Filme duro e magnífico.

Kantemir Balágov, de apenas 28 anos, é um dos nomes mais interessantes da nova cinematografia russa.<br /><br /> No seu filme “Violeta”, um (não-convencional) drama histórico, cuja acção decorre na Leningrado do pós 2ª guerra mundial (1945), enreda-nos (recorrendo a um magnifico realismo barroco) no patológico turbilhão relacional entre duas jovens mulheres solitárias, com drásticas carências materiais e emocionalmente destruídas (que se conheceram enquanto soldados no campo de batalha), dispostas a (quase) tudo para refazer/dar sentido a uma “nova vida” (quiçá, em conjunto) e atenuar a dor dos seus traumas. <br /> <br />É uma obra dura e crua (a roçar o apocalíptico). Embora os sinais de destruição e/ou violência sejam praticamente inexistentes, basta-lhe colocar-nos à mercê da desestruturada conduta comportamental da dupla de protagonistas (perscrutadas por uma câmara que as “esmiúça ao milímetro”) para que sintamos constante inquietação. <br /> Paradoxalmente, em simultâneo, deixa-nos aterrados com a beleza da sua fotografia, que joga com uma disparidade visual (alternando imagens quase monocromáticas - sobretudo ocre e cinzentos - com autênticos “quadros vivos” pincelados a verde e encarnado) que acentua a sensação de loucura/estranheza omnipresente ao longo de toda a película.