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Lobo e Cão

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Drama 111 min 2022 M/14 08/12/2022 POR

Título Original

Sinopse

Ana nasceu na pequena vila de Rabo de Peixe, em São Miguel (Açores), um lugar dominado pelas tradições e também por um certo obscurantismo religioso. Sentindo-se presa, o seu grande sonho é ir para um lugar onde possa ser quem quiser. 
Uma produção da Terratreme com a francesa La Belle Affaire, este filme tem assinatura de Cláudia Varejão ("No Escuro do Cinema Descalço os Sapatos", "Ama-San", “Amor Fati”). Nas palavras da realizadora, “Lobo e Cão” fala sobre “o que é ser jovem num território cercado pelo mar e, nestes contextos em particular, de bastantes dificuldades económicas e sociais”, onde a ambição de “atingir outros lugares, outros conhecimentos, para concretizar o sonho, está mais comprometida”. Rodado com elenco totalmente amador na vila de Rabo de Peixe, este drama conquistou o prémio principal da secção “Giornate degli Autori”, no Festival de Cinema de Veneza.  PÚBLICO

Críticas dos leitores

Do Lobo ao Cão

Patrícia

Um delicado e profundo olhar sobre a transição, o salto, entre o que se tem e o que se quer, mesmo que o que se queira possa ser fruto de se estar num pequeno ponto rodeado por água. Água que tanto é o caminho para a realização do sonho, o imenso possível que, atravessa-la, se conquista, sob o chamamento profundo do cântico das baleias, como é também um cerco que se fecha e dentro do qual se constroem outros mundos, outras vivências, através das quais se tenta encontrar a essência de cada um.

Esta busca incerta, este entre lobo e cão, tão condicionada pela insularidade e pelo isolamento de certas povoações, pulsa neste filme com o carimbo da autenticidade. O trazer para o mesmo plano realidades tão diferentes que mantêm, não obstante, pontos em comum, mais não seja pelos laços do amor maternal, faz deste filme quase um tratado de sociologia antropológica.

Tráfico, religião, família, vida dura piscatória, jovens que querem encontrar o seu caminho e identidade neste contexto tão específico, jovens que colaboraram diretamente neste guião, o que lhes deu seguramente um imenso prazer, (re)conhecimento, e lhes abriu novas perspetivas/horizontes, são ingredientes reais e não ficcionais.

Este é um grande valor do filme. Para não falar da empatia que se cria entre o espetador e cada uma das personagens, fruto do olhar especial, sensível e de grande qualidade cinematográfica da realizadora. Como alguém já aqui referiu, "desenvolvendo com eles todo o trabalho de escrita, produção e rodagem desta obra que aborda as temáticas dos papéis e identidade de género, sexualidade, religião e tradição num limitado contexto de insularidade".

Não é uma telenovela, não é um cliché, não é uma seca, é um retrato específico numa comunidade específica. É a vida, bem filmada, a acontecer em mais um local do nosso planeta, local cheio de características próprias que convivem numa pequena localidade. Não reconhecer nem ficar sensibilizado com o carácter único e humano deste trabalho em comunidade é perceber muito pouco sobre vida e arte.

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Lobo e Cão

Fernando Oliveira

Em Rabo de Peixe, na ilha de São Miguel nos Açores, Cláudia Varejão encontrou um grupo de pescadores e começou a conversar com eles; depois reparou num grupo de raparigas vestidas de forma extravagante que desciam a rua, e percebeu que eram raparigas trans; mas o choque veio depois, elas eram filhas, ou sobrinhas ou netas daqueles homens enrudecidos pela vida.

Começou aqui a história de “Lobo e cão”, uma história que foi sendo escrita pela realizadora e pela comunidade que quer mostrar um grupo de jovens naquela idade entre o “lobo e o cão”, quando ainda não se é mas já nos sentimos adultos, quando queremos voar mas ainda há “fios” que nos prendem ao solo.

Uma história que é uma ficção, mas também é documentário, que observa e ao mesmo tempo interpela aquela gente. Que sabe enlear de uma forma delicada as vivências quotidianas, o sagrado e o profano, como aqueles pais e avós arreigados numa religiosidade profunda aceitam com alguma naturalidade aquele grupo de jovens. Mesmo quando a violência por vezes irrompe…

Todos os actores são naturais da ilha, todos contribuíram para o filme com as suas histórias. Ana (Ana Cabral, belíssima actriz de um filme só) é uma adolescente a aprender, a tentar perceber, o que quer da vida, do amor e do sexo; o seu melhor amigo Luís, homossexual e que gosta de se vestir como uma rapariga; e Cloé, filha de emigrantes no Canadá, que vem passar uns dias de férias na ilha.

É assim um filme sobre escolhas, sobre sonhos e desejos que querem romper as correntes impostas por uma insularidade que não deixa entrar o mundo, que não quer deixar sair para o mundo. Como a ficção consegue transcender o grilhão que quer prender os personagens. Pela ficção Ana torna-se livre, descobre o amor com Cloé e os três abraçam uma promessa de felicidade, pela ficção a ilha de São Miguel abre-se para o mundo.

É um filme melancólico mas também feliz. Uma história que nos mostra que todas as pessoas são diferentes umas das outras, e que isso é muito bonito, e que o nosso maior anseio é encontrar alguém que nos compreenda e que nos ame. Que nos complete. É um olhar intenso e normal. Ficção e documentário. Que nos espanta e nos comove. Um filme misterioso e belo.

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Bolo e Pão

Lucas

Sem sabor a nada. Uma seca do princípio ao fim.

