4 estrelas
JOSÉ MIGUEL COSTA
“Pára-me de Repente o Pensamento” é uma espécie de "viagem" (e, quiçá, um tratado sobre a loucura e lucidez), sem rumo definido (sem guião, é um filme de intervenção mínima e de observação participada que se vai construindo perante os nossos olhos), ao Centro Hospitalar Conde Ferreira, um hospital psiquiátrico no Porto, maioritariamente "habitado" por esquizofrénicos (alguns deles a cumprir penas por crimes cometidos). E Jorge Pelicano, levando-nos à "boleia", consegue, sem recorrer a sensacionalismos/dramatizações ou ao "dourar da pílula", mostrar a humanidade, a inocência e o quotidiano destas pessoas que "não têm lugar" na sociedade (sendo que, grosso modo, como alguém refere, "tudo se resume a uma rotina: medicação, alimentação, café e tabaco"), fazendo-nos rir perante uma realidade dura e, simultaneamente, ficar, não poucas vezes, com um nó na garganta. Fá-lo, igualmente, sem ter quaisquer pretensões informativas ou panfletárias (abstendo-se de ajuizar sobre o "sistema"); sem invadir em demasia a privacidade e/ou beliscar a dignidade dos seus "habitantes"; fugindo aos estereótipos estigmatizantes que, por norma, lhes são associados; e, acima de tudo (e, talvez, o mais importante), trata-os como "iguais"/"humaniza-os" ao dar-lhes voz, escutá-los e "compreendê-los" E esta aparente "simplicidade de objectivos" não é (de todo) de fácil concretização, uma vez que filmar pessoas com estas características específicas levanta uma série de questões éticas e morais.
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