3 estrelas
JOSÉ MIGUEL COSTA
Após ter no curriculum dois excelentes filmes realistas carregados de sátira social, "Gomorra" (que explora os meandros da máfia italiana) e "Reality" (sobre a alienação provocada pela tv), respectivamente de 2008 e 2012 (e ambos premiados no Festival de Cannes), eis que Garrone neste "O Conto Dos Contos" opta por um outro registo cinematográfico, nos antípodas daquilo a que nos habituou, brindando-nos com o mundo de fantasia das histórias de encantar do "era uma vez...". E embora esta película fique uns furos abaixo das duas anteriores (muito por culpa da temática) tal não implica desilusão para com o realizador, pelo contrário, na medida em que, deste modo, "apenas" revela ser detentor de uma enorme versatilidade. <br /> <br />Garrone narra-nos 3 histórias sobre a realeza renascentista, mais concretamente: a da rainha estéril (Salma Hayek) que manda o marido matar um monstro marinho para que, após comer o coração da besta cozinhado por uma virgem, pudesse finalmente ficar grávida; a do rei, que tinha por melhor amiga uma pulga gigante, que deu a sua filha em casamento a um ogre; e a do rei ninfomaníaco (Vincent Cassel) que, depois de um feitiço, se apaixonou loucamente pela velha mais feia dos arredores. Como seria expectável, estes contos sombrios e sanguinários não são aconselháveis para um público infantil, ou não estivessem impregnados de humor grotesco e satírico (com muitas metáforas que remetem para a sociedade actual). <br /> <br />As três (apelativas e tocantes) histórias, apesar de serem contadas paralelamente, não se interligam (excepto num ou dois momentos, e sem quaisquer consequências ao nível do argumento, através dos seus actores secundários - denotando alguma falta de inspiração criativa). Esta não coesão e o constante saltitar entre narrativas (que prejudica o filme como um todo) é, sem dúvida, o seu grande handicap, implicando a perda de força à medida que as acções decorrem. Todavia, quase nos esquecemos desta característica (ou, pelo menos, esforçamo-nos nesse sentido) perante o seu "ponto forte", ou seja, a sumptuosidade e exuberância visual. De facto, a fotografia, bem como os aspectos técnicos (com o realizador a manter uma enorme sobriedade, mesmo nas cenas com monstros, contendo-se ao ímpeto de "encher a tela" com efeitos especiais), são cinco estrelas ... e "enchem-nos o olho"!
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