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3 estrelas

José Miguel Costa

A cineasta portuense Cláudia Varejão mudou-se com malas e bagagens, durante um ano, para a ilha de São Miguel (Açores) para "construir", em conjunto com uma jovem comunidade local de não-actores LGBTQI+, o filme "Lobo e Cão" (desenvolvendo com eles todo o trabalho de escrita, produção e rodagem desta obra que aborda as temáticas dos papéis e identidade de género, sexualidade, religião e tradição num limitado contexto de insularidade). Deste modo, e fazendo-se valer de uma "câmara intima e cúmplice, conseguiu captar a essência/genuinidade de cada um dos intervenientes, daí resultando um singular coming-of-age queer açoriano, que interliga na perfeição os registos naturalista (quase documental) e ficcional (sendo, por vezes, difícil percepcionar as fronteiras de ambos). Todavia, é nos momentos em que resvala do domínio do realismo (e nomeadamente quando coloca em confronto o sagrado e o profano) que o filme efectivamente explode em cor e num mix de desbragada festa sedutora e kitsch (e sim, sem dúvida, a mais valia desta obra decorre da estética destas cenas mágicas). O enredo (dotado de uma narrativa pouco coesa) acompanha a rotina da jovem Ana e do seu melhor amigo (Luís), ambos a atravessarem um processo de definição sexual queer num território conservador (no qual o binarismo, ditado pelas fortes tradições religiosas, impinge os papéis dicotómicos destinados/apropriados para os homens e mulheres na sociedade). No entanto, a cineasta não adopta uma abordagem paternalista ou excessivamente woke, até porque não se verifica por parte da comunidade envolvente uma discriminação agressiva (salvo raras excepções), sendo mais um assunto do qual não se fala ou finge-se não ver.

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Queijo dos Açores

Saraiva

Isto é: comunidades lgbt+ existem em toda a parte e quase todas lidam com preconceitos. Vamos então falar de uma das menos interessantes do país e espetar ao espectador uma seca "sensível" de duas horas.

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Sensível

Elisa

Eu achei lindíssimo, e muito sensível e delicado. A banda sonora, a imagem, as pessoas, as dificuldades, a diferença. Tem a ver com a diferença. E como aguentar e ultrapassar a rebentação das ondas até se chegar a um lugar mais sintonizado com o que se quer. Vi aqui críticas péssimas. Dizem que o gosto não se discute. Eu acho que se discute. Há gosto ou falta de gosto. Ponto. Portanto, quem leu esses disparates intelectuais... atrevam-se a ignorar e experimentar o visionamento do filme. Podem ter uma surpresa agradável e um tempo bem preenchido. Como eu tive.

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Lobo e cão

Nuno Rebelo

O filme parecia uma publicidade da meo de lgbt washing. Vi uma entrevista em que a realizadora fala que se mudou para os Açores e que conheceu aquelas pessoas e os ajudou, etc. Não está nada disso no filme. Aquelas pessoas estão totalmente estupidificadas, reduzidas a maquilhagem e dança. O elenco podia facilmente ser feito com uma agência de figurantes e o filme seria o mesmo. Mas no fundo, Cláudia Varejão sabe bem a banha da cobra que vende. A prova disso está na mesma entrevista quando fala em "experiências orquestrais transformadoras", uma frase que dá para tudo. Na defesa do seu filme, a realizadora é tão genérica quanto uma astróloga.

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Do gesto burro ao abraço cão

Cândida Lobato

Apontar uma câmara a um carvalho não o mostra. Andar à volta dele com a câmara pode permitir que se olhe para ele, mas não o evidencia. O filme canibaliza-se a partir de metade quando revela a ingenuidade de pensar que olhar signifique ver.

A dormência com que Varejão escolhe os seus caminhos e coloca os seus olhares sobre as pessoas é pesarosa porque é vazia. Mas há mais do que isso. Há uma traição, um aproveitamento, uma chico-espertice no "abraço" que o filme quer dar às pessoas que filma, ao não as tentar salvar da sua própria pequenês.

E isso, na minha opinião enquanto mulher gay que habitou uma ilha metade da vida, é imperdoável.

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Perda de Tempo

Carolina Pires

Tento ver todos os filmes portugueses que saem e a minha teoria é que ou são trash puro como "Curral de Moinas" ou são preguiçosos e passivos como este. Onde está o meio termo? Se no "Curral de Moinas" o propósito é chocar o espectador com audácia de mau gosto, aqui o propósito é mais difícil de identificar. Contar uma história não pode ter sido. Deslumbrar o espectador até à morte também não será. Mostrar personagens fascinantes... Também não foi por aí. Apresentar a autora como muito profunda? Como, se fica sempre tudo à superfície? Enfim, lá fiquei a ver até ao fim, mas parecia que nunca mais acabava. Também perdi toda a vontade de voltar aos Açores, que não devia ser a intenção original, mas o filme faz aquilo parecer o pior lugar da terra.

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Lobo e cão

Luisa Perez

Não entendo porque é que o cinema português dá um passo à frente e dois atrás. Já houve provas de que fazer filmes só para satisfazer o ego não cativa espectadores. Se calhar não é comunicar que interessa a certos realizadores. Ou então não é o público português que interessa. Não sou a favor do lixo comercial que alguns têm tentado, mas não gostei de me sentar numa sala e ficar quase duas horas a ver personagens tão banais a ser mostradas como se fossem muito exóticos só porque vivem numa ilha. É o tipo de pensamento que as artes em Portugal deviam estar a repelir em vez de abraçar. A auto-exotização é um gesto tacanho e perverso que não educa nem entretém. Ao menos se o filme contasse uma narrativa que ajudasse o espectador a perceber o ponto de vista... mas não existe ponto de vista, não existem ideias, não existem propostas, nem personagens nem história. Existe uma bela direcção de fotografia e 111 minutos de nada.

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