O Poder do Cão

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Western, Drama 126 min 2021 03/03/2022 EUA

Título Original

The Power of the Dog

Sinopse

Década de 1920. Os irmãos Phil e George Burbank possuem um grande rancho situado no Montana (EUA). Phil é um “cowboy” deliberadamente rude, provocador e por vezes cruel. George, pelo contrário, é um homem gentil e conciliador, que se esforça por manter a harmonia. Um dia, cansado da solidão, George pede a mão a Rose, uma viúva que gere um pequeno restaurante com o filho, Peter, um adolescente tímido e inseguro. Phil, que considera o casamento do irmão uma afronta pessoal e que não vê com bons olhos que aqueles dois estranhos se mudem para a sua casa, não perde a oportunidade de os atormentar e oprimir.
Com assinatura da neozelandesa Jane Campion (“O Piano”, “In the Cut - Atracção Perigosa”, “Bright Star - Estrela Cintilante”), um “western” que adapta o romance homónimo escrito, em 1967, pelo norte-americano Thomas Savage (1915-2003). Vencedor do Leão de Prata na 78.ª edição do Festival de Cinema de Veneza, “O Poder do Cão” teve 12 nomeações para os Óscares, arrecadando o de melhor realização. A banda sonora original, nomeada para os prémios da Academia, é da autoria de Jonny Greenwood, dos Radiohead, já nomeado na mesma categoria pelos filmes “Haverá Sangue” (2007) ou “A Linha Fantasma” (2017). PÚBLICO

Críticas dos leitores

Que filme é este?

Ricardo Abel

Vou ser muito rápido e sucinto. <br />Se um filme destes teve 12 nomeações para os Óscares, então o cinema está mesmo a passar por um período muito mau aliado a uma crise tremenda de criatividade e originalidade. <br />Filme lento, chato, enfadonho, enfim, só consigo encontrar algo de jeito na fotografia. <br />
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Olá, Onde Estão os Senhores Críticos?

Tomás

Não era suposto os senhores críticos do Público verem este filme para nos dizerem as suas opiniões? Não sou fã de Jane Campion, mas este é capaz de ser o seu melhor filme, muito longe do pretensiosismo e do mau gosto sobrevalorizados de outros tempos.
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Fraquezas e forças

Nazaré

Vale a pena ver esta fita, não porque é de cowboys (embora os tenha), não pelo Benedict Cumberbatch (embora seja bom), não pelas múltiplas nomeações para os óscares (embora mereça ganhar um ou outro). É pelo rancho, e como ele marca as personagens. Se é isso que é o poder do cão, que seja, embora ache a ligação algo forçada (ou então não percebi).
Qualquer pessoa dirá: o que impede a agora Mrs. Burbank de tocar uma pianada para as visitas? Treino e capacidade não lhe faltaria, mas noutro local, noutro momento da vida. Os fortes ficam fracos, e os fracos também são fortes. E nisso, esta fita tem originalidade e é brilhante.
O protagonista continua a ser demasiado 'over the top' para o meu gosto, cheira-me que ele precisa do tipo de amadurecimento por que passaram Sean Connery e Anthony Hopkins para igualmente atingir o verdadeiro cume do seu (enorme) talento. É uma delícia rever Kirsten Dunst, mas o anguloso Kodi Smit-McPhee é a mais volumosa (se é que pode dizer-se) surpresa neste cast. Na biografia dele vêem-se prémios e nomeações desde a idade dos 11 anos, não é por acaso.
O óscar que de certeza tem de vir para esta fita é o da melhor música original (Greenwood, e sou só um mero apreciador dos Radiohead).

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Denso

Ana Isabel

Perturbador. Desempenho notável da personagem forte e frágil de Kristen Dunst. Boa fotografia.

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Cinema de sempre

V. Guerra

Fantástico como Campion filma agora, com a melhor qualidade do cinema de sempre, as imagens, os personagens, as tensões e a narrativa.

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Brilhante!

