Petite Maman - Mamã Pequenina
Título Original
Petite Maman
Realizado por
Elenco
Sinopse
Críticas Ípsilon
Retrato de uma rapariga em miniatura
E se pudéssemos ser “amigos” dos nossos pais, viajar no tempo até à época em que eles eram crianças?
Ler maisCríticas dos leitores
Mamã pequenina
Fernando Oliveira
Céline Sciamma tange as histórias de encantar num belo filme sobre a infância onde o faz de conta pode ser possível como um desejo “sonhado”, onde uma criança pode inventar uma história só dela que ocupe o lugar de uma mãe que se ausentou e de uma avó que morreu.
Em “Mamã pequenina” não está presente a imensidão que existia no belíssimo “Retrato de uma rapariga em chamas”, o anterior filme de Sciamma, mas existe na viagem no tempo que o filme nos conta uma “verdade” tão intensa e tão afectuosa que nos emociona.
Depois da morte da avó, Nelly, uma criança de oito anos, acompanha os pais à casa desta. Aos oito anos a morte será sentida com tristeza mas ao mesmo tempo como algo irreal. Vai ouvindo as histórias da infância que a mãe lhe conta, e deambulando pela casa. A mãe promete-lhe que no dia seguinte vão ver a cabana que construiu na floresta que rodeia a casa quando tinha a idade dela – sim, porque nas histórias de encantar existem florestas cheias de coisas misteriosas. No dia seguinte a mãe ausenta-se por razões que não saberemos; enquanto o pai continua na casa, Nelly vai passear na floresta e encontra outra rapariga da sua idade, igual a ela (interpretadas por duas gémeas, Joséphine e Gabrielle Sanz), que arrasta um tronco, pede-lhe ajuda. Marion está a construir uma cabana, e Nelly vai ajudá-la. Cedo perceberá que Marion é a sua mãe quando tinha a sua idade, e enquanto a amizade entre as duas cresce, conhece a sua avó, e vai aprendendo a crescer e a “perceber” a mãe, e pode dizer enfim adeus à avó. Quando Nelly abandona a sua história de encantar e reencontra a mãe há um abraço, chamam-se pelo nome. Os laços profundos entre uma mãe e a filha mostrados com uma enorme delicadeza por Sciamma; a vida adulta é um enigma para as crianças, e Lilly nesta sua viagem no tempo deseja uma aproximação à mãe: “como seria se a minha mãe tivesse a minha idade e pudéssemos partilhar as mesmas brincadeiras?”
E é muito bonita a forma como Céline Sciamma foge do drama: a ausência de música, o silêncio e os diálogos curtos, poucos movimentos de câmara e planos fixos para não perturbar o encantamento; e, no fim, somos “esmagados” emocionalmente por aquele abraço. A realizadora continua a falar-nos do amor, o sublime mas também as angústias que o acompanham, a maior o medo de perder a pessoa amada: antes foi o amor entre duas mulheres, neste o amor entre mãe e filha. É belo este filme.
(em "oceuoinfernoeodesejo.blogspot.pt")
O Mundo Verdadeiro das Crianças
Pedro Brás Marques
Nelly tem oito anos. Caminha pelo corredor dum lar de idosos, entrando nos quartos e despedindo-se educadamente de cada um dos utentes. A avó morrera, os pais estão a recolher os objectos para libertar o quarto pois já não há razão para ali alguém voltar. Com a mãe, dirige-se à antiga casa da família, situada num bosque, desabitada mas recheada de memórias. Ficam ali uns dias, primeiro com a mãe, depois com o pai, tempo que Nelly aproveita para conhecer as redondezas. Numa dessas voltas, encontra outra menina, também da mesma idade. Chama-se Marion, como a sua mãe, e acaba por a ajudar a conhecer e perceber melhor o mundo dos adultos.
Rapidamente percebemos que a pequena Marion é a mãe de Nelly na idade da filha. Mas como é isto possível? Será magia? Um portal temporal? Um sonho?
