Benedetta

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Drama 131 min 2021 M/16 25/11/2021 BEL, HOL, FRA

Título Original

Benedetta

Sinopse

Itália, final do século XVII. Aos nove anos de idade, Benedetta foi entregue ao Convento de Madre de Deus, na localidade de Pescia, Toscana. Já adulta, com uma fé fervorosa, começa a ter visões da Virgem Maria e de Jesus Cristo, que acredita tê-la escolhido para sua noiva. Um dia, chega ao convento Bartolomea, uma jovem noviça que se torna companheira de cela de Benedetta e que a acompanha em todas as horas do dia. À medida que se conhecem, as duas tornam-se cada vez mais próximas, até surgir uma paixão carnal que vai contra todos os cânones da Igreja. 
Estreado no Festival de Cinema de Cannes, e realizado por Paul Verhoeven ("Delícias Turcas", "Robocop - O Polícia do Futuro", "Soldados do Universo", "O Homem Transparente", "Livro Negro"), este drama erótico tem por base o livro biográfico “Actos Impuros” (1986), de Judith C. Brown sobre Benedetta Carlini (1590-1661). PÚBLICO

Críticas Ípsilon

Os maus hábitos de Paul Verhoeven

Vasco Câmara

Depois da contemplação em Elle, não se esperava um divertimento kitsch. Mas ainda bem que Verhoeven não se tornou chic.

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Críticas dos leitores

Bendigamos...

Pedro Brás Marques

Misturar sexo com religião é receita garantida para o sucesso de qualquer produto televisivo e cinematográfico. A grande questão que se coloca é se o produto final é pertinente e equilibrado ou se resvalou para a vulgaridade.

Ora, quando falamos de Paul Verhoeven, estamos a abordar um dos mais conhecidos funâmbulos no que a esse “bom gosto” diz respeito. Há seis anos, a propósito de “Elle”, o seu filme anterior, escrevi sobre o realizador holandês que “a sua imagem de marca já vinha de trás, um cruzamento muito pessoal de violência e sexo, muitas vezes à beira do gore e da pornografia”. Em Benedetta, tudo isto volta a ser verdade, o que abona em favor da homogeneidade estética do realizador, mas ressuscita algumas das críticas que sempre lhe fizeram ao longo da sua carreira.

O filme conta a história duma menina que é colocada num convento, onde fará toda a sua vida. Desde nova que há nela sinais de qualquer coisa mística, que se espelha na aparente capacidade de prever o futuro e de miraculosamente se salvar de situações fatais. (Aliás, o seu próprio nome já é revelador…). Anos depois, adulta, exibe estigmas idênticas às chagas de Cristo e mergulha em transes, de onde emerge carregada de culpa, em que sonha sexualmente com Jesus. A sua repressão acaba por desaguar no envolvimento físico e emocional com uma noviça, o que perdura até ser descoberta. Ou seja, será que o amor carnal e o amor espiritual são duas dimensões inconciliáveis?

Histórias sobre religiosos que se dizem possuídos de poderes vindos da divindade não são novas. Sem esquecer o louco e histórico “The Devils”, de Ken Russell (outro de quem a expressão “mau gosto” anda sempre por perto…), recordemos “Agnes de Deus” onde Jane Fonda investigava uma noviça que afirmava ter sido engravidada pelo Espírito Santo, enquanto em “L’Apparition”, Vincent Lindon era um jornalista encarregue de perceber se a Virgem Maria tinha mesmo aparecido a uma jovem religiosa, sem esquecer a série de televisão “Messiah”, onde um novo Redentor havia aparecido no Médio Oriente. Também aqui permanece a dúvida em saber até que ponto as manifestações esotéricas são, ou não verdadeiras, ou tudo não passa de fabricação de "Benedetta", para manter a aura mística que lhe é reconhecida. Verhoeven quase que nos revela a verdade, mas deixa algo em suspenso, tal qual fez com o picador de gelo debaixo da cama, na cena final de “Instinto Fatal”…

