Operação militar histórica
Nazaré
O famoso atentado de 1944 contra Hitler, reconstituído com minúcia e aparentemente muito realista. Num meio quase exclusivamente masculino, onde em tempo de guerra as paradas são sempre muito altas, vê-se todo o tipo de homens, e todo o tipo de enfrentamentos: cumplicidades, esquivas, ameaças, fintas, devoções, denúncias, fugas, e mais, e mais... um bom retrato da guerra, se formos a ver. Este filme mostra-nos uma perspectiva, rara em cinema, do lado do exército de carreira alemão durante a II Guerra Mundial, na ambiguidade de cumprirem o dever de militares e ao mesmo tempo repugnar-lhes a lógica política, não só a do nazismo mas também, convenhamos, a dos políticos de carreira reduzidos a uma oposição residual. Compreende-se como o regime todo-poderoso criado pelo partido nazi - protótipo da sociedade opressiva que Orwell marcou para 1984 mas inspirava-se em algo que esteve presente bem antes, naquela Alemanha esmagadora, inelutável, maldita - gerava em todos (salvo o círculo mais íntimo do Hitler) uma aspiração a poder acabar com tal mundo. E, apesar do medo das represálias impiedosas, não era difícil encontrar quem acreditasse que era desta. No filme dão-nos a entender que foi Carl von Stauffenberg quem fez a diferença. Tom Cruise assume esse protagonista, encarnando pela enésima vez a figura do herói que joga por dentro da máquina mas permanece fora da engrenagem; como sempre é muito igual a si mesmo, mas domina a acção com grande competência, conjugando na perfeição o aprumo de militar com as dificuldades físicas da mutilação. Como operação militar, está muito bem reconstituída e só mesmo a incrível sorte do ditador a fez falhar. É sabido, não há operação militar que corra conforme o planeado. Mas, consultando as fontes históricas, os conspiradores já iam tarde demais, na sua ilusão de poderem parar a guerra em termos honrosos para a Alemanha: os Aliados já estavam na Normandia e não iriam parar enquanto não atingissem Berlim e a fizessem cair de joelhos.
A bela canção do final faz referência ao reconhecimento que os conspiradores merecem, principalmente na Alemanha, por terem mostrado às gerações futuras que nem todos os alemães eram aquilo que o nazismo queria fazer deles. Esse testemunho, conquistado à custa das próprias vidas, foi historicamente fundamental. A realização é espectacular e cuidada, embora abuse dos efeitos sonoros. Para além de Cruise, destaque para o elenco repleto de actores respigados de várias televisões, aonde se juntam, entre outros, um interessantíssimo Tom Wilkinson (Fromm, o general oportunista), a boa presença de Terence Stamp (Beck, o general reformado Beck), e a natação olímpica de Thomas Kretschmann.
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