Eu, Asimov
Pedro Silva Maia
"Eu, Robot" está muito mais próximo de "AI" de Steven Spielberg do que de "The Bicentennial Man" de Chris Columbus, em grande parte pela ideia de "Dark Tale" que Proyas e Spielberg tiveram para o filme e a obsessão de Chris Columbus em arrancar cada gota de "feel good movie" que o conto de Asimov tinha para dar sem ligar às ligações fundamentais da história e negligenciando todos os "pontos morais" desta, tal como a luta pelos direitos cívicos, bem patente no conto de Asimov. Sendo que ambas as histórias se passam num futuro em que a interacção entre homem e máquina se tornou muito mais flúida, a naturalidade com que Alex Proyas, viajante pelo submundo da psique humana, toma conta deste filme é simplesmente fabulosa. Os filmes inspirados em contos de Asimov alinham pela bitola dos grandes orçamentos ("AI" 75, "Bicent" 110, I, "Rob" 100) e atraem "casts" batante completos e sólidos. Ora isto parece-me natural numa atmosfera normalmente saturada por criaturas virtuais e por efeitos especiais.<BR/><BR/>De notar que Will Smith continua a ser o nosso "perseguidor favorito". Em quase todos os seus filmes ele persegue impiedosamente indivíduos com dilemas morais, aqui com uma fraca vinculação racista (quase não está presente ao longo do filme), assim como em "Men in Black" ou em "O Dia da Independência", o seu maior "blockbuster", alienígenas (e o que é um robot senão um Outro incompreensível e estranho?).<BR/><BR/>Alex Proyas notou que é isto que as audiências querem de Will Smith, o seu enovolvimento acidental, a sua resposta mordaz e humorada, e talvez ele seja (juntamente com Johnny Depp, mas este é mais experiente no burlesco) o único actor neste momento habilitado para sacar risos de uma atmosfera tão negra como é aquela que surge da interpretação apocalíptica que Proyas faz do Universo de Asimov. "I, Robot" usa todos os mecanismos de revelação de Asimov, por isso para quem já leu as obras "Robot Completo I e II", o filme a partir de meio será bastante previsível (especialmente para quem leu os contos "Um homem invulgar" e "Pensa".<BR/><BR/>Mas vamos aos factos: "I, Robot" vai estrear numa péssima altura nos EUA. "Spider-Man 2", apesar de estar a revelar muito menos gás que o primeiro filme e muito menos ainda que "Shreck 2", é uma ameaça e certamente provocará mossa no BoxOffice esperado para "I, Robot", assim como provocou na mega-produção de Jerry Bruckeimmer este fim-de-semana ("Rei Artur", mais um filme de Idade Média com contornos rock e heavy metal/gótico). Assim, será de esperar que o filme atinja bons resultados mas não aqueles que seriam de esperar de um "blockbuster" de Will Smith. De salientar que Alex Proyas também tem andado bastante afastado dos lugares cimeiros da produção americana e tudo dependerá da forma como conseguiu manter intactas as ligações da amalgáma de contos.<BR/><BR/><BR/>De salientar que "I, Robot" não é um conto de Asimov. "I, Robot" foi um conto lido por Asimov que o inspirou a escrever o seu primeiro conto, da autoria de Ted Roberts ; )
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