As cenas íntimas de Benedetta com Bartolomea são explícitas e numa das visões, em que se dá um combate, o sangue e a carne rasgada são impudicamente mostradas ao espectador. Como já disse, sempre foi assim, basta recordar a nudez de Sharon Stone e a de Elizabeth Berkley em “Showgirls”, ou as chacinas de “Robocop” e “Starship Troopers”. A vontade de chocar é evidente, numa vertigem de exposição por vezes a rondar o mau gosto, como quando se usa uma estatueta da Virgem como dildo... Mas há algo que é inegável: Verhoeven sabe filmar. Desde a dinâmica entre os actores, aos planos abertos e, principalmente, ao espaço que ele sabe criar em locais fechados, qualquer filme seu é um deleite visual e “Benedetta” não é excepção. As cenas na Igreja e no interior do convento são académicas. A fotografia, especialmente nos momentos de pouca luz, é maravilhosa. Quanto aos actores, dois nomes consagrados, a britânica Charlotte Rampling e o francês Lambert Wilson (inesquecível, enquanto padre, em “Dos Homens e de Deus”) mas quem leva a palma é a belíssima Virginie Efira. É a segunda vez, este ano, que a ela me refiro, após o seu brilhante desempenho no delirante “Adieu, Les Cons”. Aliás, durante toda a década passada, a actriz belga soube construir uma carreira magnífica, à razão de três a quatro filmes por ano, especialmente no campo da comédia romântica. Já tinha acompanhado Isabelle Huppert em “Elle” e, agora, Verhoeven deu-lhe o papel principal. E “Benedetta” é ela, na sua complexidade, na sua loucura, na sua culpa, no seu desejo libidinoso. Não faltará muito, estou certo, para Virginie Effira atingir outros voos.

Um filme que podia ter sido muito maior, tivesse havido vontade de mergulhar de forma mais profunda na espiritualidade das personagens em vez de se investir na plasticidade e na superficialidade das exibições voyeurísticas, por muito belas que sejam.

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bom

helena

Intenso, ambíguo, a deixar espaço a múltiplas interpretações. Arte.
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2 estrelas

José Miguel Costa

O octogenário holandês Paul Verhoeven (que se transformou num cineasta estratosférico graças ao célebre descruzar de pernas da Sharon Stone no filme "Instinto Fatal") regressa aos grandes ecrãs, cinco anos após o excelente "Elle", com um drama de época de cariz erótico-religioso ("Benedetta"). <br />Uma obra inspirada na história veridica de uma freira italiana do século XVII, que após ser percepcionada pelos conterrâneos como uma figura santificada (devido às suas visões de Jesus e por apresentar múltiplos estigmas), caiu em desgraça com as acusações de blasfémia e de conduta lasciva por manter relações sexuais com uma noviça. <br /> <br />A força deste filme provém exclusivamente das cenas (alegadamente) polémicas de indole sexual num contexto sagrado, já que tudo o resto revela-se um total desapontamento para com o "mestre da manipulação". <br />A narrativa encontra-se recheada de patéticos/descontextualizados diálogos que roçam a irrisão e a reconstituição de época, bem como a fotografia, são quase amadoras (será tal facto propositado, em nome de um qualquer statement?).
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Magnifica estória para devotos

Raul Gomes

Mais uma manipulação, das inúmeras, a que toda uma época de ignorância, se abateu sobre uma religião, servindo-se da ignorância/medo dos seus acólitos. <br />Mas um belo filme de Verhoeven, que mais uma vez nos retrata mulheres fortes e determinadas. <br />Mas como digo sempre, sou ateu, graças a Deus, mas não deixa de me interessar estas iníquas estórias, ainda para mais bem contadas e melhor realizadas.
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Benedetta