Pedro Brás Marques

“The Power of The Dog” (Netflix) é um filme notável, pela sua complexidade, pela profundidade do argumento, pela forma engenhosa como engana o espectador até perto do final e também por ser um tipo de produto que se afasta das produções típicas do mercado de streaming, onde a quantidade muitas vezes se sobrepõe à qualidade.

Estamos em Montana e, se não fosse um ou outro automóvel, seria impensável acreditar que a acção decorre em 1925. Dois abastados irmãos, Phil e George, conduzem uma enorme manada de gado quando param numa hospedaria, gerida por Rose e pelo filho, Peter, um adolescente frágil e cheio de tiques, que é gozado por todos, em especial pelo auto-confiante e agressivo Phil. Mas o pacato e dócil George acaba por se apaixonar por Rose, pede-a em casamento, ela aceita e passam a viver todos juntos. Phil continua a gozar com Peter e a detestar a cunhada, descobrindo o seu ponto fraco, a bebida. A razão de muita da raiva de Phil prende-se com o facto de ter perdido um amigo, mentor e amante, Bronco Henry. Num ambiente masculino como o dos vaqueiros, a sua agonia cresce e quando repara que Peter o viu nu a tomar banho, Phil muda radicalmente de atitude perante o miúdo, tornando-se como que um orientador e conselheiro de Peter nas artes dos cowboys. Mas nem tudo o que parece é…

Associar vaqueiros a homossexuais evoca, imediatamente, “Brokeback Mountain”, mas isso é enganador. Se há, aqui, referências visuais e temáticas, elas não estão na sexualidade mas nos clássicos. Jane Campion foi lá inspirar-se e o resultado é muito bom. A primeira citação é, obviamente, a de “Red River”, de Hawks, também uma história de confronto entre dois homens, um pai e o seu filho adoptivo, durante a deslocação duma imensa manada bovina. E, claro, seria impossível esquecer John Ford e “A Desaparecida”, em especial a icónica cena em que Ethan sai pela porta da cabana, filmada em contraluz. Jane Campion faz o mesmo em portas, portões e até em janelas, emulando brilhantemente a dualidade entre o dentro e o fora, entre quem entra e quem sai, entre luz e escuridão, entre o Bem e o Mal… Mas se o faz, também joga com o estereótipo do macho-alfa, do duro “Malboro Man”, alertando que, num meio quase exclusivamente masculino, a homossexualidade não seria algo de estranho…

A realizadora neozelandesa nunca foi muito prolífica, apresentando quatro filmes neste século. Mas este “The Power of The Dog” está ao nível de excelência das suas obras maiores como as longínquas “The Piano” e “The Portrait of a Lady”. Desde a fotografia, aproveitando as dramáticas paisagens de Montana, até à direcção de actores, tudo esteve perfeito. Benedict Cumberbatch tem aqui, porventura, a melhor interpretação da sua carreira. Kirsten Dunst também lhe pode agradecer, ao voltar a ter um papel que faz jus à sua excelência, o que já não se via desde que Sofia Coppola a dirigiu em “The Beguilded”. Mas o mais interessante, repete-se, é mesmo o trabalho de Campion, em especial na construção da enorme carga simbólica: Phil muitas vezes filmado dum plano inferior para lhe dar “grandeza”; ou quando está mergulhado na água do rio até aos olhos, qual predador à procura de caça; ou quando está a enfiar um grosso tronco na terra, em movimentos verticais ritmados, enquanto olha para Peter; ou quando filma as veias dos cavalos, símbolos eternos de masculinidade; ou quando nos mostra, igualmente com detalhe, Phil a fazer uma corda, intumescendo-a lentamente para, depois, ensinar o mesmo a Peter… Mas Jane Campion vai mais longe, porque todas estas imagens nos levam num sentido enganador para, no final, inverter os papéis de quem é que é o forte e de quem é que é o fraco, de quem usa a razão para vencer a força bruta.
Repito: um filme notável!

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Brilhante!

