Nesta sessão exibem-se dois filmes de encomenda que são, simultaneamente, retratos da cidade de Lisboa (a cidade que acolheu Monique Rutler desde a sua adolescência) e retratos da cinefilia revista à luz do urbanismo. DAS AMOREIRAS AO PARQUE MAYER corresponde ao capítulo de uma série promovida pela Câmara Municipal de Lisboa, onde se convidou um realizador diferente para assinar um retrato documental (em vídeo) sobre cada uma das freguesias da cidade. Monique Rutler, que viveu vários anos na zona do Príncipe Real (bairro que filmou em VELHOS SÃO OS TRAPOS e JOGO DE MÃO), conhecia muito bem os contornos da freguesia e fez deste “vídeo” um retrato tocante de um espaço, entre a decadência das tradições e a força da novidade. Já CARRO DA ESTRELA foca-se num bairro adjacente, e num dos seus mais célebres habitantes: António Lopes Ribeiro. Talvez pelo seu estatuto de “estrangeira”, só mesmo Monique Rutler teve o discernimento e a distância para conseguir encarar a complexa (e controversa) figura de Lopes Ribeiro. Cineasta oficioso do Estado Novo, Lopes Ribeiro foi o realizador que mais se entregou ao cinema de propaganda nacionalista, mas foi também um dos homens de cinema mais cultos da sua geração, um tradutor exímio, um literato e um dos mais populares promotores da cultura cinéfila na televisão no pré-25 de Abril. Os dois filmes são apresentados pela primeira vez na Cinemateca, ambos em suporte digital. Texto: Cinemateca Portuguesa