Hiroshima, Meu Amor
Título Original
Hiroshima, Mon Amour
Realizado por
Elenco
Sinopse
Críticas Ípsilon
Críticas dos leitores
Hiroshima, meu amor
Fernando Oliveira
Em “Noite e nevoeiro”, curta-metragem de 1955, ao filmar a cores a invasão das ervas e dos arbustos nas ruínas do campos de extermínio nazis, contrapondo imagens a preto e branco do genocídio judeu, Resnais retratou como nunca o cruel papel do tempo no progressivo apagar da memória, mas ao mesmo tempo sublinha como a dor do vivido permanece.
Todos os filmes do realizador que conheço, pelo menos até “Muriel”, são como que estudos disso mesmo: digressões pela forma como balanceamos o inexorável movimento do tempo e a presença constante do que já vivemos – a nossa memória. Associado apressadamente à “Nouvelle Vague”, Resnais, muito mais do que alguém que utiliza a memória cinéfila para abrir novos caminhos para o Cinema, é alguém que o utiliza para documentar as complexidades das formas da memória, e de como cada personagem consegue, ou não, ultrapassar a sua unicidade em relação à história colectiva.
Em “Hiroshima, meu amor” ele diz-lhe: “tu não viste nada em Hiroshima”; Ela responde-lhe: “sim, vi tudo…”; Ele viveu o cataclismo de Hiroshima; ela viveu uma tragédia, um amor proibido em Nevers, nas margens do Loire, em França. Agora eles amam-se; uma história de amor que nasce do caos da memória, e da dor do que (não) se quer esquecer; e a memória trágica e o seu amor hoje tornam-se indistintos, naquela mistura onde o “é”, o “foi”, e o “onde” são unos numa perplexidade moral e imagética, onde Resnais (escancarando portas para novas formas e linguagens cinematográficas) mistura as imagens e os sons do que é visto, ou não visto, dito, ou não dito (e é tão bonito a forma como as “cicatrizes” das personagens interpretadas por Emmanuelle Riva e Eiji Okada se confundem e apenas se apaziguam nos acontecimentos que vão definindo a sua intimidade), numa ficção que às vezes parece um documentário, mas que sentimos não ser uma coisa nem outra, e, por vezes, ambos ao mesmo tempo. Há um sentir fascinante e que sou incapaz de descrever, cada vez que a este filme volto.
O mais parecido que conheço é a sensação que nos desperta o olhar o mar, e que nos faz estar tempos sem fim a contemplá-lo. Um filme extraordinário, que também, até porque é de memórias que falamos, tem um valor simbólico em Portugal: já retalhado pela censura tinha estreia programada para 25 de Abril de 74. Houve quem trabalhasse sem parar para que o filme estreasse completo dois dias depois. De certeza uma memória muito importante para muito cinéfilo a viver por esses dias os primeiros ventos da liberdade. (em "oceuoinfernoeodesejo.blogspot.com")
Hiroshima, meu amor
António Pascoal
No estilo da Nouvelle Vague, os diálogos existencialistas e o par loura/moreno completam o padrão. O que este filme tem de excelente é o seu psiquismo, a evocação do trauma e a impecável fusão dos dois amantes na mesma mulher. Como se o primeiro anulasse o presente (o japonês), e o amante japonês ressuscitasse o passado (o alemão). Ela é a ponte que os une e que confirma a impossibilidade amorosa.
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