Belfast
Título Original
Belfast
Realizado por
Elenco
Sinopse
Críticas Ípsilon
Quando Kenneth Branagh se encontrou em tempos de Troubles
De forma confessadamente autobiográfica, Belfast vem contar o último capítulo da infância norte-irlandesa de Branagh.
Ler maisCríticas dos leitores
A armar ao pingarelho
Natividade Luis
Suportável, embora o filme ganhe outra dimensão quando KB pára as suas insuportáveis posições exóticas de câmara e a coloca, paradinha, à frente dos actores. O excerto de "O Comboio Apitou 3 Vezes" que colocou deveria tê-lo levado a perceber que a colocação da câmara não é puro artificialismo, como ele faz com os seus plongés e contra-plongés meramente artificiais, mas antes tem uma função dramática: a de sublinhar o perfeito isolamento do sheriff face a toda a cidade... Godard dizia que a escolha de cada "travelling" era uma mera questão de moral, e KB parece que ainda não percebeu isso...
MasterPiece
Martim Carneiro
Que filme! Que Realização! Que Fotografia! Que Actores! Que Banda Sonora! Imperdível!
Belfast
Vera Pereira Cabral Esquivel
Muito, muito fraco, valeu-se pela interpretação de Judi Dench, o argumento pobre, pouca profundidade histórica, muito limitada, sem grande veracidade (quando a mãe vai com o filho devolver à loja a caixa de detergente...!). Diálogos que soam a dejá vu, um horror, sete Oscars? Gostei do chitty chitty bang bang, eu tinha oito anos quando vi no cinema.
OMO lava mais branco
JR
4 estrelas
José Miguel Costa
O filme "Belfast" é um afectivo drama histórico algo naif (e não o caracterizo deste modo com um intuito depreciativo, mas simplesmente por ter na sua génese a perspectiva de um evento sob o olhar de um menino alegre), inspirado nas próprias vivências do próprio realizador (Kenneth Branagh), que recua até à Irlanda do Norte de final da década de 1960, e mais concretamente a uma rua de um dos seus bairros operários, para expor-nos perante o eclodir de um conflito (a um nível micro) que irá colocar em lados opostos da barricada vizinhos católicos nacionalistas e protestantes unionistas, que até então privavam entre si de forma relativamente harmoniosa.
É uma obra desenhada para os óscares, com uma narrativa simples sem quaisquer ambições de índole analítica, que se destaca pela excelência da fotografia a preto e branco, bem como pelo humanismo emanado pelos personagens (nomeadamente o magnético rapaz e seus avós, encarnados, respectivamente, por Jude Hill, Ciáran Hinds e Judi Dench) e nostalgia impressa pela banda sonora de Van Morrisson.
Muito bom
V. Guerra
Branagh consegue um excelente filme, com imagem a preto e branco do melhor na arte. A história apresenta uma visão do conflito, que foi /é supostamente religioso. Quanto aos personagens, uma mãe de família um pouco "pin up", mas um miúdo fabuloso.
Belle & Fast
Pedro Brás Marques
Para a minha geração, Belfast é muito mais do que o nome da capital da Irlanda do Norte. Já vinha de trás, mas ali na esquina dos anos 70 e 80, o conflito entre unionistas e nacionalistas e respectivos braços armados, o IRA e o Exército Britânico, e religiosos, protestantes e católicos, sem esquecer as greves de fome como a de Bobby Sands, os atentados à bomba como o de Brighton, os incontáveis assassínios como o de Lord Mountbatten, tudo isto e muito mais era notícia diária no então solitário Telejornal. E depois ainda se escutavam ecos em canções, filmes e documentários que garantiam um misto de terror e admiração por ainda existir um conflito desta natureza não só na Europa como no final do século XX.
E é precisamente a meio da fase do conflito que viria a ser conhecida por “The Troubles” que se centra a trama de “Belfast”. O protagonista é Buddy, um miúdo de nove anos, que vive essencialmente com a mãe, numa casa que, quando se abre a porta, dá diretamente para o centro do furacão. Pelos seus olhos vemos as ameaças ao pai a favor da “causa”, o terror estampado nos olhos da mãe, as desconfianças, os preconceitos, os “petty crimes”, o ódio e a violência, muita violência, até de quem mais a deveria combater, o clero. A solução é sair dali, como pretendem os pais, mas não é fácil ir para a Inglaterra ou até para a Austrália. Mas nem tudo é mau. Buddy tem amigos, tem uns avós amorosos e uma mãe carinhosa, um verdadeiro anjo da guarda no meio daquele inferno.
Kenneth Branagh baseou este seu filme em notas autobiográficas. O realizador e argumentista nasceu em Belfast e ali viveu até aos nove anos, quando os pais fugiram para Inglaterra. A sua visão do conflito não é a de alguém recalcado, mas antes de quem já atingiu um nível de maturidade que o torna capaz de contar a história pelo lado das personagens e não das fações em confronto. Branagh faz isto duma forma que se pode rotular de “natural”, atendendo às circunstâncias, mostrando os conflitos muito mais nas faces, nas expressões e nos olhos dos protagonistas, do que na exposição manipuladora de actos de violência. Aqui, o destaque vai todo para o miúdo, Jude Hill, com uma expressividade absolutamente notável, entretido nas suas guerras de faz de conta… Caitriona Balfe, a inesquecível Claire de “Outlander”, espalha elegância, sensualidade e luz, em contraste com a escuridão e a sujidade que a rodeia. Fabulosa a cena da pilhagem, em especial pelo simbolismo, quando Buddy está a sair do supermercado com uma embalagem na mão, a mãe vê e obriga-o a devolvê-la – era uma caixa de… detergente! Outra fonte de calor é oferecida por Judi Dench e Ciarin Hinds, os adoráveis avós de Buddy. O preto e branco sublinha todas estas dualidades, incluindo uma invisível, entre passado e presente. Nesse sentido de registo cromático e autobiográfico, com referência à infância, é impossível, aqui, não recordar outro grande filme, “Roma”, de Alfonso Cuarón.
Mas Branagh vai mais longe na sua intenção de evocar o (seu) passado. Desde logo, a banda sonora, quase toda baseada no genial Van Morrison, outro nativo de Belfast, alguém que soube fazer a ponte entre o folk e a contemporaneidade, exemplo claro de que há quem tenha conseguido ser superior à eternização das quezílias locais. E claro, cinema, muito cinema, em especial na televisão, onde Buddy fica fascinado com clássicos dramáticos como “O Comboio Apitou Três Vezes” e “O Homem que Matou Liberty Valence” e musicais coloridos como “Chitty Chitty Bang Bang”. Ou seja, o cinema a ecoar os matizes da vida em Dublin. Ah! E depois há a maravilhosa cena da dança entre o pai e a mãe de Buddy, expressão máxima de que há algo que ultrapassa qualquer conflito: o Amor.
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