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Nova Ordem

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Drama 86 min 2020 M/16 23/09/2021 FRA, MEX

Título Original

Nuevo Orden

Sinopse

<div>Durante o caos gerado por um golpe de estado na Cidade do México, um casamento da alta sociedade é invadido por um grupo de indivíduos armados, que tornam os convidados reféns. O exército mexicano, ao tentar controlar os rebeldes e repôr a ordem, não se coíbe de usar a violência. O resultado é a imposição de uma ditadura militar no país, que nada mais faz do que arrasar os direitos mais básicos dos cidadãos.</div><div>Estreado no Festival de Cinema de Veneza – onde venceu o Grande Prémio do Júri – , um “thriller” distópico escrito, produzido e realizado por Michel Franco, também autor de “Después de Lucía” (2012), “Chronic” (2015) ou “As Filhas de Abril” (2017). PÚBLICO</div>

Críticas Ípsilon

A contra-revolução não dará na televisão

Luís Miguel Oliveira

No seu maniqueísmo coxo, o filme só se interessa pelos ricos, as únicas personagens que realmente se individualizam e que “Nova Ordem” segue de princípio a fim.

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Críticas dos leitores

Nova ordem

Fernando Oliveira

É um filme que assusta. Não apenas por aquilo que nos mostra, pelo o que nos conta, mas também pela forma seca e amoral como encena a violência extrema que o encharca. <br />Cidade do México, um hospital é invadido, os doentes são retirados pelos invasores, há muita gente ferida entre eles, têm de ser tratados. Depois uma cena curta: um reboque cheio de corpos mortos, uns nus outros mutilados.<br /><br />O oposto a seguir. Um casamento de gente rica, os convidados vão chegando, começamos a notar o desconforto que trazem, alguma coisa está a acontecer lá fora. A festa continua. Um homem, um antigo empregado da casa chega. Vem pedir ajuda, a mulher expulsa do hospital na cena inicial precisa de uma operação urgente, precisa de dinheiro, da ajuda dos antigos patrões. É-lhe recusada, mas a noiva, Marianne, insiste na ajuda e abandona a festa do se casamento e vai com um empregado a casa do homem.<br />E então a violência explode no filme: os mais desfavorecidos da cidade, e serão milhões, saíram à rua, pilham, destroem e matam o que, e quem lhes dá na gana. A selvajaria toma conta das ruas. Marianne tem de passar a noite em casa do seu empregado, enquanto isso a sua festa de casamento é invadida, o resultado é trágico. No dia seguinte, Marianne é raptada por militares, é levada para um aquartelamento. É numerada, como os animais e presa com muitos outros jovens, homens e mulheres de famílias abastadas da cidade. <br />E enquanto na cidade agora acalmada e ocupada pelos militares vai sendo imposta um ditadura ultra-fascista, na prisão de Marianne percebemos que a intenção daqueles militares é chantagearem as famílias, a vida dos prisioneiros em troca de dinheiro. E a repressão militar nas ruas, a humilhação a que sujeitam os habitantes pobres da cidade, vai espelhar na violência com que os prisioneiros vão ser tratados: violentados e violados, o pressentimento de poderem não sair dali vivos. <br /><br />O que assusta no filme não é violência excessiva, mas a forma como o realizador nos vai sugerindo o plano dos militares para imporem a nova ordem (no primeiro dia vamos ouvindo nas reportagens a estupefação por estes não intervirem para controlar a violência: a ordem depois do caos); a forma seca como Franco encena essa violência, de forma explicitamente gráfica, mas também sugerindo, os sons fora do enquadramento, por vezes das duas maneiras, ouvimos e só depois nos mostra; o medo que inibe as pessoas e que impede uma reacção. E como nos conta o desenlace da história de Marianne: filha de gente poderosa, são movidos o céu e terra para a encontrar, quando as chefias militares descobrem o “desvio” dos soldados que a raptaram, a limpeza é rápida, cruel e sinistra. Nada pode manchar a Nova Ordem. <br />Michel Franco toca apenas ao de leve nos personagens, impede a empatia, parece interessar-lhe apenas o “suicídio” social das sociedades modernas, e como isso pode levar à violência e aos caos. <br /><br />E é isto que torna o filme angustiante. É um filme que assusta, porque o mundo em que vivemos o torna verosímil, torna a sua história uma possibilidade. <br />(em "oceuoinfernoeodesejo.blogspot.pt")
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3 estrelas

José Miguel Costa

O novo filme do mexicano Michel Franco, "Nova Ordem" (vencedor do leão de prata no festival de cinema de Veneza), é um drama niilista e cru, impregnado até ao tutano de micro e macro violências (explicitas e implicitas). <br />Uma alegoria politica (num futuro distópico próximo) sobre o processo de implantação dos regimes autoritários fascistas, que nos transporta até ao epicentro de uma sublevação popular violenta, em curso na Cidade do México, que eclodiu com o objectivo de abolir as desigualdades/abusos do sistema social classicista (ou, pelo menos, assim o julgam os "pobres ingénuos" manipulados por entidades populistas obscuras). <br /> <br />A acção tem inicio num casamento de uma familia de alta sociedade corrupta e pouco dada a empatias para com os seus serviçais. Um oásis de (cinica) harmonia no meio do caos que começamos a adivinhar existir (através de pequenos sinais) no lado de fora dos altos muros do condominio fechado. Todavia, não será necessário esperar muito até que tal espaço seja invadido por manifestantes pouco meiguinhos ... e a partir daí embarcamos numa espiral de selvajaria que jamais cessará. <br />Esta primeira parte da pelicula, que nos expõe perante uma generalização gradativa dos actos de violência, revela-se extremamente apelativa (e gera-nos saliva em relação aos eventos posteriores), sobretudo devido a uma filmagem frenética e "sem filtros". No entanto, à medida que o tempo decorre, vamos ficando com a sensação de que a montanha afinal irá parir um coelho, fruto de uma narrativa excessivamente esquemática/segmentada, apressada (com muitas "pontas soltas") e até algo artificial. A que acresce um fraco desenvolvimento das personagens (e das suas respectivas histórias), inclusivé, as protagonistas.
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Verosimilhança

Nuno Tiago Ferreira Mascarenhas Augusto

A crueza imagética faz com que inevitavelmente se questione o sentido e a gratuitidade da violência quase constante. Também aqui o contexto é (quase) tudo. Não por acaso o filme desenrola-se no México, sentindo-se desde o princípio a interiorização, por parte das personagens, do status quo, de uma forma talvez menos óbvia, mas muito bem conseguida, assim como se lançam pequenas pistas para o que a seguir sucede. Talvez a maior violência do filme decorra não da própria violência crua, sempre latente, mas de uma narrativa que foge radicalmente de quaisquer maniqueísmos, na qual as personagens de diversos estatutos socioeconómicos criam, apesar de tudo, laços e empatias, pelo que a quebra desses laços é particularmente angustiante. Esta recusa do preto e do branco, do bom e do mau, de uma narrativa razoavelmente complexa, tem como última consequência uma aura de verosimilhança que torna o filme verdadeiramente assustador.
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