Bumpy road to success.
Rita | cinerama.blogs.sapo.pt
25 anos após a sua estreia na Broadway, o musical “Dreamgirls” surge numa adaptação cinematográfica pelas mãos do argumentista de “Chicago” (2002) e realizador de “Kinsey” (2004). Dreamgirls” conta a história de Effie (Jennifer Hudson no papel interpretado na Broadway por Jennifer Holliday, vencedora de um prémio Tony), Deena (Beyonce Knowles) e Lorrell (Anika Noni Rose), The Dreamettes, um trio de cantoras na Detroit dos anos 60 - muito à semelhança das The Supremes. Descobertas num concurso de talentos por Curtis Taylor Jr. (Jamie Foxx), um vendedor de automóveis com ambições de agente musical, o filme acompanha a sua (tortuosa) escalada para o êxito, focando os seus romances, as suas ambições e as suas frustrações. Em determinado momento, Effie é forçada a sair do grupo e Deena assume a liderança, ao mesmo tempo que o seu manager tenta acomodar o estilo das The Dreamettes às mudanças musicais dos anos 70. Em pano de fundo está o movimento de direitos civis que marcou essa época dos Estados Unidos. <BR/>Desengane-se quem está à espera de puro divertimento, “Dreamgirls” é um filme sentimental até à medula, que explora sem pudor as emoções do espectador. Um dos exemplos disso é a canção “And I Am Telling You I’m Not Going”, um dos momentos mais fortes do filme, que é arrastada até à exaustão da intérprete Jennifer Hudson e do espectador. Ao contrário de “Chicago”, a músicas que em “Dreamgirls” são utilizadas fora do espectáculo, isto é, como diálogo entre as personagens, surgem forçadas e com um conteúdo tremendamente previsível. <BR/>Em termos de história, teria sido interessante ver aprofundada a questão dos roubos musicais que músicos brancos (dos quais Elvis Presley é apenas um exemplo) faziam da música negra. Infelizmente, um tema tão soturno, iria escurecer os luxuriantes guarda-roupa de Sharen Davis e fotografia de Tobias A. Schliessler. Independentemente do fraco argumento, Bill Condon tem uma forte noção estética, e “Dreamgirls” tem momentos verdadeiramente bonitos, como é o caso do movimento circular da câmara em torno de uma personagem - e usado pelo menos duas vezes ao longo do filme - fazendo uma elipse temporal e espacial. <BR/>Mas onde “Dreamgirls” surpreende verdadeiramente, sobretudo pelas fracas expectativas, é nas interpretações (exceptuando a unidimensionalidade da personagem de Foxx). Eddie Murphy, no papel de uma estrela auto-destrutiva, James ‘Thunder’ Early (uma aproximação a James Brown, quem diria que Murphy sabia cantar?) está de tirar a respiração. Por outros motivos, também Beyoncé Knowles (uma sessão fotográfica cola-a na perfeição ao visual de Diana Ross). Aquela que poderia facilmente ser a personagem mais detestável do filme é, graças a Knowles, de uma timidez e simplicidade desarmantes. Muito à semelhança da sua própria humildade em aceitar um papel num filme que dá mais protagonismo a uma estreante do que a ela mesma. Chega-se, pois, à forte interpretação (não só musical) da estreante Jennifer Hudson, a tão falada excluída do programa de talentos "American Idol" e ainda mais falada vencedora do Oscar de Melhor Actriz Secundária. Com uma voz impressionantemente forte e segura ela entrega-se a Eddie de uma forma audaciosa e comovente. (Atenção também à voz de Anika Noni Rose, o terceiro e mais negligenciado elemento do grupo.) <BR/>Bumpy road to success. Happy ending. No surprises...<BR/>5/10.
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