Fernando Oliveira

Nos últimos vinte anos, e até “Benedetta”, Paul Verhoeven realizou dois filmes magníficos: “Livro negro” em 2006 e “Ela” dez anos depois (há um pelo meio que não conheço). Posto isto, até “Benedetta” são estes dois os únicos filmes que gosto do realizador; uma das coisas que tive maior dificuldade em perceber e aceitar em Cinema nos últimos anos foi a reavaliação que a critica fez aos filmes anteriores do realizador depois da estreia do filme de 2016. Os dois filmes que conheço da fase inicial na Holanda são aquilo a que alguém chamou espalhafato mentecapto; e nos EUA qualquer dos filmes em que os personagens principais são homens (“Amor e sangue”, “Robocop”, “Desafio total”, e “Soldados do universo”) é só escolher qual deles é o mais abjecto. Mostrando que Verhoeven gosta de filmar mulheres fortes desafiando a misoginia dos homens (também a sua, presente nos outros filmes de forma mais ou menos intensa) são “Instinto fatal” (e o descruzar e cruzar de pernas da personagem interpretada por Sharon Stone não será uma das mais importantes provocações no Cinema americano da época, um desafio de uma mulher perante um “mundo” controlado pelos homens?), e “Showgirls” (a mesma provocação contada de outra maneira), os dois filmes em que no meio dos seus muitos defeitos conseguimos gostar um pouco. <br />Depois a vertigem moral que atravessa “Livro negro” e “Ela”, com personagens femininas tão sofridas quanto fortes, vulneráveis mas capazes de serem cruéis. Mulheres que tanto podem ser as vitimas como quem manipula a narrativa. São mulheres que nos provocam quando nos questionam sobre a sua verdade. Também é assim Benedetta Carlini, uma freira que na Itália do século XVII assolada pela peste foi primeiro associada a milagres e depois acusada de blasfémia e lesbianismo. <br />No inicio do filme, Benedetta é ainda uma criança, vai entrar por sua vontade num convento de Pescia porque acredita que fala com a Virgem. Na primeira noite, quando reza a uma imagem da Virgem esta cai sobre ela sem a esmagar, é o primeiro “milagre”. <br />Dezoito anos passam. Numa encenação da morte da Virgem, interpretada por Benedetta, ela tem a primeira visão de Cristo que fala com ela. Nesse dia, uma rapariga irrompe no convento pedindo que a recebam porque era violada e violentada pelo pai e pelos irmãos. Bartolomea tornar-se-á a aliada, a parceira e depois a amante de Benedetta. <br />Benedetta então? Por um lado, Verhoeven deixa-nos num estado de suspense, de incerteza, sobre a sua crença. Benedetta “recebe” de Cristo os estigmas, as cinco chagas que o marcaram durante a crucificação, uns acreditam por fé, outros por interesse, outros chamam-lhe mentirosa, mas e ela, acredita? Saberemos que ela é a causadora das feridas, mas também percebemos que acredita sinceramente que fala com Cristo, e na última cena, quando regressa a Pescia, diz a Bartolomea que mesmo que a condenem à fogueira, as chamas não lhe tocarão, Cristo protege-a. <br />Por outro lado será uma mulher que, como diz Verhoeven, quer ter prazer, e que utiliza a sua crença numa relação “pessoal” com a Virgem e com Cristo para ter o poder de fazer o que quiser. Quando é nomeada abadessa, deixa os aposentos comuns e fica com um quarto só seu. Pode entregar-se aos prazeres do sexo com Bartolomea. Ou podemos encontrar no filme uma comparação entre os espasmos místicos de Benedetta, e os orgasmos que Bartolomea lhe dá? <br />“Benedetta” é sobre uma mulher que historicamente causou bastante perturbação na Igreja, e que é o primeiro caso documentado de lesbianismo na Europa. Que na história contada no filme, sabe manipular os jogos de poder na defesa da sua verdade (religiosa, física e emocional), sabe encenar a mentira (que também é a sua verdade) impondo-a como uma verdade para os outros, usando o medo da peste, o temor a Cristo. Salva Pescia da peste, salva-se da fogueira, mas vive o resto da vida quase em isolamento. <br />Actrizes estupendas – Virginie Efira é Benedetta, Daphne Patakia é Bartolomea (e é espantosa a liberdade que vemos nas cenas de sexo), Charlotte Rampling é a freira Felicita (a abadessa do convento antes de Benedetta) e Louise Chevillote é a freira Christina (filha da abadessa, não acredita nos milagres, é punida e depois suicida; é a vingança da mãe que precipita a “queda” de Benedetta) – noutro magnifico filme de Verhoeven. <br />(em "oceuoinfernoeodesejo.blogspot.pt")
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Sacrilégio!! <3

Inês Junqueiro

Há muito tempo que um filme não me dava tanto gozo. Adorei que seja um filme feminista, que se coloca nessa posição por meio dos códigos mais misóginos da sétima arte (os que o público compreende, talvez?).
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