Não é preciso responder porque “Petite Maman” não é uma história realista, antes ascética e onírica. Céline Sciamma convida-nos a entrar na mente duma criança e mostra-nos como nem tudo desejos pueris, brinquedos, fadas e sonhos coloridos. A realidade duma criança é como ela realmente se forma e não como nós pensamos que tal acontece. Esta inversão da lógica, este aparente paradoxo, patente logo no título, está maravilhosamente filmado, em tons castanhos e tristes, até porque, não por acaso, é Outono. Nelly e Marion comportam-se quase como se fossem adultas, com excepção dum anedótico episódio na cozinha, não correm, não fazem traquinices e quase não riem. Constroem uma cabana, vã tentativa de retorno ao ninho primordial, mas impossível de alcançar porque a chuva e o vento (as adversidades) sempre conseguirão passar… Ah! Tudo isto em apenas uma hora e dez minutos.
Não é a primeira vez que Sciamma aborda a temática de algo que, vagamente, evoca um momento de passagem, incluindo num universo infantil, onde é raro alguém atrever-se a fazê-lo, como ela fizera em “Tomboy”. E mesmo “Bande de Filles” e “Portrait de la Jeune Fille en Feu”, os filmes anteriores, acabam por ser obras sobre o processo de mudança, de revelação e de aceitação. “Petite Maman” é um daqueles filmes que cresce após a visualização, até porque nos ajuda a perceber as cores reais da Vida.
O Mundo Verdadeiro das Crianças
Pedro Brás Marques
Nelly tem oito anos. Caminha pelo corredor dum lar de idosos, entrando nos quartos e despedindo-se educadamente de cada um dos utentes. A avó morrera, os pais estão a recolher os objectos para libertar o quarto pois já não há razão para ali alguém voltar. Com a mãe, dirige-se à antiga casa da família, situada num bosque, desabitada mas recheada de memórias. Ficam ali uns dias, primeiro com a mãe, depois com o pai, tempo que Nelly aproveita para conhecer as redondezas. Numa dessas voltas, encontra outra menina, também da mesma idade. Chama-se Marion, como a sua mãe, e acaba por a ajudar a conhecer e perceber melhor o mundo dos adultos.
Rapidamente percebemos que a pequena Marion é a mãe de Nelly na idade da filha. Mas como é isto possível? Será magia? Um portal temporal? Um sonho?
Não é preciso responder porque “Petite Maman” não é uma história realista, antes ascética e onírica. Céline Sciamma convida-nos a entrar na mente duma criança e mostra-nos como nem tudo desejos pueris, brinquedos, fadas e sonhos coloridos. A realidade duma criança é como ela realmente se forma e não como nós pensamos que tal acontece. Esta inversão da lógica, este aparente paradoxo, patente logo no título, está maravilhosamente filmado, em tons castanhos e tristes, até porque, não por acaso, é Outono. Nelly e Marion comportam-se quase como se fossem adultas, com excepção dum anedótico episódio na cozinha, não correm, não fazem traquinices e quase não riem. Constroem uma cabana, vã tentativa de retorno ao ninho primordial, mas impossível de alcançar porque a chuva e o vento (as adversidades) sempre conseguirão passar… Ah! Tudo isto em apenas uma hora e dez minutos.
Não é a primeira vez que Sciamma aborda a temática de algo que, vagamente, evoca um momento de passagem, incluindo num universo infantil, onde é raro alguém atrever-se a fazê-lo, como ela fizera em “Tomboy”. E mesmo “Bande de Filles” e “Portrait de la Jeune Fille en Feu”, os filmes anteriores, acabam por ser obras sobre o processo de mudança, de revelação e de aceitação. “Petite Maman” é um daqueles filmes que cresce após a visualização, até porque nos ajuda a perceber as cores reais da Vida.
3 estrelas
José Miguel Costa
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