O melhor de The Fighter, Million Dollar Baby e Rocky
David Bernardino
<p>Foi quando consultava as estreias da semana que me deparei com o desprezível poster de "Warrior". Veja-se: dois homens musculados, em tronco nú, num filme chamado "Warrior" e cujo subtítulo português é "Combate Entre Irmãos". Bem, digamos que Warrior se enterrou bem fundo com uma imagem destas para primeira impressão. Foi quando vi por alto algumas opiniões e notas atribuídas ao filme que pensei que talvez a coisa não fosse assim tão linear quanto isso, pois na sua quase totalidade o filme era tido em grande estima, com pontuações elevadas e o surpreendente rating de 8.3 no IMDb, que o coloca no top 250 filmes de sempre. E confirma-se: "Warrior" é um grande filme.<br /><br />Tom Hardy e Joel Edgerton interpretam dois irmãos separados há 14 anos, criados por um pai alcoólico, interpretado por Nick Nolte, que os ensinou a lutar desde muito novos. O primeiro tornou-se um solitário Fuzileiro e o segundo um professor de física, casado e pai, que actualmente se encontra em sérias dificuldades financeiras. Quanto ao pai, esse foi abandonado por ambos os filhos, que o ignoram e cortaram com ele todas as relações, preferindo esquecê-lo. É quando Tommy (Tom Hardy) regressa a casa do pai 14 anos depois que a trama se desenvolve, e o maior torneio de Artes Marciais Mistas da história terá lugar.<br />Mais que um filme de desporto, Warrior é um grande filme dramático com brilhantes interpretações de Nick Nolte (nomeado para Óscar de melhor actor secundário) e Tom Hardy, o actor britânico que já havia feito um bom papel em "Inception" e que agora se prepara para interpretar Bane, o vilão do próximo filme de "Batman, The Dark Knight Rises", e que está sem dúvida a afirmar-se como uma estrela em ascensão. Todos os diálogos e cenas em que Nick Nolte aparece estão fantásticos. A personagem de pai velho, abandonado e arrependido que se esforça para que os filhos o aceitem e o voltem a amar está soberbamente encarnada pelo actor, criando finos laços entre as suas relações familiares e o espectador que se deixa sem dúvida comover.<br /><br />Tommy é também excelente. O actor Tom Hardy constrói um lutador imparável, dir-se-ia até invencível, aparentemente quase sem sentimentos, revoltado e enfurecido pela infância que teve. Um lutador que mais se assemelha a um cão raivoso sombrio que a um homem. Já Brendan, interpretado por Joel Edgerton, apesar de também estar bem, não consegue estar ao nível dos outros dois. Talvez devido à sua personagem ser mais "normalizada" (Brendan é o underdog, um lutador retirado de competição em quem ninguém acredita) o actor acaba por ter menos espaço de manobra, ou então as suas capacidades enquanto actor não vão realmente ao encontro dos seus pares. Inclinamo-nos mais para esta segunda opção. Os dois irmãos têm de resto uma única cena de diálogo ao longo de todo o filme que reforça a carga emocional e de separação entre os dois, cena essa mais uma vez soberba.<br /><br />Os diálogos e a vertente dramática, muito mas mesmo muito bem explorada, seriam em principio o ponto alto do filme. Seriam, não fossem as cenas de combate também excepcionais, de um realismo e movimento de câmara original que nos impressiona bastante, como se realmente estivéssemos a assistir a combates de UFC na SIC Radical, esquecendo-nos de que quem está a lutar são na verdade actores. Nota positiva ainda para a dedicação de ambos os actores em aprender artes marciais e principalmente para Tom Hardy e o seu rigoroso treino físico, aparecendo no ecrã com uma musculatura monstruosa, propositadamente para o filme, fazendo com que nos lembremos de "method actors" como Adrian Brody em Predators ou Christian Bale em Dark Knight e Maquinista.<br />Realce ainda para a envolvente banda sonora.<br /><br />No entanto "Warrior", apesar de ser um filme bastante querido, não é um mar de rosas. Existem algumas inconsistências que é impossível ignorar, como por exemplo Tommy ter sido campeão imbatível de luta greco-romana na sua juventude e apenas por ter alterado o seu apelido actualmente entra no torneio como um anónimo, desconhecendo-se qualquer dado sobre ele, o que acaba por ser ridículo. O realismo da cena final acaba também por deixar algo a desejar. E infelizmente "Warrior" acaba por padecer, ainda que pouco, de um mal que contamina irritantemente os filmes de combate, seja esse os sucessivos cortes dos emocionantes combates para vermos a reacção de personagens secundárias, por vezes extremamente irritantes, irrelevantes e que acabam por ser cómicas e de mau gosto, que estão a acompanhar os combates em casa. Ainda assim nada que se compare com o hediondo "Cinderella Man", talvez o mais nojento filme dramático de combate a que já tive a infelicidade de assistir.<br /><br />"Warrior" na verdade acaba por ser um apanhado do melhor que é feito em "The Fighter", "Rocky" e "Million Dollar Baby", por todos os motivos já referidos anteriormente, e não deixa de ter um cheirinho, ainda que pouco, de sentimento Hollywood (malditos cortes para ver as reacções das personagens secundárias), mas isso não é necessariamente mau, antes pelo contrário. Faz com que este seja um filme interessante, viciante e atrevo-me a dizer inspirador, com uma carga dramática muito bem doseada e que acaba por percorrer positivamente diversos géneros de cinema.<br />Objectivamente "Warrior"pende entre o bom e o muito bom, 3 e 4 estrelas. Todavia, tendo em conta a minha opinião pessoal acabo, e com muito agrado, por atribuir a nota superior e com esperança que justiça seja feita e Nick Nolte seja galardoado.<br /><br />Critica originalmente publicada no blog retroprojeccao</p>
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