O filme "As Oito Montanhas" (vencedor do Prémio do Júri no último Festival de Cannes), realizado pelo casal belga Charlotte Vandermeersch e Felix Van Groeningen, é um melancólico drama existencialista que se constituí como uma ode à inabalável amizade masculina (capaz de sobreviver às contingências espácio-temporais e às diferenças socioeconómicas). A história (narrada em voz off) sobre a incessante busca pela identidade e a comunhão/conexão instintiva (não exigente ou limitadora) de duas almas de "mundos diferentes", cuja acção decorre (sem pressas - em modo quase contemplativo - ao longo de 2h 30 m) no vale da Aosta (Alpes italianos), inicia-se na década de 1980 com a chegada Pietro (Luca Marinelli), um solitário e pouco sociável menino de 11 anos (proveniente de Turim), em virtude dos seus pais terem aí comprado uma pequena casa de férias. Na aldeia apenas reside um menino, Bruno (Alessandro Borghi), encarregado de ajudar os tios (com os quais coabita, devido à sua mãe ter falecido e o pai encontrar-se emigrado) no árduo trabalho de criação de animais. Entre ambos estabelece-se no imediato uma relação de irmandade, que irá prolongar-se ao longo de vários verões (a época do ano mais desejada pelos dois, já que esta é sinónimo do reencontro e do vaguear incansável pelas luxuriantes montanhas). A determinado momento será equacionada a mudança de Bruno para casa de Pietro, para que possa continuar os estudos (custeados pelos progenitores deste último). Todavia, inesperadamente o pai de Bruno retorna e obriga o menor a ir consigo (sem direito a quaisquer despedidas) para o estrangeiro com o objectivo de laborar na construção civil. Desse modo, o elo entre os dois miúdos quebra-se por completo, sendo que só voltarão a reencontrar-se 20 anos depois (como perfeitos estranhos), aquando da morte do pai de Pietro. À data fazem as pazes com o passado e iniciam a construção de uma casa no topo da montanha (para dar cumprimento a uma promessa feita ao falecido) - evento que irá implicar a sua reaproximação mútua "para todo o sempre". Um relato meditativo e bucólico de uma amizade perdida e reconstruida, que se agiganta devido à quimica emanada pela dupla de actores (que não necessitam de grandes verbalizações para expor os seus "sentires"), bem como pela magnífica experiência visual que advém das paradisíacas paisagens (sem cair na armadilha de filmar um "postal turístico", até porque capta imagens num atípico formato 4:3 - pequeno ecrã de formato quadrado).

Um grande tributo à amizade e às coisas simples que nos fazem felizes.

Um filme sobre a amizade improvável entre dois rapazes. ​