As Irmãs Macaluso
Título Original
Le Sorelle Macaluso
Realizado por
Elenco
Sinopse
Críticas dos leitores
O Arco da Vida
Pedro Brás Marques
Há filmes assim, com uma densidade dramática tão intensa, com um simbolismo tão poderoso, que se torna difícil "desligar", muito depois do fim.
São cinco as irmãs Macaluso: Maria, Pinucia, Lia, Katia e Antonella. Quando as conhecemos, são órfãs, terão entre 18 e 5 anos, vivem autonomamente num apartamento em Palermo, em frente ao mar, e sobrevivem do aluguer de pombas brancas para casamentos e eventos, por via dum enorme pombal situado no terraço. Aparentam ser felizes, mas, numa ida à praia, Antonella tem um acidente e morre. Vamos, depois, encontrá-las já mulheres, amando-se e detestando como é próprio de irmãs, e onde a ferida deixada pela memória da desaparecida continua completamente aberta. Finalmente, aparecem as quatro já idosas, girando à volta dos objectos e das memórias, sempre com enfoque em Antonella.
Estamos, portanto, perante um drama familiar que atravessa o tempo mas permanece quase sempre no mesmo espaço. Isto porque a vida no exterior, a luz brilhante e a alegria contagiante (veja-se a dança na praia) que ilustra a vida das irmãs no tempo pré-tragédia, sofre uma mudança brutal após o acidente. A acção passa a centrar-se mais no interior do apartamento, a escuridão invade o espaço e a degradação estrutural vai aumentando. Ou seja, Emma Dante faz sincronizar o evoluir do estado de espírito das irmãs com o estado físico do lar. Mas o extraordinário trabalho da realizadora e dramaturga, autora da peça original, vai muito mais longe, enriquecendo o filme com imagens duma riquíssima simbologia. Começa logo no início, com as irmãs a fazerem um buraco redondo numa parede, com o uso dum pau, em movimentos ritmados… Depois, a reverberação do pombal, onde as pombas (brancas…) estão aprisionadas. As visões do corpo de uma das irmãs, sucessivamente novo, maduro e velho, com o tal eco no estado do apartamento, tudo ingredientes do sentido maior do filme, que é a o de materializar as três grandes etapas da viagem existencial de cada ser humano. E atente-se noutra simbólica, a do número cinco, representando a força (os dedos de cada mão que, juntos, são fortes; as cinco extremidades do corpo; o pentágono e o pentagrama, etc…) e cuja perda dum elemento, Antonella, faz ruir esse poder. No final, o que é que sobra? Memórias, objectos e sombras mesmo antes da libertação final, pela morte. O momento das pombas brancas levantarem voo…
Se a história, riquíssima, é maravilhosa, seria injusto esquecer a extraordinária fotografia que a ilustra, bem como uma realização que não cede à efemeridade e a uma estética vazia, mostrando a existência das irmãs (e do quarto…) na sua plenitude, entre a beleza e o grotesco. “As Irmãs Macaluso” é muito mais do que uma história de família, é um verdadeiro retrato da condição humana, lugar onde convivem a alegria e a tristeza, a dor e o prazer, a derrota e a vitória, a luz e a escuridão, a vida e a morte.
4 estrelas
José Miguel Costa
Lá dentro inquietação
João
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