Parece injusto comparar "Whale Rider" com "Once Were Warriors", o outro veículo cinematográfico da presente realidade maori. Parece injusto porque WR é um poema, a narração íntima e épica do mais novo ciclo numa história antiga, contada através dos dois soberbos protagonistas, Koro e Pai (avô e neta), sobre o fundo melancólico da Nova-Zelandia rural, enquanto OWW era uma crua descrição da violência latente no espírito maori e no seu modo de vida nas margens desoladas de uma urbe ocidental. Mas o certo é que a mesma força irresistível enche os dois filmes e a alma de quem os vê: a de uma cultura que perdura, a de um orgulho que resiste ao desemprego e ao abandono, a de uma beleza para lá dos cânones de Hollywood (mesmo quando aparenta segui-los) e a de uma verdade para lá da que os olhos vêem. E uma mesma paixão: a de que uma antiga cultura viva no sangue dos mais novos. Para ver e chorar (por mais).

Um filme feito de pequenas coisas. Feito de um avô que sempre esperou um neto para trazer de volta o esplendor do passado e que sempre considerou a sua neta como uma futura dona de casa. Esta, aos poucos, vai-lhe mostrando que e ela a verdadeira redentora, a domadora de baleias. É um filme que nos faz sentir bem, um filme que nos lembra que a vida pode ser maravilhosamente bela. E cuidado com Keisha Castle-Hughes, este é de certeza um nome que vai andar nos argumentos mais quentes do cinema. É uma actriz nata.