Pedro Brás Marques

“The Power of The Dog” (Netflix) é um filme notável, pela sua complexidade, pela profundidade do argumento, pela forma engenhosa como engana o espectador até perto do final e também por ser um tipo de produto que se afasta das produções típicas do mercado de streaming, onde a quantidade muitas vezes se sobrepõe à qualidade.

Estamos em Montana e, se não fosse um ou outro automóvel, seria impensável acreditar que a acção decorre em 1925. Dois abastados irmãos, Phil e George, conduzem uma enorme manada de gado quando param numa hospedaria, gerida por Rose e pelo filho, Peter, um adolescente frágil e cheio de tiques, que é gozado por todos, em especial pelo auto-confiante e agressivo Phil. Mas o pacato e dócil George acaba por se apaixonar por Rose, pede-a em casamento, ela aceita e passam a viver todos juntos. Phil continua a gozar com Peter e a detestar a cunhada, descobrindo o seu ponto fraco, a bebida. A razão de muita da raiva de Phil prende-se com o facto de ter perdido um amigo, mentor e amante, Bronco Henry. Num ambiente masculino como o dos vaqueiros, a sua agonia cresce e quando repara que Peter o viu nu a tomar banho, Phil muda radicalmente de atitude perante o miúdo, tornando-se como que um orientador e conselheiro de Peter nas artes dos cowboys. Mas nem tudo o que parece é…

Associar vaqueiros a homossexuais evoca, imediatamente, “Brokeback Mountain”, mas isso é enganador. Se há, aqui, referências visuais e temáticas, elas não estão na sexualidade mas nos clássicos. Jane Campion foi lá inspirar-se e o resultado é muito bom. A primeira citação é, obviamente, a de “Red River”, de Hawks, também uma história de confronto entre dois homens, um pai e o seu filho adoptivo, durante a deslocação duma imensa manada bovina. E, claro, seria impossível esquecer John Ford e “A Desaparecida”, em especial a icónica cena em que Ethan sai pela porta da cabana, filmada em contraluz. Jane Campion faz o mesmo em portas, portões e até em janelas, emulando brilhantemente a dualidade entre o dentro e o fora, entre quem entra e quem sai, entre luz e escuridão, entre o Bem e o Mal… Mas se o faz, também joga com o estereótipo do macho-alfa, do duro “Malboro Man”, alertando que, num meio quase exclusivamente masculino, a homossexualidade não seria algo de estranho…

A realizadora neozelandesa nunca foi muito prolífica, apresentando quatro filmes neste século. Mas este “The Power of The Dog” está ao nível de excelência das suas obras maiores como as longínquas “The Piano” e “The Portrait of a Lady”. Desde a fotografia, aproveitando as dramáticas paisagens de Montana, até à direcção de actores, tudo esteve perfeito. Benedict Cumberbatch tem aqui, porventura, a melhor interpretação da sua carreira. Kirsten Dunst também lhe pode agradecer, ao voltar a ter um papel que faz jus à sua excelência, o que já não se via desde que Sofia Coppola a dirigiu em “The Beguilded”. Mas o mais interessante, repete-se, é mesmo o trabalho de Campion, em especial na construção da enorme carga simbólica: Phil muitas vezes filmado dum plano inferior para lhe dar “grandeza”; ou quando está mergulhado na água do rio até aos olhos, qual predador à procura de caça; ou quando está a enfiar um grosso tronco na terra, em movimentos verticais ritmados, enquanto olha para Peter; ou quando filma as veias dos cavalos, símbolos eternos de masculinidade; ou quando nos mostra, igualmente com detalhe, Phil a fazer uma corda, intumescendo-a lentamente para, depois, ensinar o mesmo a Peter… Mas Jane Campion vai mais longe, porque todas estas imagens nos levam num sentido enganador para, no final, inverter os papéis de quem é que é o forte e de quem é que é o fraco, de quem usa a razão para vencer a força bruta.
Repito: um filme notável!

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