua idade, Rocky encontra-se agora sozinho. A sua esposa morreu em 2002 com um cancro nos ovários, o seu filho não se quer relacionar com ele pois acredita que a fama do pai ofusca qualquer oportunidade deste vencer na sua vida e Rocky gere agora um restaurante italiano (com cozinheiros mexicanos) onde conta aos clientes as suas histórias no ringue (um pouco como Jack LaMotta em Touro Enraivecido de Martin Scorcese).<BR/><BR/>Para quem espera um filme cheio de acção, esqueça. Este é um Rocky envelhecido, com quase 60 anos (a idade do actor e criador) que sente que perdeu tudo e que realmente não está a fazer nada neste mundo, desde o falecimento da sua esposa. Ao mesmo tempo reconhece que aquela força de vencer, a chama, ainda existe dentro dele e que necessita de provar a si próprio que ainda tem muito para dar (algo que também se nota no actor Sly). Este filme é sem sombras de dúvida, uma grande despedida ao personagem e o melhor filme desde o original. Aliás só é preciso ver o Rocky original e depois este para perceber toda a história. A fotografia é excelente e relembra os grandes filmes da década de 70. Simples mas perfeita.<BR/><BR/>Stallone mostra-nos aqui que podemos envelhecer, mas o nosso espírito pode perdurar para sempre jovem e que mesmo mais velhos ainda temos (e mereçemos) um lugar neste mundo. O actor, argumentista e realizador ainda está vivo e bem vivo e ainda pode surpreeender muita gente. Aconselho vivamente a verem este filme. Tomem nota no final do combate, quando Rocky se volta para se despedir do público. É deveras emocionante, porque na realidade é Sylvester Stallone a despedir-se de Rocky, o personagem e a agradecer a sua existência. 5 estrelas!
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