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All We Imagine as Light - Tudo o Que Imaginamos como Luz

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Romance, Drama 118 min 2024 M/12 19/12/2024 SUI, ITA, EUA, BEL, Índia, LUX, FRA

Título Original

Três mulheres a viver em Bombaim: Prabha (Kani Kusruti), enfermeira-chefe de um grande hospital, recebe em casa uma panela eléctrica que parece ter sido enviada pelo marido, emigrado na Alemanha, de quem há muito não tinha notícias; Anu (Divya Prabha), colega de trabalho e de quarto de Prabha, não aceita a ideia de um casamento arranjado e está apaixonada por Shiaz (Hridhu Haroon), um jovem muçulmano, com quem anseia encontrar-se a sós; já Parvaty (Chhaya Kadam), cozinheira no mesmo hospital, enfrenta a possibilidade de perder a casa onde vive e decide regressar à pequena cidade onde nasceu.

Através do dia-a-dia de cada uma delas, o espectador assiste à luta das classes trabalhadoras (especialmente mulheres) na maior cidade da Índia, onde a vida é difícil e o progresso choca muitas vezes com a tradição.

Primeiro filme indiano a receber o Grande Prémio em Cannes (e o primeiro em 30 anos a competir pela pela Palma de Ouro), um drama com assinatura da indiana Payal Kapadia, que aqui se estreia na realização em longa-metragem de ficção, depois do documentário “Noite Incerta” – que, em 2021, lhe valeu o Prémio Oeil d’Or na Quinzena dos Realizadores, em Cannes, e o de Melhor Filme no Lisbon Film Festival (LEFFEST). PÚBLICO

Críticas Ípsilon

Bombaim, sinfonia de uma grande cidade: Tudo o que Imaginamos como Luz

Vasco Câmara

Um território povoado por ficções, uma megalópole do sonho e do esquecimento, ali pode-se ser alguém e ninguém ao mesmo tempo. Como um documentário? Sim, como um musical.

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Sessões

  • Coimbra

Críticas dos leitores

All We Imagine as Light

Maria Emília Soares

Óptima realização e muito boa banda sonora.

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Tudo o que imaginamos como luz

Fernando Oliveira

Um documentário sobre o ritmo caótico e coral de Mumbai, filmada de noite e debaixo de chuva; uma ficção sobre três mulheres aprisionadas por regras sociais (as castas, a obediência das mulheres) e familiares (os casamentos combinados) que lhes roubam uma hipótese de felicidade; e acima de tudo uma exaltação da sororidade.

Um olhar sobre a vida numa cidade onde quase toda gente é ninguém mas que têm de viver na ilusão de ser alguém, e um olhar encantado sobre três mulheres que não sabem, não podem, libertar-se dos grilhões que as prendem, encantado quando olha para os seus movimentos e olhares, quando ouve as suas palavras, quando olha para a chuva, paras as roupas que vestem ou para a comida que cozinham, ou quando comem, um olhar que assim nos deixa a ver aquelas três mulheres como estivessem “fora” da cruel realidade onde habitam e muitas vezes sentem não pertencer.

“Tudo o que imaginamos como luz” de Payal Kapadia é um filme maravilhoso por muita coisa mas também por este enleio entre um realismo social duríssimo e um lirismo feminista que nos enternece. Mumbai é uma cidade de migrantes, pessoas que “fogem” do campo à procura de um sonho: uma vida melhor. É assim que começa o filme. Olha da janela de um autocarro para a confusão do comércio de rua, da cidade, o seu som, persistente, está sempre presente, e ao mesmo tempo ouvimos frases que de pessoas que nos transmitem o seu sentimento de não pertença àquele lugar, que é ao mesmo tempo uma possibilidade e uma ilusão. Uma hipótese de felicidade e de amor.

Depois, o filme vai ao encontro das três mulheres, todas trabalham no mesmo hospital: Phraba é enfermeira, é casada mas o marido imigrou para a Alemanha e abandonou-a, vive com uma colega mais nova, Anu, e um gato; esta vive um amor proibido com um rapaz muçulmano, e com ele deambula pela cidade para poderem ter momentos de intimidade; e Parvaty, cozinheira no hospital, viúva e prestes a ficar sem casa, o prédio onde habita vai ser demolido.

Phraba recusa o amor de um colega médico, fechou-se na sua solidão; Anu tenta construir uma realidade em que possa ser feliz com o namorado; Parvaty decide regressar às origens, à sua aldeia. Anu desafia a cidade, Phraba e Parvaty libertam-se apenas uma vez: quando mandam pedras a um cartaz no prédio da segunda onde está escrito “A classe é um privilégio reservado aos privilegiados”.

Quando Parvaty regressa à sua aldeia, as outras duas acompanham-na na viagem, aí o filme abraça o misticismo, toca a magia, transcende-se: há aquele momento alucinado de Prahba - um delírio, um sonho, uma memória? - onde ela vê no homem afogado que salvou na praia o seu marido; e aquele outro, naquela gruta “encantada” onde Anu e Shiaz, o namorado que a seguiu, se entregam um ao outro; ou quando dançam na casa de Parvaty.

Naquela aldeia, na floresta que a rodeia, na praia, abre-se uma hipótese de liberdade. Acabam todos a ouvir música, a dançar, num bar da praia. Shiaz está com elas. Mumbai está muito longe. O mais “musical” filme deste ano. E um dos mais belos. (em "oceuoinfernoeodesejo.blogspot.com")

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4 estrelas

José Miguel Costa

"Tudo o Que Imaginamos Como Luz", primeira longa-metragem de ficção realizada pela indiana Payal Kapadia (que também acumula os papéis de argumentista e protagonista), vencedora do Grande Prémio do Festival de Cannes, é um "drama feminino" sobre a influência que as conservadoras tradições classicistas e machistas ainda continuam a ter no controle das relações conjugais, através dos "casamentos combinados" por familiares à revelia dos futuros casais (inclusivé, no universo de mulheres cultas e emancipadas residentes nas grandes urbes cosmopolitas).

A sua melancólica e afectuosa história acompanha o "quotidiano minimalista" (pejado de obstáculos) de 3 amigas solitárias, pertencentes a gerações distintas e provenientes de diferentes zonas da India, que trabalham num hospital de Bombaim (uma cozinheira viúva na eminência de ser desocupada, vitima da especulação imobiliária; uma enfermeira casada, cujo marido, que praticamente não conhece e não estabelece qualquer contacto consigo há mais de um ano, está emigrado na Alemanha; e uma jovem solteira, estudante de enfermagem, enamorada por um árabe, mas prestes a ter um homem desconhecido negociado pelos progenitores).

A narrativa, que poder-se-á considerar dividida em dois capítulos (uma primeira parte com uma vertente algo neorrealista e uma segunda metade mais metafórica e onírica), não é propriamente dotada de uma consistência "à prova de bala". Todavia, o Todo conquista-nos irreversivelmente. De facto, é quase impossível resistir às suas nunces de lirismo e humanismo/"doçura", captadas com enorme sensibilidade e empatia por uma câmara atenta aos mais subtis gestos e expressões faciais dos personagens num caótico ambiente eminentemente nocturno de uma cidade em constante movimento (despida do caracteristico exotismo e "pintada" em belíssimos tons de azul sombrios).

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