O elogio da crítica (e da Meryl, e da Anne)
R. Colaço
Depois da crítica do Jorge Mourinha não fica muito a dizer: lera-a ontem no "Público" e pensara precisamente: "e está tudo dito!". Mas talvez existam ainda duas ou três coisas que ficaram por dizer (e acho que a crítica, qualquer crítica, entra sempre nesse ponto, e talvez seja esse o objectivo da crítica, e a resposta a quem critica críticos por criticarem: a crítica ajuda a ver onde de outra forma penas se olharia): Garry Marshall, que está presente n'"O Diário da Princesa" e em "Pretty Woman". Será que durante este "Diabo Veste Prada", quando o patinho feio se transforma em cisne - numa sequência de "momentos de moda" fabulosamente conseguida e fabulosamente conseguidos - fui o único a pensar noutra sequência, já lá vão uns anos, de uma ruiva deslubrante a passar de mulher da rua a Carrie Bradshaw (que no entretanto chegou e foi-se), Rodeo Drive abaixo?<BR/><BR/>E a Miranda Priestly (que já toda a gente sabe, está colada a Anna Wintour - e aqui um ponto - sendo ou não ela, será que se importa? A fama de "bitch" nunca desabonou a carreira de quem quer que fosse... E afinal foi a própria Wintour que compareceu à antestreia de "Devil Wears Prada" vestida em... Prada) não lembrará também - ou não lembrará antes? - a Madeline Ashton d'"A Morte Fica-vos Tão Bem"? Beleza, beleza e mais beleza em ambos, uma Meryl Streep absolutamente per-fei-ta (e se o passar do tempo é incontornável, o "estar bem" está absolutamente ao alcance da cada um - basta dinheiro - para comprar poções mágicas a Isabella Rosselini - ou "designers clothing" - 25000 dólares mensais para roupa e acessórios é a quantia que a directora da Vogue USA recebe, fora presentes de dezenas e dezenas de anunciantes e aspirantes a criadores...).<BR/><BR/>Será mais meritório ser a mãe desesperada de Ayers Rock n'"Um Grito de Coragem" que a rainha de Manhattan? É que o cinema (como, em tempos, a ópera) tem, sobretudo, a função de entreter: ensinar, enlevar, edificar, são "sidejobs" que pode concretizar ou não. Mas são bónus. E aí entra "O Diabo Veste Prada": um soberbo colorido "fashion", a princesa Anne Hathaway, a rainha Streep, uma história ritmada nas incontornáveis NY e Paris (até as AbFAb fizeram questão de filmar nas duas cidades: o "clack" dos saltos Jimmy Choo nunca soa tão bem como numa "benefit" no MoMA ou no "lobbie" do Plaza Athenée...), uma bestial vontade de renovar o guarda-roupa quando acaba o filme...<BR/><BR/>Dois mimos: Stanley Tucci (irrepreensível) e o "príncipe" Adam Grenier (ou não estivessem lá todas as outras referências a conto de fadas: um conto de fadas "Sex n the City", mas ainda assim, um conto de fadas). E a Bundchen com sotaque de Cardinale. Not bad. Not bad at all...
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