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Duas Mulheres

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Drama 99 min 2009 M/12 24/06/2010 BRA, POR

Título Original

Sinopse

Joana (Beatriz Batarda) e Paulo (Virgílio Castelo) são um casal aparentemente feliz, com estabilidade monetária e sem problemas de maior. Ela é psiquiatra; ele tem um cargo de topo numa multinacional. Num dia que parecia igual a todos os outros, Joana conhece Mónica (Débora Monteiro) que, com a sua beleza e juventude, vem representar tudo o que Joana foi no passado e, mais ainda, o que poderia ter sido caso tivesse tido a coragem necessária. Entre elas nasce uma atracção física incontrolável que ultrapassa os limites e que as conduzirá, inevitavelmente, à tragédia. <p/>PÚBLICO

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A Mulher (e Portugal) no Século XXI

Fernando Costa

“Duas Mulheres”, podia ter sido um “thriller” psicológico mas não é, é um olhar sobre a mulher (no Portugal) do século XXI e sobre a “nova geração” classe alta portuguesa. O filme tem a sua maior qualidade na realização de João Mário Grilo, que embora não fazendo uma obra-prima (tem algumas arestas) faz um filme interessante e que vale a pena ver.“Duas Mulheres”, escrito pela dupla de argumentistas Rui Cardoso Martins e Tereza Coelho, é a história de Joana Amorim (Beatriz Batarda), uma médica psiquiatra casada com um gestor de sucesso de uma empresa de investimento financeiro (Paulo Amorim interpretado por Virgílio Castelo), que vê a voluptuosa Mónica (Débora Monteiro), uma prostituta de luxo, entrar na sua vida depois de esta ter ido parar à urgência de psiquiatria de um hospital privado onde Joana trabalha. Joana fica intrigada com Mónica o suficiente para lhe dar o seu contacto móvel e a partir daí vai ficando cada vez mais atraída por ela. Usando o meio onde Joana se move João Mário Grilo olha a mulher e a classe alta portuguesa do século XXI: I."Modernização e Globalização". Anteriormente muitas vezes retratada como “dondoca” na dependência financeira de um marido, aqui a mulher (Joana Amorim) tem uma formação superior e trabalha. Enquanto antigamente na sociedade latina eram os homens que procuravam e se envolviam em casos extraconjugais, neste filme o marido “fica em casa” e Joana é que vai ter uma aventura - o marido faz o papel do “fiel e honesto” enquanto a mulher é a “prevaricadora”. As personagens dos filmes portugueses estão em mudança, acompanhando a evolução dos tempos. Também a globalização está bem patente no filme, não só nas conversas profissionais (a empresa de Paulo está dolorosamente a tomar consciência da economia global, a qual parece estar a tentar combater) mas também na linguagem com inclusão de algumas deixas de diálogo em espanhol e inglês na boca de personagens portuguesas que falam para portugueses. Se a mudança está visível, também é verdade que o final do filme revela que o conservadorismo e o tradicionalismo não abandonaram Portugal (Virgílio Castelo na mesma deixa consegue ser de uma "modernidade" e de um conservadorismo atroz) - é como se na profundidade algumas coisas continuassem na mesma. II. Mulher e Homem e Mulher e Mulher. Em determinada altura “Duas Mulheres” joga em mostrar a forma como Mónica vê os homens - nitidamente esta usa-os, não os considera excepto pelo que lhe trazem financeiramente. Joana Amorim é mais polida nesse aspecto, mas esse sentimento está lá, na relação fria que mantém em casa, no sorriso mordaz no jantar de anúncio de candidatura de Paulo à presidência, quando aceita ter sexo com um homem desconhecido por ideia de Mónica e no desdém que sente em relação ao pai deste que este a olhou de forma desapropriada. Se este campo fosse suficientemente explorado as duas juntas numa aventura amorosa cairia tão bem quanto a consumação sexual das amizades dos homens da Grécia antiga mas o argumento não explora esta possibilidade o suficiente e a relação sexual das mulheres funciona mais como ponto de fuga em relação às relações com os homens e ao tradicionalismo. Não podemos deixar de referir a cena de “cama” de Beatriz Batarda e Débora Monteiro num quarto de hotel naquele momento tornado em “no man´s land” – nunca o cinema português havia filmado (pelo menos que me recorde, mas sou relativamente jovem) duas mulheres a partilharem uma mesma cama de forma tão sensual…III. A “nova” classe alta portuguesa. Vão-se sucedendo ao longo da película cenas onde se reúnem membros da classe alta portuguesa, que retrata com uma frieza estarrecedora. É tudo tão protocolar (mesmo quando informal), tão sem espontaneidade, tão previsível mas sobretudo pressente-se falsidade… A crítica social é evidente na maneira como se filmam estas reuniões mas também no olhar que estas personagens mostram ter em relação aos outros (aos da mesma classe e do resto do mundo). E quando Grilo filma Lisboa esta parece estar lá “fora” como se as personagens vivessem numa redoma de vidro e o resto do mundo fosse “exterior” a ela. A personagem de Nicolau Breyner, que é neste filme o “herdeiro” de uma classe social alta de uma geração mais velha e aparentemente mais “latina”, faz o contraponto à “nova” classe alta. A certa altura esta personagem faz a seguinte pergunta “E Portugal ainda existe?” – somos deixados na dúvida porque se as pessoas fazem um país, também é o país que faz as pessoas e estas personagens parecem desabitadas, como se a máscara social tivesse tomado conta delas… esta é uma hipótese de um Portugal actual – a máscara… Mónica que vem resgatar Joana é diferente (e se calhar por isso tão apelativa a Joana) mas não necessariamente melhor…Talvez o aspecto mais desequilibrado do filme seja a hipótese do “thriller” que está presente desde o inicio quando a competente banda sonora (de Wagner Tiso) toca sobre os créditos de abertura. João Mário Grilo “lê” essa potencialidade na história e constrói o filme para que essa possibilidade possa surgir a cada passo; Grilo sustem o filme e o “suspense” mas o “thriller” psicológico nunca se consuma. Uma última palavra para os actores: Beatriz Batarda e Virgílio Castelo competentes e Breyner mais uma vez excelente (parece uma lufada de ar fresco, mas tem a vantagem de estar “sozinho”). A interpretação de Débora Monteiro não está ao nível das outras mas não se pode dizer que vá mal de todo e não passa exclusivamente a ideia de uma mulher sensual… Em resumo, já o sabíamos mas confirmamos, João Mário Grilo sabe filmar e filma bem e “Duas Mulheres” é um filme a não perder... vão ver ***(2,75/5)
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