Alcarràs
Título Original
Sinopse
Há já três gerações que a família Solé sobrevive do cultivo de pessegueiros na pequena cidade de Alcarràs (Catalunha, Espanha). As suas vidas, até aí pacatas, mudam quando recebem uma notificação do senhorio que lhes dá até ao final do Verão para abandonar a terra. O proprietário dos terrenos tenciona arrancar todas as árvores para que ali possa ser feita a instalação de painéis solares. Essa notícia vai abalar todos os elementos da família que, apesar de muito unidos, têm formas diferentes de abordar o futuro ou de encontrar novas formas de sustento. Essa insegurança, vai dar origem a desavenças difíceis de gerir.
Um drama sobre solidariedade e relações familiares realizado pela catalã Carla Simón – que, tal como no filme “Verão 1993”, se volta a inspirar na sua infância – segundo um argumento seu e de Arnau Vilaró. Vencedor do Urso de Ouro no Festival de Cinema de Berlim, “Alcarràs” conta com um grupo de actores não-profissionais provenientes da região onde decorreram as filmagens. Entre eles estão Jordi Pujol Dolcet, Anna Otin, Xènia Roset, Albert Bosch, Ainet Jounou ou Josep Abad. PÚBLICO
Realizado por
Elenco
Críticas dos leitores
Alcarràs
Fernando Oliveira
Nos arredores de Alcarràs, povoação rural na Catalunha, uma família vive da exploração agrícola de um pomar de pessegueiros; só que os terrenos tinham sido cedidos durante a Guerra Civil Espanhola, não há contratos assinados – eram outros tempos – e agora o proprietário quer ocupar o terreno com painéis solares; têm até ao fim do Verão, o tempo para a colheita, depois o pessegal é arrancado.
O filme começa com uma “viagem no espaço”, onde os tripulantes são perturbados por ruídos ameaçadores. Os tripulantes são três crianças que brincam num velho carro, os ruídos são produzidos por uma retro-escavadora (?). O filme segue as crianças até à casa da quinta onde habitam. Os adultos discutem a ordem de despejo, procuram uma solução. Como no outro filme de Carla Simón que conheço, “Verão 1993”, é pelo olhar das crianças, neste mais dos dois filhos mais velhos, que vamos assistir aos conflitos que a situação provoca na família; ao desespero que vem da incerteza, ao sentimento de impotência que tomam conta de todos eles. À tristeza. No filme de 2017, Frida aprendia a viver com a morte da mãe, neste o olhar confuso Mariona, Roger e Iris, os três filhos de Quimet e Dolors é o mesmo, confronta uma perda.
“Quero contar histórias a partir das emoções das personagens”, diz a realizadora numa entrevista, e é absolutamente comovente como o faz a partir de um grupo de actores amadores; “olhando-os” muitas vezes em planos cerrados, seguindo-lhes os seus gestos e os seu olhares, balançando entre o dramatismo da história – as convulsões provocadas pelo passar do tempo e o fim do Verão que se aproxima, a crise provocada pela política agrícola europeia - e um olhar quase documental para o que vai acontecendo: a colheita do pêssego, os almoços de família, a festa na vila, as histórias que a avó conta.
Gosto muito destes filmes em que o olhar da câmara quase que entra de surpresa na vida dos personagens, torna-se parte da história, e depois de a contar abandona-os, deixa-os “viver”. E deixa-nos com pena de não os continuar a seguir. E não será isto a mais correcta definição do realismo no Cinema? Belo filme.
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