Clássico qb.
Pedro Brás Marques
Muitos filmes de terror vi durante a explosão dos vídeo-clubes nos anos 80! E, entre eles, claro, toda a fornada da década anterior. A Hammer ainda respirava, os filmes de monstros descobriam que debaixo da água também tinham representantes de dente afiado, os “slasher movies” davam os primeiros passos, a ficção científica descobria este nicho “alien” mas a grande cartada estava reservada para o paranormal, com destaque absoluto para “O Exorcista”, logo seguido pelo britânico “The Omen/O Génio do Mal” sem esquecer o esmagador “Amityville”, um quase irmão gémeo deste “A Evocação”, como à frente recordarei. Este pequeno passeio por uma década do cinema de terror não é despicienda porque muito dos ingredientes desta colheita serviram, precisamente, para cozinhar este “The Conjuring” <br />Com efeito, o filme de James Wan é um regresso ao passado, não só ao nível do argumento, mas também a um certo estilo de fazer cinema de terror, onde valem muito mais a sugestão, os sons e os ruídos, do que uma torrente de efeitos especiais e CGIs ou o “gore” desenfreado que invadiu a temática nos últimos tempos e de que Wan é um dos culpados, com a sanguinária série “Saw”. Mas o realizador malaio saiu-se muito bem. Desde logo, a reconstrução está irrepreensível, acentuada pela opção cromática de descolorar um pouco a paleta de cores. Depois, como referi, vai buscar elementos a muitos filmes icónicos daquela época, alguns já referidos, mas ainda outros, como os “travellings” de “Shining” ou os pássaros da obra homónima de Hitchcock e mais recente como o “O Projecto Blair Witch” ou “Actividade Paranormal”. Mas, efectivamente, o filme que mais me recordou foi “Amityville-A Mansão do Diabo”, até porque se baseia igualmente numa investigação do casal Ed e Lorraine Warren. Aqui, em “A Evocação”, a casa está ocupada por uma bruxa que tenta possuir a mãe da pobre família que para ali foi habitar… Imagem poderosíssima, a da enorme árvore no exterior, junto ao lago, arquétipos da ligação entre o submundo e o mundo sensível. <br />No todo, um bom filme, sublinhado com duas excelentes interpretações, de Vera Farmiga e Patrick Wilson. Ela, que ainda agora acabei de ver noutra belíssima interpretação, na série “Bates Motel” (exactamente, Hitchcock de novo!) está, como sempre, excelente na sua ambivalência dramática, entre momentos mais serenos e outros de absoluta violência. Já Patrick Wilson continua a exibir uma elegância interpretativa rara – e não estamos a falar de underacting! Um bom filme, mesmo fora da temática do Fantástico!
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