Já visto
Rita (http://cinerama.blogs.sapo.pt/)
"Déjà-vu: substantivo masculino; impressão ou sensação intensa de ter vivido no passado uma situação actual" (in Dicionário Porto Editora) Quem espere deste filme algo a ver com a definição acima, desengane-se. Foi apenas um golpe de marketing. "Déjà Vu" nada a ver com "déjà-vu". Um ataque terrorista faz explodir um "ferryboat" em New Orleans. O investigador da ATF (Bureau of Alcohol, Tobacco, Firearms and Explosives) Doug Carlin (Denzel Washington) é chamado para auxiliar a investigação do atentado e junta-se a uma equipa de peritos, liderados pelo agente Andrew Pryzwarra (Val Kilmer). Esta equipa tem em mãos uma tecnologia experimental que possibilita recuar quatro dias e meio no passado e de observar qualquer lugar e qualquer pessoa dentro de um determinado raio de acção. Tal irá acontecer com Claire Kuchever (Paula Patton) uma aparente vítima do atentado, que Carlin acredita ser a chave para descobrir o criminoso.<BR/><BR/>Mas mais do que descobrir o culpado, Carlin quer reverter o resultado final dos acontecimentos, tentando para isso modificar o passado. Esta abordagem não é propriamente inovadora e filmes como "Back to the Future" e "Butterfly Effect" já o fizeram de uma forma (1) mais divertida e (2) mais consistente.<BR/><BR/>"Déjà Vu" é um teste à nossa capacidade de acreditar no inverosímil, mas, por favor, conseguir observar através das paredes e reconstruir todos os sons e movimentos não é um bocado demais? Tentando esquecer o tom inicial de melodrama barato, com elementos demasiado óbvios para o choque da explosão, o realizador Tony Scott ("Spy Game" - 2001, "Man on Fire" - 2004) e os argumentistas Bill Marsilii e Terry Rossio ("Pirates of the Caribbean") apostam, apesar de tudo, um novo formato de "thriller", onde a abstracção da continuidade do espaço-tempo obriga o espectador a um esforço suplementar. Mas a ausência de clareza é tanta que começamos a pensar que eles estão ainda mais perdidos que nós.<BR/><BR/>No campo das interpretações, Denzel Washington já nos habituou a papéis mornos como este, por isso não é totalmente chocante. Mas é triste ver actores como Val Kilmer e Bruce Greenwood totalmente desperdiçados, com agravante sugestão subliminar de que a captura de terroristas implica uma absoluta devastação da privacidade de todo e qualquer cidadão. Apesar destas contrariedades, "Déjà Vu" oferece-nos uma original cena de perseguição inter-temporal, em que o perseguido está quatro dias no passado relativamente ao perseguidor.<BR/><BR/>"Déjà Vu" é marcado pelo cenário de devastação de uma New Orleans ainda mal desperta da tragédia. Com efeito, este é o primeiro filme rodado naquela cidade depois da destruição de que foi alvo pelo furacão Katrina no Verão de 2005. E se há aqui algum sentido metafórico, é o desejo de que aquele horror não tivesse ocorrido. Pessoalmente, ainda albergo a esperança de lá passar um Mardi Gras. Quanto a "Déjà Vu", está visto. Nota: 4/10.
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