Filha da Guerra
Título Original
Grbavica
Realizado por
Elenco
Sinopse
Primeiro filme de Jasmila Zbanic e Urso de Ouro no Festival de Berlim, é uma viagem pela dolorosa Guerra dos Balcãs, conduzida por uma mulher bósnia e a sua filha. Esma vive com a filha Sara de 12 anos em Grbavica, um quarteirão de Sarajevo. Esma faz todos os sacríficios para arranjar o dinheiro para pagar uma viagem de estudo à filha, mas para o conseguir vai ter de provar que o pai é um herói. <p/>PUBLICO.PT
Críticas Ípsilon
Críticas dos leitores
Sarajevo, meu amor
Rita Almeida (http://cinerama.blogs.sapo.pt/)
"Sarajevo, meu amor". Este deveria ser, à semelhança de França, o título deste filme em português. O título também de uma canção popular. Esma (Mirjana Karanović) é mãe solteira e vive no bairro de Grbavica, em Sarajevo. Trabalha num bar e faz vestidos por encomenda, mas nem assim consegue reunir o dinheiro necessário para pagar a excursão da escola da sua filha de 12 anos, Sara (Luna Mijović). Pela apresentação de um certificado provando que o seu pai foi um mártir da guerra ("shaheed"), os jovens têm um desconto na viagem, mas Esma parece disposta a manter a verdade para si própria. As inseguranças de Sara, típicas de qualquer adolescência, exigem-lhe que marque a sua posição frente a uma mãe que, mesmo que extremosa, desempenha o papel de autoridade. Sara quer saber quem era o seu pai e que feições passaram geneticamente para ela, quando tudo o que Esma quer é esquecer. Mas o seu processo é de fuga; o grupo de apoio em que participa é para ela apenas a fonte de mais uns dinheiros mensais. O aparecimento de Pelda (Leon Lucev), segurança do dono do bar onde Esma trabalha, vem, no entanto abrir-lhe a possibilidade de um novo caminho.<BR/><BR/>De uma forma inteiramente pessoal, e com um cunho intimista (e por isso duro), a realizadora Jasmila Žbanic, vencedora do Urso de Ouro na 56.ª edição do Festival de Berlim, analisa um aspecto verdadeiramente horripilante: as violações em massa de mulheres durante a guerra da Bósnia (a estimativa oficial - e, por isso, por baixo - é de 20.000 mulheres violadas por soldados sérvios entre 1992 e 1995).<BR/><BR/>Žbanic olha, de uma forma corajosa para estas vidas, símbolo de todas as vítimas, directas e indirectas, deste conflito (e de tantos outros). Apesar da guerra ter terminado, os seus efeitos são muito mais duradouros do que a maioria de nós julga (considerando quem, como eu, vive - felizmente - longe desses extremos atropelos humanos), e a sensação de injustiça persiste.<BR/><BR/>“Grbavica” conta com duas magistrais interpretações por parte de Mirjana Karanović ("Underground", "Life is a Miracle") e da estreante Luna Mijović, completamente entregues a um processo de reconstrução, procurando encontrar significado no meio da devastação (pessoal), eliminando os elementos que evocam um passado brutal, e, por fim, aceitando-o e libertando-se dele.<BR/><BR/>Žbanic tem uma imensa atenção ao detalhe, carregando cada cena de todo o significado possível. Não de todos os significados, entenda-se. É uma questão de intensidade, não de extensão. Žbanic faz-nos perceber todas as inquietudes, todas as dúvidas e todas as contradições das suas personagens. E sabemos que um filme é bom quando uma mão colada a um vidro diz tanta coisa.<BR/><BR/>Há um tom de tragédia em todo o filme, ampliado pela brancura e pelo frio. Não se trata de uma tragédia iminente, mas sim imanente - que persiste naquelas pessoas, que vem de dentro, em silêncio, através de olhares magoados e gestos cortados. Um filme desarmante e comovente, de uma seriedade e uma gravidade a que nenhum de nós, como ser humano, pode ficar indiferente. Nota: 9/10.
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