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Nocturno

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Documentário 100 min 2020 M/14 10/06/2021 ITA

Título Original

Notturno

Realizado por

Sinopse

Rodado ao longo de três anos na Síria, Iraque, Curdistão e Líbano, este filme tenta mostrar o que é viver em contexto de fome, violência e terrorismo originados pelas guerras. Durante esse tempo, o realizador segue várias pessoas que se esforçam por avançar com as suas vidas depois de vivenciarem o inimaginável. 
Um documentário com assinatura do aclamado realizador, argumentista e produtor italiano Gianfranco Rosi que recebeu o Leão de Ouro no Festival de Cinema de Veneza com o filme “Sacro GRA” (2013) e o Urso de Ouro da Berlinale com “Fogo no Mar” (2016). PÚBLICO

Críticas dos leitores

Olhares

Pedro Brás Marques

Um filme praticamente só com planos fixos e sem uma linha narrativa tangível. Poderia ser aborrecido, mas não é, muito pelo contrário. <br /> <br />Logo no início de “Notturno” somos informados que as imagens foram recolhidas, ao longo de três anos, na Síria, no Iraque, no Curdistão e no Líbano. O italiano Gianfranco Rossi, o realizador e co-produtor, filma momentos. Coloca a câmara, escolhe cuidadosamente o enquadramento, acerta as definições de cor e profundidade de campo e dá início à filmagem. Não lhe mexe, pelo que o que vemos é o que acontece à frente da lente: quem se desloca, quem entra e quem sai do plano, sem música, apenas o som ambiente. É como que uma daquelas webcam que abundam na internet, onde podemos assistir em tempo real ao que se está a passar em determinado ponto do globo, numa rua, numa sala, numa janela, sem que haja interferência nossa ou do proprietário do aparelho. Aqui é o mesmo. A própria intervenção de Rossi quase só se limita à recolha da imagem e às condições em que o faz. Não há respostas porque não há perguntas. <br /> <br />Ou seja, Rossi desafia-nos a que olhemos para cada plano como se de um quadro animado se tratasse, dando tempo ao espectador para observar e pensar. Veja-se o longo plano inicial, onde grupos de tropas, à primeira luz amanhecer, atravessam diagonalmente a imagem, em marcha, sempre uns atrás dos outros, num movimento repetitivo, que tanto pode significar a ligação umbilical entre o começo do dia e o do filme, como Rossi pode ter querido dizer-nos que a vida, por aquelas bandas, é uma rotina milenar onde a guerra está sempre presente… Por todo o filme, as imagens de destruição são uma constante: edifícios, ruas, cidades, toda uma visão da devastação que se espelha-se nas rugas e nos olhos tristes de quem por lá vive. A própria aridez da paisagem simboliza a falta de esperança numa vida melhor. Raramente se vê o Sol. Nos campos de refugiados, prefere-se a segurança duma frágil tenda de lona ao perigo duma sólida habitação de tijolo e cimento. Uma das imagens verdadeiramente impressionantes é a duma mãe, no interior do que terá sido um edifício militar onde teria estado e morrido o seu filho soldado, a tocar nas paredes invocando a sua alma e a sua presença, para amenizar a dor. Um pouco como os crentes tocam na imagem da divindade para a ela acederem… <br /> <br />São vários os planos em que os indivíduos retratados seguem os seus afazeres diários e ao longe se escuta o metralhar das armas, qual banda sonora perfeita, mas perversa, daquela existência dorida e difícil. Em contraste, silêncio só encontramos nos soldados que perscrutam o horizonte em busca de inimigos. Um dos parcos refúgios destas almas é a religião que não só oferece a paz de Alá, com também critica veementemente a América e, especialmente, o Estado Islâmico. O impacto deste é brutal, como atestam os perturbantes e revoltantes desenhos das crianças na escola, que em vez de animais e bonecos, retratam cadáveres nas ruas e pessoas a serem decapitadas. <br /> <br />“Notturno” acaba por ser algo mais do que o mero documentário, não só pelo cuidado na construção de cada imagem como na concepção, bem conseguida, de ilustrar a alma daquela gente que, há milénios, vive atormentada pelo fantasma da guerra, que Governo algum conseguiu exorcizar. Talvez um dia Gianfranco Rossi consiga realizar um outro documentário e chamar-lhe “Diurno”.
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