Reconcilição com co-responsabilidade
Jose rocha
Reconciliação mas com co-responsabilidade <br /> <br />A propósito do documentário da RTP 2 intitulado " A Vida e o Tempo de Sita Vales " do passado dia 27 de maio não posso deixar de transmitir o meu profundo agrado com a declaração do presidente joão loureiro sobre a devolução aos familiares respetivos dos restos mortais dos familiares mortos na tentativa de golpe de estado pro-soviético de 27 de maio. <br />A versão dos acontecimentos, no global, é aceitável embora peque pela ausência de articulação entre os agitadores e os ativistas intelectuais e os militares envolvidos na intentona, desde as altas patentes como o monstro imortal, o proprio Nito Alves e a brigada de militares cujos restos mortais, segundo o atual presidente de Angola, irão ser devolvidos aos familiares. <br />A versão transmitida no documentário em causa pelos ex-nitistas parece, assim, querer dissociá-los deste compromisso militar e foi este aspeto que me levou a elaborar o presente texto. É que eu estava lá e fui na semana ou semanas que antecederam o golpe contactado por um dos participantes do documentário. Com efeito, o elemento em causa foi ter comigo numa cidade que não era Luanda (Lobito) e referiu-me que iria haver um movimento no sentido de afastar atuais governantes cujas práticas estariam a desvirtuar o processo revolucionário em curso, enunciando alguns nomes: Lopo de Nascimento, Iko Carreira, Lúcio Lara. Tudo aparentemente em prol de Agostinho Neto. Aconselhou-me o jovem político a transmitir aos meus alunos do ciclo preparatório da importância deste movimento e de que os pais dos miúdos deveriam participar. Face à minha total oposição, na medida em que os miúdos em causa eram menores, rondando os 11 a 13 anos de idade, disse-me " tu ainda nos vais ser útil". E foi assim, com esta frase enigmática que o jovem ativista terminou a sua conversa. Algum tempo depois apareceu na mesma cidade a sua mulher na companhia de um cubano e, se a memória não me engana, terá sido nas vésperas do golpe. Uma vez ocorrido o golpe soube que o jovem ativista tinha sido detido. Quando transmiti este facto ao meu irmão ( que pertencia à OCA em " guerra" aberta contra os nitistas que apelidava de revisionistas e agentes ao serviço dos interesses da união soviética em Angola) este respondeu: " antes ele do que eu ... porque se eles ganhassem eu seria fusilado". Outra frase enigmática que só percebi mais tarde quando meses volvidos o 27 de maio este meu irmão foi preso por alta traição contra o Estado Angolano ao serviço da OCA (Organização Comunista de Angola) com ligações à UDP em Portugal e a organizações da mesma linha política em França. Foi preso na sequência de detenções dos elementos desta organização maoista (OCA) que se haviam iniciado antes do 27 de maio por determinação da Disa, na altura alegadamente controlada por Nito Alves. <br />Assim, voltanto ao programa quando o participante do documentário en causa (cuja identidade não explicito por uma questão de preservação do seu bom nome) diz que não sabia de nada sobre a tentativa de golpe do dia 27 eu, por um imperativo de consciência, tenho de lhe dizer que não é verdade porque, algum tempo antes do mesmo suceder, transmitiu-me que o mesmo iria ocorrer. <br />Assim, sugiro ao grupo de jovens ativistas implicados no 27 de maio que, com honra e dignidade, assumam o seu compromisso com o movimento para depôr o governo de Angola da altura. Os vossos valores, na altura, ligavam-vos aos dos partidos comunistas influenciados por Moscovo. Sabem bem que o monstro imortal era o braço direto de Agostinho Neto e que provavelmente seria ele a colocar o Neto entre a espada e a parede caso o vosso golpe vingasse. Sabem portanto que o presidente Neto iria ser deposto caso não vos apoiasse. Não queiram, assim, transmitir a ideia de ser um grupo de ingénuos jovens idealistas completamente alheios aos militares angolanos e estrangeiros envolvidos na intentona e às delegações dos Países do Leste implicadas ( já agora poderiam ter gravado no documentário em causa a intervenção do Neto no rescaldo do golpe onde o mesmo anunciou publicamente que iria transmitur as embaixadas e personalidades estrangeiras envolvidas no golpe, o que nunca veio a acontecer). <br />Não se anulem desta forma. Tiveram coragem em defender as vossas ideias mas a meu ver a inconsciência de se envolver e juntar aos agitadores lunáticos que, no próprio 27 de maio, através da rádio, convidaram a população a participar na intentona. <br />Não se esqueçam que a reconciliação só ocorrerá se as partes assumirem as suas responsabilidadesh e excessos e partilharem a cota parte respetiva. O governo atual de Angola deu o primeiro passo cabe agora aos então denominados nitistas assumir o seu compromisso na tentativa de mudança do governo de Angola numa altura em que, reconheçamos, era péssima já que decorria a guerra da independência entre cubanos e angolanos, por um lado e sulafricanos, + Unita + Tropas zairenses + mercenários, por outro. Os excessos errados e a prepotência (caça às bruxas) cometidos pelo MPLA ao esmagar a intentona tem de ter em conta este contexto ( a guerra, na altura entre cubanos e sulafricanos decorria na Serra da Gabela a poucos kilómetros de Luanda onde numa semana a respetiva serra estava nas mãos dos sulafricanos e na outra semana na dos cubanos ...) . Força! é hora de se assumir responabilidades para se tentar encerrar este capítulo ... os acontecimentos naturais são assim nesmo ... surgem e não adianta tentar desvirtuá-los. Abraço josé Rocha
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