Control
Carlos Eduardo
Existe a calma, a tranquilidade e música neste filme. Existe um filme dedicado ao vocalista dos Joy Divison e à forma como encarava a vida, os seus relacionamentos e a música. Existem momentos de alguma animação, de êxtase e descontrole por parte do mesmo, mas no fim, permanece a calma, e sempre a tranquilidade e o suicídio como forma de encarar os muitos problemas que Curtis vivia e que, em paralelo ao título do filme, não podia controlar.
Desengane-se quem espera um filme cheio de espírito rock n' roll, que mostra os devaneios e a loucura da banda, que mostra a forma deturpada como Curtis encara o mundo, bebedeiras, droga e muitas mulheres, típico das biografias de outros artistas. Temos assim uma descrição de a sua vida desde que conhece a sua mulher Deborah. Depressa casam, novos, e depressa Curtis ingressa numa banda como vocalista inspirados num concerto de Sex Pistols - um dos muitos pormenores deliciosos deste filme no que diz respeito a alusões à época – já que a mesma estava, apática, a precisar de “alguém que soubesse cantar”. Depois disto temos as depressões de Curtis, a epilepsia, a forma como encara os tratamentos e os ataques e o facto de já não amar a mulher. O final já é conhecido de todos. Este filme é bem mais apático (controlado?) que, por exemplo, o último tributo a Johnny Cash, em Walk the Line de James Mangold. E só tem a ganhar com isso. Justifico, este filme tem que ser encarado como uma veste demasiado agarrada à pele, ou por assim dizer, o filme dilui-se bastante com a personalidade de Curtis. Tudo o que vemos e a forma como é filmado (planos longos, sem rotação de câmara, bastantes expressivos e aproximados, aplaudidos de pé nas sequências dos ataques de epilepsia e nas alturas em que o actor extrapola em movimentos à frente do microfone) são precisamente para mostrar a dureza dos acontecimentos, para mostrar o quão rápido foi a ascensão dos Joy Divison e o seu percurso assim como a angústia de Curtis perante os seus problemas físicos e existenciais também patentes nas suas composições. Esta forma crua e rude de filmar mostra-nos imagens e pormenores espectaculares, jogos de sombras e reflexos a que não estamos acostumados. A fotografia e a produção são de um detalhe espectacular e irrepreensível, sendo que o facto de a cidade de Londres já ajudar nos exteriores pelo seu aspecto intemporal.
Não se pode assim torcer o nariz a este filme pelo facto de não ter a loucura de uma banda de rock n’ roll e de não mostrar a loucura dos pós concerto (podemos aliás ver no filme que era bastante comedida). Teremos só que compreender que a película tenta mostrar aquilo que Curtis era e sentia até se suicidar. E tal como podemos ter a percepção, tal como este filme, teve muito pouca cor.
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