Ficámos sem saber como é que um Hamster pode morrer a andar numa roda
Pedro Maia
À falta de um universo criado, Zach Braff revisita o seu próprio "hometown" de Nova Jérsia em "Garden State". Daí que as personagens nos pareçam tão bem enquadradas, os seus hábitos tão psicologicamente correctos. Mas "Garden State" também é um filme sobre hamsters mortos, pilhadores de sepulturas e remorsos, muitos remorsos. Natalie Portman continua a ser a "independent girl" da América actual e nisso talvez se torne a nova Julia Roberts, mas a ver vamos. Andrew (interpretado pelo próprio Zach) vai ganhando consciência, emoções, fazendo desvios à sua rotina no momento em que decide deixar de tomar lítio, droga que lhe foi prescrita pelo pai quando tinha nove anos.<br/><br/>Esse momento coincide com o regresso ao seu estado natal, no interregno de uma carreira(?) bastante pobre como actor. Neste regresso encontra todo aquele aconchego que só temos no sítio onde nascemos, mas também todos os conflitos com a autoridade, personalizados na figura do seu pai. Pelo meio descobre Sam, uma jovem cheia de optimismo e emoções à flor da pele, e que todos os seus antigos amigos se tornaram uma espécie de "freaks" mais ou menos inseridos na sociedade. E será um "mapa do tesouro" a mola que levará Andrew para o despertar de uma consciência, de uma emotividade até aí aprisionada...<BR/><BR/>"Garden State" é o típico "first movie" de um realizador à procura do seu espaço em Hollywood, e realmente é um filme a ir ver. Mas o problema é que parece demasiado intimista, e esse será o grande contra deste filme, demasiado "artesanal", demasiado recortado do imaginário do realizador, e portanto muitas situações do argumento poderão não funcionar para nós, aqui num país da Europa, ou de África, conforme as estatísticas.<BR/><BR/>Há muito interesse em ver este filme, nomeadamente pela forma como todos os actores parecem ajustados aos papéis, sem "forcings" de "cast", como por exemplo o personagem de Peter Sarsgaard, perfeitamente ajustado na sua visão sem-coração do "american dream". Estas personagens ficam na cabeça, não são maléficas, apenas vivem cada dia, num tédio mais ou menos exposto, mais ou menos sentido. E para Andrew o tédio mais distante continua a ser um momento mágico de emoção a que ele aos poucos vai acedendo... será que vai a tempo de amar?
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