Nascida em Alagoas, no nordeste brasileiro, Joana Zeferino da Paz (1925-2023) viveu mais de três décadas junto à favela Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana. Aos 80 anos, cansada de ser aterrorizada pelos vários gangues do bairro que se impunham pela força, resolveu comprar uma câmara de VHS e filmar, através da janela da sua cozinha, as constantes movimentações de tráfico de droga, extorsões e confrontos armados entre os criminosos. 

As gravações que fez durante esses meses foi depois entregar às autoridades, que as usaram para identificar e prender mais de 30 delinquentes, traficantes e alguns agentes da polícia militar envolvidos em esquemas de corrupção. Ao seu lado, teve um jornalista de quem se tornou amiga e que, com a sua ajuda, escreveu uma grande reportagem sobre o assunto. Durante o processo, para a proteger de retaliações dos bandidos, foi colocada num programa de protecção de testemunhas e assumiu o nome de Vitória, vivendo o resto dos seus dias sob anonimato em Salvador, no estado da Bahia.  

Dona Vitória faleceu aos 97 anos, em Fevereiro de 2023, quando a sua identidade pôde ser finalmente revelada. Em Agosto de 2024, a assembleia legislativa do Estado do Rio de Janeiro concedeu-lhe o Prémio Construtor da Paz, pela sua demonstração de coragem ao agir activamente contra o crime.

Projecto iniciado por Breno Silveira – que faleceu de ataque cardíaco em Maio de 2022, no primeiro dia de filmagens –, “Vitória” acabou por ser realizado por Andrucha Waddington. Com Fernanda Montenegro no papel de protagonista, este docudrama conta com Alan Rocha, Laila Garin, Thawan Lucas e Linn da Quebrada nos papéis secundários. PÚBLICO